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De 12 a 14 de janeiro de 2025 I Nova York - EUA
NRF

Circularidade e IA no futuro do varejo de moda

Fabio Faccio, CEO da Lojas Renner analisa o cenário brasileiro para 2025 e como encantar as novas gerações


14 de janeiro de 2025 - 6h01

Com projeção de crescimento de 10,1% na quantidade de peças comercializadas e 13,1% em valores nominais no último ano, segundo a consultoria Inteligência de Mercado (Iemi), o varejo de moda brasileiro se recupera de uma sequência de anos desafiadores. As mudanças nos hábitos de consumo, o avanço da inflação, da taxa de juros e o avanço das plataformas cross-border criaram pressão sobre as companhias que investiram em revisões estratégicas.

CEO da Lojas Renner

Fabio Faccio, CEO da Lojas Renner (Crédito: Claudio Belli/ Divulgação)

Em meio a esse cenário, o CEO da Lojas Renner, Fabio Faccio descreve 2024 como um ano de colheita, após um ciclo de investimentos em estrutura física e tecnológica. Na NRF 2025, ele cedeu entrevista ao Meio & Mensagem e destacou o papel dos dados, da inteligência artificial e da circularidade no futuro do varejo de moda.

Meio & Mensagem – Como você analisa o desempenho de 2024 e quais as projeções para esse ano? 

Fabio Faccio – O ano passado foi um ano importante para a Renner. Nós investimos muito nos últimos três anos e viemos em um ciclo de crescimento, de finalização de muitos investimentos em infraestrutura. Tanto de infraestrutura física, quanto tecnológica. Bases de dados, automação para usar cada vez mais inteligência artificial, por exemplo, que é o assunto mais importante aqui na feira. Acho que os nossos investimentos são muito voltados a melhoria de produtos, melhoria de jornada e de produtividade. Tudo isso com uso de tecnologia e pelas pessoas, pelo nosso time que é um time de muita qualidade. Do meio do ano para frente, viemos em um ciclo de colheita. De começar a ter melhores resultados, muito do ciclo de investimentos que fizemos. Então, foi um ano bom. Foi um ano de melhoria, principalmente no segundo semestre. E temos uma expectativa que isso continue para 2025. Sabemos que o cenário no Brasil ainda é bastante desafiador. Mas, apesar disso, acreditamos ter o potencial de um bom ano em 2025, pelas melhorias que fizemos na empresa, os investimentos. Acho que temos condições de proporcionar um produto, um serviço e um atendimento cada vez melhor para os nossos clientes brasileiros.

M&M – Como a estratégia de Renner se adaptou às oscilações econômicas do último ano e a pressão trazida pelo avanço das plataformas cross-border? 

Fabio – Acho que têm algumas pressões negativas. O cenário no Brasil vem, há bastante tempo já, com juros altos e, agora, mais altos ainda, o que dificulta bastante o crescimento econômico do país. Tínhamos e ainda temos uma concorrência desleal com falta de isonomia. Enquanto um varejista que opera no Brasil, seja nacional ou estrangeiro, tem uma carga média tributária de 89% nos seus produtos, tinha plataforma de cross-border com carga zero. Zero contra 89% é uma concorrência desleal. É falta de isonomia total. De uns meses para cá, essas plataformas passaram a pagar metade dos impostos que empresas que trabalham no país, sejam nacionais ou estrangeiras, pagam. O que ainda não é uma isonomia. Nosso desejo é que a nossa carga tributária fosse menor. O ideal seria que a nossa fosse igual à deles, mas o justo seria que todos pagassem a mesma coisa. Seria ótimo que todos pagassem o mínimo possível. Melhorou porque era zero contra o 89%, mas agora é 44,6% contra 89%. Ainda não é correto. Não é leal. Quem sabe, se tivermos no futuro, autoridades e governantes com um trabalho cada vez melhor, possamos reduzir a carga tributária brasileira e trazer todo mundo para o mesmo patamar.

M&M – Na NRF, omnicanalidade é um tema quase onipresente. Quais os principais desafios e gargalos de criar uma estratégia integrada e sem fricções? 

