Como a sombra da recessão afeta o consumo
NRF tende ao tom otimista ainda que executivos demonstrem preocupação com os rumos da economia mundial
NRF tende ao tom otimista ainda que executivos demonstrem preocupação com os rumos da economia mundial
Taís Farias
16 de janeiro de 2024 - 16h00
Ao longo dos três dias de NRF 2024, não foram poucos os executivos que, ao subir ao palco para falar sobre os seus negócios citaram desafios econômicos, a recessão ou mesmo uma necessidade de fazer com que suas operações funcionem de maneira mais eficiente e com maior lucratividade. Não à toa. Um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas no fim do último ano apontava uma queda de 3% para 2,4% no índice de crescimento mundial.
A expectativa para 2024 também é baixa. A projeção é de que a economia mundial cresça apenas 2,5%. Tais índices são considerados pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) como uma recessão global. O documento aponta para desigualdades crescentes, divergências entre regiões-chave e apela para a necessidade de desenvolvimento de mecanismos que garantam proteção social, segurança alimentar e proteção climática.
Apesar do viés global e da aparente urgência do tema, um dos principais painéis da NRF dedicado à economia se limitou a tratar do cenário do país anfitrião do evento e a maior economia do mundo, os Estados Unidos. Apesar de reconhecer a preocupação do mercado, a apresentação liderada pelo jornalista Steve Liesman, da CNBC, negava uma recessão.
“Você não precisa se abastecer de latas de atum e ir para o porão. Acho que vamos ficar bem. A economia vai crescer relativamente devagar este ano. Mais lenta do que tem sido. Mas não acho que haja recessões no momento”, afirmou de forma bem-humorada.
Entre uma série de questionamentos aos posicionamentos do FED (Federal Reserved System, sistema de bancos centrais dos Estados Unidos) e indicadores como emprego, a queda da inflação e aumento da produtividade, a principal tese da parceria entre CNBC e NRF foi uma recuperação gradativa e uma manutenção do consumo.
“Os consumidores encontraram uma maneira de manter seu nível de gastos ajustado pela inflação, apesar dos preços estarem altos. Teve muito a ver com a assistência governamental, o aumento dos salários e, claro, com o desemprego muito baixo”, apontou Liesman.
Brian Nagel, analista sénior de investigação da Oppenheimer and Company, e Jack Kleinhenz, economista-chefe da NRF, descreveram um otimismo cauteloso. Para eles, os consumidores se mantiveram resilientes ainda que existam ameaças potenciais, como os conflitos geopolíticos, inflação e a taxa de juros.
A instabilidade econômica, naturalmente, afeta também a maneira como os consumidores se comportam. Entre essas mudanças, estariam um olhar mais crítico e exigente ao valor entregue pelo produto e, com os orçamentos apertados, um foco em produtos essenciais. Diana Marshall, EVP & Chief Growth Officer do Sam’s Club, alerta, no entanto, que é preciso cuidado com tais considerações.
“Mesmo se você pensar em quem está realmente focado nos essenciais e em garantir sua alimentação. Eles também estão procurando por um pouco de prazer. Eu acho que o mercado fez um bom trabalho trazendo itens para a venda geral que trazem um pouco de prazer, mas com um bom valor”, apontou a executiva.
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