Os paradoxos que ditam a Geração Z
Executivas de pesquisa e marketing esclarecem as teorias e práticas em relação à Geração Z
Executivas de pesquisa e marketing esclarecem as teorias e práticas em relação à Geração Z
Thaís Monteiro
16 de janeiro de 2023 - 6h00
Como marcas com mais de cinco décadas de existência mantêm uma constante atualização para continuar dialogando com cada nova geração de consumidores chegando? Esse é um desafio rotineiro dos grandes varejistas, em especial quando a geração se trata da Z. Os consumidores desse grupo, que já começaram a entrar no mercado de trabalho, são recheados por contradições, que foram detalhadas em painel do Retail’s Big Show por Leslie J. Ghize, VP executiva da agência de pesquisa Doneger I Tobe, e debatidas na prática pela CMO da varejista americana Claire’s de acessórios, joias e brinquedos voltada a adolescentes e pré-adolescentes, Kristin Patrick.
Considerada a geração com maior consciência ambiental até então, contra o consumo em excesso, atentos ao que ingerem, a Geração Z tem seu posicionamento nesses diversos assuntos questionados quando tem sido a embaixadora para o sucesso de e-commerces como a Shein e a Shopee. Conforme Leslie, eles são “viciados em tendências” e são altamente influenciáveis. “Eles são conscientes, mas aí vem uma nova bolsa da Balenciaga e eles querem ter igual. Tomam cuidado com o que ingerem, mas estão comprando água psicodélica. Defendem beleza natural, mas compram lápis que criam sardas falsas”, pontuou.
Ao mesmo tempo que são altamente influenciáveis, eles também querem influenciar, informou Kristin. Na sua descrição, a Geração Z é altamente empreendedora e quer ter voz nas decisões tomadas pelas marcas. Dessa forma, uma estratégia adaptativa a esse público é tornar os produtos personalizáveis, já que já se tornou hábito esse consumidor adquirir produtos de uma forma para transformá-los.
“Para essa geração, que é focada em criatividade, é quase como dar uma plataforma para eles se descobrirem. É como deixar eles alimentarem a marca com significado”, explicou a executiva da Claire’s. “Na época que eu trabalhei na Gap, os milennials eram o foco e o slogan era ‘Fit in e stand out’. Essa geração é diferente. Eles não querem ser como todo mundo”, complementou.
Apesar de formarem a primeira geração de nativos digitais, eles são apaixonados por itens analógicos, trouxe a executiva da Doneger I Tobe. Um pouco disso vem da vivência desse grupo na infância em contato com produtos mais analógicos, o que causa saudosismo. “A Geração Z entende o digital e sabe que lhe roubou um pouco da socialização”, afirmou.
Segundo a executiva, a perspectiva é o saudosismo se intensificar na geração Alpha, desta vez um saudosismo do que eles não vivenciaram: o mundo sem digital. Isso fará com que eles busquem ativamente conexão humana não intermediada por telas.
Apesar disso, a maneira como esse público foi criado, em uma era de diversos canais e informação em excesso, faz com que eles sejam consumidores exigentes em relação a presença de marcas por todos os lados. “Quando entrei na empresa e fiz uma pesquisa com os consumidores, eles nos disseram que queriam a marca em mais lugares. Então colocamos nossos produtos em vários varejistas, entramos no metaverso, produzimos conteúdo”, contou.
Existe, também, entre essa geração uma forma de se comunicar com tom sarcástico e se representar como emos quando, na verdade, o grupo constitui uma geração altamente empática, que presta atenção em tudo e todos à volta.
Enquanto marca, é difícil adotar uma linguagem mais sarcástica ou parecida com a que esse público adota, já que um posicionamento de marca nem sempre é ser emo ou algo do tipo. A Claire’s, por exemplo, se comunica enquanto uma marca feliz, disse a CMO. O que a empresa busca fazer é acertar na linguagem usada na comunicação e abordar tópicos que são caros ao grupo. Há adaptações. “Tive que achar a voz nas redes sociais e estávamos escrevendo como se tivéssemos tentando demais e eles falaram isso pra gente. E aí tentamos pela voz gentil de irmã mais velha”, contou.
A modernização da linguagem é essencial, mas o conteúdo e o storytelling é mais, disse a executiva, que notou o público da geração Z pedindo por mais informações e conteúdo em diversos canais, o que fez com que a empresa investisse com firmeza na criação de conteúdo.
As executivas fecharam o painel citando um benefício em relação às novas gerações, que não é encarado como uma dualidade ou paradoxo: a desestigmatização da saúde mental. Conforme Leslie, os millennials iniciaram uma discussão sobre sentimentos que foi impulsionada de forma grandiosa pela Geração Z e, agora, a Geração Alpha deve não só saber expressar suas questões, mas também lidar com elas e com as questões dos demais.
Compartilhe
Veja também
Para CEO do GPA, avanço do retail media depende da crença dos líderes
Em entrevista, Marcelo Pimentel, explica os passos do grupo na construção da operação de retail e aponta a transposição da experiência da loja ao digital como o principal desafio da categoria
IA, pé no chão e experiência: CMOs fazem balanço da NRF 2024
Bárbara Miranda (Ipiranga), Washington Theotonio (Americanas S.A) e Vivian Zwir (Grupo Casas Bahia) dividem os temas que mais se destacaram ao longo dos três dias de evento