Streamings reajustam preços e se aproximam da TV paga
Plataformas de VOD encarecem a medida que o cenário torna-se mais competitivo e tentam diferenciar-se em investimentos no conteúdo
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Thaís Monteiro
28 de junho de 2024 - 6h40
Em dez anos, a quantidade de assinantes da TV paga no Brasil caiu dos 19,6 milhões, em 2014, para 9,5 milhões, em maio deste ano, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A queda foi de 51%. O principal responsável apontado por essa erosão na TV por assinatura é o streaming.
No ano passado, o IBGE informou que cerca de 31,1 milhões de indivíduos tiveram acesso a serviços de streaming pagos em 2022. Em média, o brasileiro assina cerca de oito serviços de streaming, aponta levantamento da Comscore, feito em parceria com a Siprocal.
Nesses dez anos, o modelo de negócios do streaming mudou. Desde 2022, as empresas começaram a incorporar espaços publicitários e, assim, oferecer planos um pouco mais acessíveis com a contrapartida de que o usuário consumirá o conteúdo e as mensagens publicitárias.
Adicionalmente, neste primeiro semestre, Netflix, Prime Video, Disney+ e Max, em meio ao cenário altamente competitivo, aumentaram o valor de suas assinaturas mensais sob a justificativa de que investirão mais em conteúdo de qualidade.
Em maio deste ano, o Canaltech fez a conta dos planos básicos (com anúncios) e os planos premium dos streamings Apple TV+, Prime Video, Crunchyroll, Disney+, Globoplay, Max, Looke, Netflix e Paramount+. O montante das assinaturas consideradas básicas foi de R$ 199,19 ao mês. Já para assinar os melhores planos, o valor chegaria a R$ 493,68 por mês. Os planos da Vivo e da Claro para a TV por assinatura variam entre R$ 109 e R$ 290 por mês, na mesma comparação.
Ainda que os modelos de negócio se aproximem, há diferenças notáveis nas modalidades streaming e TV por assinatura, a começar pelo conteúdo sob demanda, ou seja, não linear, e as possibilidades de recomendação e personalização baseadas nos dados de consumo do usuário. Esses dados, mais detalhados, também servem de insumo para criar produções. O analista sênior de insights da Parrot Analytics, Lucas Mascarenhas, diz que outras diferenças incluem as modalidades de assinatura e a possibilidade de cancelamento sem pagamento de multas.
Esses aumentos ocorrem em contexto de alta competitividade, quando há um movimento de fusões e aquisições entre os players para tornar as plataformas mais valiosas aos olhos do consumidor, que procura a maior quantidade e qualidade de conteúdo pelo melhor preço. A indústria tenta equilibrar concorrência, disputa por atenção, economia e altos custos de produção com geração de receitas. Além disso, existe o custo operacional.
No entanto, segundo o coordenador do curso de cinema da Faap, Humberto Neiva, apesar de considerar as grandes produções custosas, ainda não há justificativas para os aumentos de preços. “Não temos como saber quanto um produtor vendeu, quanto o streaming tem de retorno financeiro com a compra que fez. Não se justifica. Há, ainda, demanda por assinatura dessas plataformas. Vemos isso diretamente nas rendas e no público do cinema tradicional. Essas fusões e aquisições dão aumento considerável de oferta para o assinante. E as plataformas têm grande retorno. Se não, não fariam produções tão numerosas e grandes num período de crise, caso essa fosse a justificativa”, argumenta.
Para tentar se diferenciar ante tanta oferta similar, o Prime Video passou a se posicionar como hub de conteúdo para agregar diversos serviços numa só assinatura. A dinâmica se assemelha ao combo de canais por assinatura, com a diferença de que, agora, a soma dos planos de alguns streamings supera o valor de pacotes oferecidos pelas operadoras de TV paga. Em maio, a The Walt Disney Company e a Warner Bros. Discovery anunciaram que lançarão, no próximo semestre, pacote que une seus serviços (Disney+, Hulu e Max) mais o conteúdo oferecidos em TV aberta e a cabo nos Estados Unidos. Também para o segundo semestre, Warner Bros. Discovery, ESPN e Fox Corp. planejam lançar streaming esportivo conjunto.
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“Esse panorama cria maior competitividade entre os principais players que estão em uma corrida para se manterem sustentáveis a longo prazo. Aqueles que não conseguirem se colocar nas primeiras posições terão que repensar estratégias e modelos de monetização para além da assinatura”, avalia Mascarenhas.
Uma alternativa é manter os preços competitivos, estratégia adotada pelo Globoplay com ofertas diferentes que se adaptem aos diferentes bolsos dos consumidores.
“O ambiente de consumo está fragmentado e a disputa de todos os players é pela atenção do consumidor. Para isso, seguiremos investindo em conteúdo nacional de qualidade, feito por brasileiros para brasileiros, e que reflete a jornada do público, acompanhando de perto seus hábitos para garantir entrega conveniente e personalizada, maior oferta em quantidade e qualidade de esporte, entretenimento e jornalismo”, afirma a diretora do Globoplay, Teresa Penna.
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