Victor Assis, do PodPah: como os videocasts evoluem
Formato vem ganhando sofisticação na técnica e conteúdo com novos formatos e expansão do modelo de negócio
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Taís Farias
6 de setembro de 2023 - 6h03
Nos últimos três anos, os vídeos invadiram o formato de podcast, criando um híbrido bem-sucedido: o videocast. No Brasil, esse modelo ganhou espaço e projetou uma série de canais com apresentadores que, em muitos casos, já estavam envolvidos com a produção de conteúdo.
Assim, um dos símbolos desse avanço foi a adaptação das plataformas. Em junho do ano passado, o Spotify anunciou a chegada do recurso de vídeo para podcasts no Brasil. Agora, os videocasts entram em nova fase com a sofisticação do formato e modelo de negócio.
Exemplo desse movimento, o PodPah se tornou um hub de conteúdo.
Assim, além do videocast liderado por Igão e Mítico, o canal conta com outros programas como o Rango Brabo, com Diego Defante, e o Quebrada F.C.
Em entrevista ao Meio & Mensagem, Victor Assis, CEO do PodPah, analisa as mudanças no cenário dos videocasts e a evolução do formato.
Meio & Mensagem – Como você avalia o cenário de videocasts brasileiro? Qual é o patamar de maturidade?
Victor Assis – Avalio como um cenário consolidado e com margem para expansão. Particularmente, ficamos felizes com este crescimento do formato e com o surgimento de novos videocasts. A consolidação deste modelo de comunicação mostra que o universo em que estamos inseridos está em evolução. Alguns números reforçam essa avaliação.
O Brasil é o terceiro país que mais consome podcasts. São mais de 30 milhões de ouvintes e/ou expectadores, segundo estudo com dados do Ibope. Outra pesquisa, da PWC, estima que a receita com podcasts deve chegar a € 590 milhões na Europa até 2026. Ou seja, há ainda espaço para expansão do formato, seja em áudio ou vídeo. E no Podpah sentimos, sim, que o formato ainda é promissor.
M&M – Como esse formato vem ganhando sofisticação? Quais foram as principais mudanças técnicas, de conteúdo etc?
Assis – Não são apenas questões técnicas, de equipamentos, mas, especialmente, na profissionalização dos podcasts. Quando a cena começou no Brasil, cerca de quatro, cinco anos atrás, o que se tinha era uma estrutura amadora. Hoje, é completamente diferente. Os canais e programas cresceram, e não é mais uma novidade os grandes players serem vistos como empresas de fato, com estrutura profissional, departamento de marketing, produção, assessoria de imprensa, além de estrutura que, muitas vezes, se assemelha às emissoras de televisão.
Além disso, à medida que o formato evolui, mudou também a relação com as marcas. Com a pandemia, o cenário de videocasts cresceu e o mercado publicitário começou a olhar com mais carinho para isso, o que demandou movimento profissional desses canais. Sempre nos preocupamos em criar ambiente seguro para quem quer vincular sua marca ao canal e isso não é uma coisa simples de se fazer e nem se constrói da noite para o dia.
M&M – Há investimento dos videocasts para ampliar suas frentes de atuação e formatos. O que isso indica?
Assis – Indica um movimento de ampliar as opções de conteúdo e conseguir alcançar novos públicos. Todas as plataformas fazem isso dentro de um mesmo canal. O Instagram oferece Stories, feed, Reels, live. O YouTube tem multiformatos de conteúdo. No caso do Podpah, temos essa diversificação como estratégia. Temos o Podpah Podcast como carro-chefe e outros programas, em outros formatos, mas sempre com o background de entretenimento.
É assim com o Rango Brabo, que é um programa de culinária, mas a última coisa que importa é se o prato vai ficar bom ou não, o objetivo é divertir. O Quebrada F.C a mesma coisa: falar de futebol com a pegada de conversa de bar, e por aí vai. Fizemos esse movimento com a intenção de produzir para o público outros formatos, mas sempre com o objetivo de proporcionar entretenimento. Acreditamos que essa estratégia é a ideal para continuarmos a crescer e fortalecer o canal, que se tornou hub de conteúdo.