Fabio – Nós, na Renner, sempre acreditamos nisso. Aqui, na feira, por exemplo, uma época se falava que o varejo físico estava acabado, que só ia existir o varejo digital. Em outros momentos, com o final da pandemia, o varejo físico era a bola da vez e o varejo digital ia acabar. Nós nunca acreditamos. Nem em um, nem no outro. A nossa crença muito forte é que o físico e digital se completam. As pessoas vivem presencialmente, fisicamente. E vivem também em um mundo digital. Elas estão, ali, o tempo inteiro, conversando ao vivo, presencialmente, mas conversando no WhatsApp, em outras redes sociais. E é assim também no consumo. Elas têm a experiência em uma loja física, a experiência na loja digital. Às vezes, provam o produto e compram digital. Muitas vezes, pesquisam digitalmente e vão comprar na loja. Então, nós acreditamos muito que a experiência completa, integrada, omni, phygital ou qualquer outro nome  é a experiência que faz sentido para a cliente e o que faz sentido para cliente é o que precisamos fazer para encantar. Acho que, cada vez mais, existem ferramentas para facilitar essa vivência. Trazer o que tem de bom do mundo digital para facilitar a vida da cliente na loja física, digitalizando. E o que tem de bom da experiência do físico, tentando trazer ferramentas para o mundo digital para que ela possa ter uma experiência semelhante ao que ela tem no físico. Acho que, principalmente no mundo da moda, sempre vai ter que ter a experiência completa. Nunca vai ser só o físico ou só digital. Sempre vai ser omni, o integrado e é isso que trabalhamos para proporcionar: o encantamento, a melhor jornada integrada para as nossas clientes.

M&M – Como a circularidade deve transformar o varejo de moda nos próximos anos? 

Fabio – De várias formas. A inteligência artificial, por exemplo, ajuda muito nosso setor em sustentabilidade. Porque você tem melhores decisões de tamanho de sortimento, de profundidade de sortimento, com o uso de algoritmos e inteligência artificial. Você consegue ser mais granular nas suas decisões de produção, de distribuição de proposta para os clientes. Fazendo isso, conseguimos produzir menos e gerar mais valor. Um produto melhor, com melhor qualidade e melhor custo para o nosso cliente. E, mesmo assim, com melhores margens tanto para os fornecedores, quanto para nós, podendo remunerar melhor a cadeia. O cliente sai mais satisfeito, mais encantado; os resultados para a empresa e para as demais empresas são melhores; você tem um menor uso de recursos e gera mais valor para todos. Acho que isso é a inteligência artificial aplicada para eliminar desperdício. Quanto menos você desperdiça, mais sustentável é. E, do que produz, escolher os melhores materiais, as melhores matérias-primas com as melhores técnicas para poder dar uma nova destinação para esse produto, seja através de uma reciclagem ou de um segundo uso como temos nossa plataforma de second hand, a Repassa, que é uma plataforma de reuso em que a maior parte das roupas que transacionamos ali são da Renner. O que mostra que também temos um ciclo alongado do uso do produto.

M&M – Pensando em encantamento, como Renner vem trabalhando para acompanhar as expectativas das novas gerações? Quais as diferenças? 

Fabio – O encantamento é o propósito da empresa, da Renner. Para nós, encantar é superar a expectativa. É a nossa realização, para que nós existimos e como acreditamos gerar mais resultado para todos também. Superando a expectativa do cliente, automaticamente, superamos os nossos resultados, a expectativa do time, a expectativa do acionista e, quando o cliente é encantado, ele retorna a nossa loja. Supera a nossa expectativa. É um ciclo virtuoso. No passado, nas gerações anteriores, o encantamento era muito presente no produto acima da expectativa e no atendimento presencial na loja física. Hoje em dia, ele está presente de várias formas. A jornada é muito mais complexa, mas todos os pontos de contato são oportunidades de você ter uma experiência encantadora de superação de expectativa ou de ter atrito. Mas, se tem um atrito, resolver rapidamente para poder ter uma experiência encantadora. A diferença das novas gerações é que a expectativa é ainda maior, pelo nível de informação, conhecimento e pelas experiências que são cada vez melhores. Por um lado, você tem uma complexidade maior, mas, por outro, também tem mais ferramentas. A essência é a mesma, mas as formas são diferentes e é uma variedade muito maior.

M&M – Nesse sentido, qual o papel dos dados na estratégia de predição? Como eles são usados? 

Fabio – São fundamentais para nós e, principalmente, no básico do negócio. Quando olhamos para tendências, o time captura milhares. Quais são as que as clientes mais vão querer? Antigamente, você tinha um número menor de fontes. Tinha as revistas e os desfiles. Hoje em dia, você tem revista, desfile, rede social, o que se usa nas ruas em países diferentes. As fontes são diversas e, para você capturar, filtrar e tomar as decisões, o uso de inteligência artificial ajuda muito o time para poder fazer um trabalho melhor. Ele potencializa o trabalho do time, que é especialista nisso. Tomando as melhores decisões das tendências a serem propostas para as clientes, já é um grande ganho.

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