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Mídia

Veículos X plataformas: vivemos uma subversão dos direitos autorais?

Plataformas e influenciadores com direitos de transmissão de programas aponta para estratégias de audiência, ganho de relevância em diversos canais e fortalecimento de marca


23 de novembro de 2022 - 13h01

A televisão assistiu a concorrência pela atenção do público aumentar com a chegada dos streamings, mas algo vem chamando mais a atenção das emissoras para a divulgação de alguns formatos. Conteúdos sendo disponibilizados em plataformas digitais indicam a quebra de uma tradição que, há tempos, foi um impasse: os direitos autorais e de uso de imagem.

Casimiro tem direitos autorais do MasterChef

Casimiro reagiu à temporada de 2022 do MasterChef Profissionais (Crédito: Reprodução)

Um exemplo prático disso foi o lançamento de Masterchef no YouTube. No dia que sucede a exibição do reality na televisão, a Band passou a disponibilizar os episódios do programa no YouTube, em um canal oficial. Não demorou até que ele chegasse ao mais recente fenômeno da internet, Casimiro Miguel. Em agosto, a Band convidou o streamer para reagir ao MasterChef na Twitch.

A fórmula, ainda que nova, é clara: alcançar um público mais amplo. “Sabíamos da vontade dele [Casimiro] de voltar a fazer os reacts e entendemos, através de um profundo estudo, que as audiências eram complementares a da TV aberta, Discovery Home & Health, YouTube e Twitch”, comenta Viviane Groisman, diretora de marketing do Grupo Bandeirantes de Comunicação. O sucesso foi imediato. Os vídeos das reações de Casimiro no YouTube, no canal Cortes do Casimito, somam mais de 600 mil visualizações.

De acordo com Viviane, os produtores de conteúdo são hoje novos players no mercado que agregam ao resultado final do produto. “Atualmente, não importa a origem do conteúdo – TV aberta ou digital – e sim o engajamento. Tudo ajuda na construção da marca”, complementa.

Nos últimos anos, as emissoras entenderam o valor das parcerias com criadores de conteúdo. Os próprios vinham sofrendo com as restrições das próprias plataformas. O youtuber Felipe Castanhari teve vários vídeos derrubados por conta de direitos autorais, por exemplo. Recentemente, Casimiro foi banido da Twitch em uma transmissão do Brasileirão e só teve sua conta reativada 30 minutos depois.

“Hoje, não tem como se fazer um reality e não chamar alguém para comentar”, aponta Rafa Dias, diretor geral da rede Dia Estúdio. “Na estreia de conteúdos, via de regra, todo mundo quer estar nos Trending Topics. […] Isso não vai acontecer se não for um assunto, se não for comentado”, acrescenta. Entre os veículos que apostaram na estratégia está o Multishow, da Globo, ao lado da Diva Depressão para reagir ao programa Se Sobreviver, Case. Contudo, a Globo é uma das emissoras ainda resistentes neste sentido.

Estratégias complementares

Para Wallison Felicio, head de conteúdo e estratégia editorial da Vibra Digital, o importante é construir uma estratégia pensando nos gatilhos necessários para captar a atenção do público. Assim, é possível oferecer mais conteúdo relevante transportando a audiência para o material completo onde ela decide como e quando assistir. Segundo ele, a estratégia fomenta o consumo garantindo as múltiplas possibilidades de interação.

Mais do que nunca, a Internet é uma grande aliada da televisão. Um estudo da Mediasmart ao lado da Logan mostra que as TVs conectadas avançam em preferência do usuário da América Latina. Até o final de 2020, a região contava com 104 milhões de SmartTVs, aparelhos de televisão com acesso a uma conexão com a internet e que podem transmitir conteúdo digital.

“Foi-se o tempo em que a TV aberta eram só 4 opções de canal. Atualmente, o aparelho de televisão está na sala mas está conectado à internet – 50% do consumo das SmartTVs vem do YouTube, salienta Rafa, do Dia Estúdio. O diretor endossa que a Internet tem um poder de dar relevância às pessoas que não aconteceria com tanta potência na TV apenas.

Desde 2018, o Dia Estúdio é o responsável por colocar o reality Corrida das Blogueiras na rua. Exclusivo do YouTube, o programa criado pelos youtubers e influenciadores digitais Eduardo Camargo e Filipe Oliveira, do canal Diva Depressão, está em sua quarta edição. Nesse sentido, a estreia da temporada mais recente acumula 880 mil visualizações e mais de 9 mil comentários na plataforma.

Subversão dos direitos autorais?

Não é só de realities que as parcerias vivem. No segundo semestre, a Band se uniu ao Google e YouTube para realizar a transmissão dos debates entre os candidatos à presidência da República. Conforme indica a emissora, o encontro entre os então candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro registrou quase 2 milhões de usuários simultâneos apenas no canal do Brand Jornalismo.

A CNN Brasil é um veículo que também aposta em transmissões ao vivo e gratuitas de seus programas nas plataformas digitais. Isso não só é uma maneira de fortalecer a marca, mas também de dar mais visibilidade ao fazer jornalístico e ampliar acesso a notícias.

“A mídia já está caminhando, sim, para um modelo de parcerias entre veículos e plataformas”, alerta a diretora de marketing Viviane Groisman sobre mudanças nos direitos autorais. A visão é complementada pelo diretor da Vibra Digital: “Os caminhos são diferentes, porém sempre suplementares à força que o alcance novo propõe. Isso valoriza o conteúdo nas plataformas próprias e garante mais atenção para as janelas de transmissão da Band e dos parceiros que dividem esses direitos”, ressalta Wallace.

O futebol também é um conteúdo que vem sofrendo modificações. Até então, os clubes cediam direitos de transmissão dos jogos para a televisão, e hoje o cenário muda para ter mais alcance de audiência e relevância em plataformas digitais. Durante a Copa do Mundo de 2022, inclusive, Casimiro transmite 22 partidas do torneio na Twitch, em parceria com LiveMode e Fifa.

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