Universal e TikTok: as implicações da relação entre plataformas e gravadoras
Retirada de músicas da rede social impacta creators e abre debates sobre remuneração dos artistas pelas plataformas sociais
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Bárbara Sacchitiello
8 de fevereiro de 2024 - 6h00
Há alguns dias, a Universal Music comunicou que as canções de artistas do seu catálogo, como Taylor Swift, Lady Gaga, Coldplay, Harry Styles, não estariam mais disponíveis no TikTok.
No fim de janeiro, chegou ao fim o contrato de licenciamento mantido entre as duas partes e a gravadora já vinha, há algum tempo, dando sinais de que não estava satisfeita com os termos propostos pela rede social.
No centro dessa questão está, principalmente, a remuneração feita pelo TikTok à Universal Music, que seria uma “questão crítica”, nas palavras da gravadora.
Em carta aberto, a Universal acusou o TikTok de “tentar construir um negócio baseado na música sem pagar um valor justo”. A empresa diz, ainda, que o TikTok se propôs a pagar aos artistas “uma fração da taxa que as principais plataformas sociais, em situação semelhante, pagam”.
Em comunicado divulgado no fim de janeiro, a rede social alegou que as declarações da Universal Music não eram verdadeiras. É triste e decepcionante que o Universal Music Group tenha colocado a sua própria ganância acima dos interesses dos seus artistas e compositores”, disse a plataforma.
A falta de entendimento entre o TikTok e a Universal Music, que levou à retirada das músicas do catálogo, é uma questão complexa que envolve divergências quanto à remuneração e à importância da visibilidade oferecida pela rede social aos artistas.
Cynthya Rodrigues, head comercial Latam da GMD, aponta que, nesse caso, a Universal parece focar nos ganhos financeiros enquanto alguns artistas valorizam a visibilidade e o potencial impacto positivo nas demais plataformas.
Ela pontua que a ausência do estrelado portfólio de artistas da Universal no TikTok pode resultar em impactos significativos. “Em primeiro lugar, os usuários da plataforma podem notar a falta de músicas populares e viralizadas associadas à gravadora, o que pode diminuir o apelo da plataforma para alguns. Além disso, os próprios artistas da Universal podem perder uma importante ferramenta de promoção e exposição, o que pode afetar sua visibilidade e carreiras”, pontua.
A falta de entendimento entre a rede social e a gravadora é reflexo de um cenário digital em constante evolução, na opinião de Fabiana Baraldi, diretora de planejamento, social e insights da Innova AATB. Ela pontua que o TikTok, inicialmente aclamado como fenômeno de entretenimento, agora se encontra no centro de uma batalha entre arte, liberdade de expressão e direitos autorais.
“Essa falta de entendimento, embora não seja uma novidade, coloca em evidência a questão de propriedade no universo do TikTok, onde influenciadores utilizam a música como ferramenta para cativar usuários”, pontua.
Por isso, Fabiana acredita que os impactos da ausência do catálogo serão notáveis, especialmente, para os usuários, sobretudo os creators que ganham a vida na plataforma, usando a música como ferramenta para atrair audiência. “Estabelecer parâmetros e compensações justas para as gravadoras, responsáveis pela criação das obras, torna-se essencial”.
Conforme a plataforma ganha mais seguidores e, consequentemente, maior projeção, é natural que sejam feitas revisão dos termos acordados. Por isso, esse embate entre TikTok e Universal Music é visto como uma negociação normal por Marcel Buainain, head de marketing da BR Media Group.
Ele avalia que a retirada do catálogo da gravadora gera impacto a todos – creators, artistas e usuários – já que a utilização das faixas no conteúdo já estava muito bem estabelecida.
“Do lado dos criadores e usuários, o impacto é a falta de utilização de diversas músicas, inclusive hits recentes como Murder On The Dancefloor de Sophie Ellis-Bextor, que voltou às trends por conta do filme Saltburn. Com relação aos artistas, eles também perdem uma fonte importante de divulgação e amplificação, por exemplo o álbum do Fleetwood Mac de 1977 voltou ao top 10 da Billboard após um vídeo despretensioso do creator Nathan Apodacaque viralizou no Tik Tok”, coloca Buainain.
Resolver esse embate passa pela busca de uma legislação abrangente, que permita que novos talentos surjam na plataforma e, ao mesmo tempo, uma compensação justa aos artistas, segundo Fabiana Baraldi.
“O TikTok, com mais de 1 bilhão de usuários, representa um desafio global que requer acordos, limites e uma legislação que contemple diversas esferas de trabalho, incluindo o autor da música e o produtor”, diz. A profissional da Innova AATB acredita, contudo, que a resolução do impasse está distante.
Para o head da BR Media Group, esse debate vai muito além do TikTok e envolve outras redes e plataformas. “As negociações vão ocorrer e é positivo para todo o ecossistema que um modelo saudável para todos os lados seja encontrado. Grandes negociações como essa são importantes pois acabam ditando como o resto do mercado vai se comportar daqui para frente”, completa.
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