Web 3.0: novas formas de pensar, velhos questionamentos
Painel do Mídia Master 2022 trouxe profissionais da creator economy, inovação digital e ativos digitais para debater a emergência da nova versão descentralizada da internet
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Thaís Monteiro
3 de maio de 2022 - 9h29
A definição atual de Web 3.0 difere da concepção anterior dela, quando as versões um e dois dela estavam em voga. Segundo Marcelo Nakagawa, professor de inovação e tecnologia da Fundação Dom Cabral, projetava-se que a Web 3.0 seria semântica e contextual, e que enfrentaria os desafios de leitura da linguagem e classificação das informações como falsas ou verdadeiras e conteúdo relevante ou irrelevante. Concomitantemente com essas discussões, passou a fazer parte da internet as redes de blockchain e o avanço das criptomoedas, ativos digitais e smart contracts. As aplicações dessas tecnologias começaram a ter resultado e deu origem a ideia de Web 3.0 mais amplamente divulgada hoje.
“A Web 3.0 vai chocar com o jeito atual de fazer as coisas porque ela depende de modelos de confiança. Na lógica da Web 2.0 — isso não significa que uma vai matar a outra, são coexistentes –, as informações são processadas por softwares centralizados da empresa. Na Web 3.0, você vai confiar no protocolo e sistemas por trás disso”, explica. O modelo de negócio será o de remuneração dos usuários por seu conteúdo e as transações financeiras não serão intermediadas, pois serão feitas por blockchain.
Se o usuário passa a ser monetizado, ele passa a ser parte da creator economy que, diferente do marketing de influência, envolve a criação de novas frentes de negócios e estratégias para o crescimento do influenciador em questão que não inclui necessariamente a relação entre as marcas. “Saímos da lógica dos usuários de big techs e vamos para donos de comunidade. Vamos para uma lógica de membro”, pontuou Ana Paula Passareli, CEO da Brunch e Toast.
Um dos produtos da Web 3.0 são os tokens e NFTs (token não-fungível). A Sócios.com é responsável por criar fan tokens e NFTs para organizações esportivas. Felipe Ribbe, head de business development da empresa, explicou que a relação entre marca e cliente irá mudar, pois as trocas serão muito mais diretas. Os clientes, inclusive, poderão rentabilizar sua parceria com a marca, seja se tornando dono de um NFT que represente receita futura, ou ganhando benefícios. “Se eu sou fã e investidor, eu viro evangelizador”, colocou. Isso significa que as empresas devem trocar sua estratégia de go to market para go to community. Ele defende que os anunciantes devem iniciar os experimentos o quanto antes para poder errar e aprender a partir do prático.
Respondendo por uma estrategista de inovação digital de uma empresa secular, Carolina Sevciuc, diretora de transformação digital da Nestlé, afirmou que a empresa se prepara para a Web 3.0, mas que há projetos concomitantes que são, também, da Web 1.0 e Web 2.0. Na sua percepção, uma marca não deve usar a Web 3.0 ou o metaverso para replicar uma experiência do mundo físico e defende o exercício da simplicidade para pensar nesse futuro próximo: “Será que precisamos da descentralização para saber disso? Como minhas marcas vão se comportar? Exercício da simplicidade. Dentro de grandes organizações, esquecemos que somos consumidores e quais são minhas dúvidas. Quais são minhas aflições e perguntas? Tenho certeza que não tenho certeza, mas eu sei que o que me trouxe até aqui não vai me levar para os próximos 100”, provocou.
Uma dessas dúvidas gerais, mas sem resposta, é a própria questão da governança e da proteção das informações dos usuários em meio a descentralização, que ainda não tem regulamentação. “Do ponto de vista pessoal, temos uma geração mais analfabeta. A lógica digital é invisível para a gente. Nós não temos conhecimento e vamos ser mais manipuláveis digitalmente. Temos profissionais e lideranças que não sabem o que fazer com o digital. É meio que falar no deserto”, opina Marcelo.
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