M&M – Em paralelo, como evoluíram as relações comerciais e o envolvimento das marcas?
Assis – Pela experiência que tivemos, quando começamos com o podcast, o mercado era muito nichado e visado mais por marcas de tecnologia e hardware de computador, por exemplo. Eram marcas menores que investiam nesse formato de conteúdo. Conforme os videocasts foram se solidificando, com mais players, mais massificado e mainstream, as grandes marcas começaram a olhar com atenção e a investir no formato, como Habibs e iFood.
Mas, hoje é comum grandes marcas nacionais e internacionais anunciando em podcasts, o que corrobora com a primeira pergunta sobre a maturação do mercado. O fato de as grandes marcas confiarem e enxergarem os videocasts e podcasts, como mais uma alternativa para passar sua mensagem e atingir o público mostra que o formato está solidificado. Optamos por, desde o começo, seguir um caminho de ser espaço brand safe, onde as marcas poderiam confiar.
Portanto, por ser um formato descontraído, desconstruído, mais informal, entendemos que seria fundamental criar esse ambiente seguro para as marcas e agências sentirem confiança de que não ligariam seus clientes a alguma polêmica. As marcas entenderam que o formato tem audiência e que, além da TV, do site e do rádio, também conseguem impactar o público por meio dos videocasts.
M&M – Quais você encara como os principais desafios do formato?
Assis – O principal desafio para o formato é se reinventar na hora de entregar um podcast. E não no sentido da conversa, do formato em si ou do convidado. Mas, sim, criar alternativas sobre como a marca aparece no programa. As marcas têm nos procurado para entregarmos coisas criativas, sair do padrão.
Assim, no começo dos podcasts, o padrão era, e ainda é, QR Code na tela e speech. Hoje em dia, isso está virando mais do mesmo para toda a cena. Não que o habitual seja ruim, é bom e traz resultados. Mas temos nos desafiado. diariamente, a trazer soluções criativas, entregas diferentes. E podemos citar diversas ações nesse sentido, como com a Gilette, que patrocinou o Rango Brabo, um programa de culinária, que, em teoria, não tem ligação com o produto.
Também a ação com o Cabana Burguer, que criou um hamburguer com o nome do programa, ou com o Outback que fez rodízio durante duas horas no Podpah durante um episódio. E essas soluções têm funcionado, tanto com o público quanto com as próprias marcas.
M&M – Como você vê a evolução dos videocasts? Que papel devem exercer no mercado de entretenimento?
Assis – Como um novo meio de comunicação. Esse formato é uma nova forma de se comunicar. Temos ouvido de gente muito mais experiente, com décadas de televisão, com carreiras consolidadas na comunicação, que esse formato é, de certa forma, revolucionário em termos de comunicação. É um produto diferente do que se tem em formatos consolidados, uma vertente mais popular dos chamados talk shows, com linguagem própria, mais popular, grande alcance e com custo muito menor do que se tem na televisão, por exemplo.
Ademais, os podcasts, ou videocasts, como queiram chamar, vão se consolidar como um lugar para conversa informal, sem tanto compromisso com roteiro, compromisso jornalístico, com liberdade editorial e flexibilidade para marcas. É um lugar diferente de consumir conteúdo, um novo meio de comunicação. E estendo essa avaliação não apenas para os videocasts. Na televisão, tem o programa de culinária com grandes cozinheiros, apresentadores ótimos, um formato estabelecido, tradicional e de sucesso.
Portanto, o que trazemos é algo diferente: culinária de um jeito diferente, com humor e entretenimento. Programas esportivos, a mesma coisa. Enxergamos o formato como novo meio de comunicação para entretenimento e em linha com o que o público procura.
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