Veículos de mídia estão mais vulneráveis a ataques de hackers?
Invasão ao sistema da Record TV mostra, segundo especialistas, que veículos também se mostram alvos atrativos aos cibercriminosos
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Bárbara Sacchitiello
13 de outubro de 2022 - 6h00
A mídia televisiva do Brasil vem lidando com um acontecimento até então inédito nos últimos dias. Desde sábado, 8, a Record TV tenta recuperar o acesso ao seu acervo de conteúdo e de dados que foram “sequestrados” por cibercriminosos em um ataque de ransomware.
Ataques hackers vêm se tornando um problema mais frequente para grandes empresas de todo o mundo. Nos Estados Unidos, a JBS foi alvo de um ataque semelhante ao da Record TV e realizou pagamento de US$ 11 milhões como resgate para voltar a ter acesso aos seus dados.
É a primeira vez, no entanto, que uma emissora de TV aberta nacional se vê alvo da invasão de hackers desse porte. Desde sábado, a 8, a Record TV não consegue acessar qualquer reportagem, quadro ou conteúdo de seu acervo. A emissora fez uma força tarefa para manter a programação no ar com conteúdo jornalístico inédito e gravações que estavam salvas fora do arquivo central de dados.
O colunista Ricardo Feltrin, do UOL, afirmou nessa quarta-feira, 12, que a Record TV já teria recuperado todos os arquivos sequestrados pelos hackers e já teria cópias de tudo aquilo que havia sido bloqueado.
O acesso a esses arquivos, porém, ainda está fechado por conta da atuação dos cibercriminosos, que teriam pedido US$ 5 milhões de resgate para devolver à emissora o acesso ao seu próprio acervo. A Record TV conta com apoio da Delegacia de Crimes Cibernéticos para tentar resolver a questão.
O caso da Record TV acendeu um alerta para os veículos de mídia, que até então não apareciam como alvo de hackers. Historicamente, na verdade, as empresas de mídia nunca foram as mais visadas pelos hackers que, na verdade, visam o lucro por meio do pagamento de resgates.
Alexandre Bonatti, diretor de engenharia da Fortinet Brasil, empresa especializada em segurança digital, explica que, na verdade, as empresas de mídia no mundo sempre estiveram mais suscetíveis ao ciberterrorismo (ou hackativismo), que são os ataques que visam uma mensagem política ou manipulação de informações em prol de um ideal, pela grande quantidade de pessoas que atingem.
Isso, no entanto, pode estar mudando. “O que estamos vendo hoje é que todos os setores, todas as indústrias, estão sendo visados pelos cibercriminosos. Onde há uma oportunidade, uma brecha ou uma vulnerabilidade, ela será explorada”, alerta o especialista.
Diretor de inteligência de ameaças da Avast, Michal Salat não vê as empresas de mídia mais ou menos ameaçadas do que as dos demais segmentos da indústria, mas considera que veículos de TV podem ser mais atraentes ao cibercriminosos pela natureza de sua atuação, já que elas precisam estar inteiramente funcionais para transmitir sua programação.
“As interrupções nos canais de TV são extremamente caras, pois, com elas, não é possível exibir publicidade. Isso pode tornar os veículos mais propensos a pagar pedidos de resgate a fim e voltar ao ar o mais rápido possível”, analisa o porta-voz da Avast. Ele acrescenta, também, que os hackers podem atacar emissoras de TV e de rádio para transmitir suas mensagens, aproveitando o alcance desses canais.
Uma pesquisa realizada pelo FortGuard Labs, laboratório de inteligência de ameaças da Fortinet apontou que, apenas no primeiro semestre deste ano, o Brasil sofreu 31,5 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos, um aumento de 94% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Segundo Bonatti, o fato de o País ter passado por uma intensa transformação digital fez com que as empresas se tornassem mais dependentes de tecnologias e isso, associado a Lei Geral de Proteção de Dados, que aplica multas altas para empresas que não cumpram com as regulamentações, fez com que os dados e ativos digitais tenham muito mais valor e sejam mais rentáveis e atrativos aos cibercriminosos.
“Por outro lado, o Brasil tem um histórico de baixo investimento em cibersegurança. Esse cenário começou a mudar após a pandemia, mas ainda corresponde a menos de 10% dos investimentos totais em tecnologia. Em outros países, as empresas destinam cerca de 25% a 30% dos investimentos em tecnologia para a cibersegurança”, compara.
Salat, da Avast, cita um relatório de risco feito pela própria companhia para pontuar que as empresas brasileiras têm 21% de chance de encontrar uma ameaça para PC. Em média, os usuários corporativos no mundo tinham de 10% a 15% de chance de encontrar alguma ameaça.
Embora não seja possível se proteger inteiramente de ataques desse tipo, o diretor de inteligência da Avast destaca que as empresas precisam certificar-se de que possuem múltiplas camadas de defesa, incluindo antivírus, firewall, detecção de intrusão e atualização regular de firmware e software.
“Também é extremamente importante que as empresas mantenham o fator humano em mente ao considerar a melhor forma de proteger seus negócios. Humanos cometem erros e os cibercriminosos gostam de explorar os erros humanos. Por isso, é vital que as empresas discutam as melhores práticas de segurança com seus funcionários, gastando mais em treinamento antiphishing”, sugere.
Já para o porta-voz da Fortinet Brasil, a prevenção ainda é a melhor defesa. “A tríade de segurança é composta por tecnologia de ponta, incentivo à cultura de cibersegurança, por meio da conscientização e treinamento de todos os funcionários, e planejamento. Ou seja, olhar as práticas de governança e compliance para que se tenham processos maduros de respostas a incidentes”, diz.
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