Little Brazil, lots of Brazilians: o que brasileiros buscam no Retail’s Big Show
Brasileiros compõem uma das principais delegações internacionais do evento da NRF
Brasileiros compõem uma das principais delegações internacionais do evento da NRF
Thaís Monteiro
13 de janeiro de 2023 - 6h00
No coração de Manhattan, logo acima do centro da cidade, onde fica a Times Square, e do lado da 5th Avenue, uma das principais avenidas comerciais de Nova York, está localizado o bairro Little Brazil.
Ele é pequeno, formado por duas quadras uma acima da outra. As ruas que o delimitam são: 6th Avenue, 5th Avenue, West 45 Street e West 47 Street.
A rua 46 também é conhecida pelo apelido Little Brazil Street. O bairro recebeu esse nome através de Rudolph Giuliani, que foi prefeito de Nova York entre 1994 e 2001, por conta da alta migração de brasileiros para os Estados Unidos, especialmente em Nova York, entre os anos 1990 e início dos anos 2000, e a concentração de restaurantes e negócios brasileiros e moradores brasileiros na região.
Hoje, a região não conta com tantos negócios típicos brasileiros ou criados e administrados por brasileiros. Eles se espalharam pela cidade e pelos Estados Unidos. A população brasileira emigrada para os Estados Unidos pulou de 41 mil em 1980 para 502 mil em 2019, porém os brasileiros imigrantes na região de Nova York representam apenas 0,3% dos total de imigrantes brasileiros no país. Ainda assim, essa é a terceira maior concentração brasileira de imigrantes nos Estados Unidos, atrás da região de Boston e Miami, informam dados do Migration Policy Institute. Segundo o Consulado-Geral do Brasil em Nova York, em 2020 haviam 450 mil brasileiros residindo em Nova York.
A população brasileira em Nova York também é representativa em janeiro, quando ocorre o NRF Retail’s Big Show, evento centenário sobre varejo. O Brasil é uma das maiores delegações internacionais na conferência. Em 2022, o Brasil aparecia como a primeira bandeira na lista “Top 10 de países internacionais representados”. As demais foram: França, Canadá, Reino Unido, México, Coréia do Sul, Israel, Alemanha, Dinamarca e Países Baixos.
Cinco tecnologias que transformarão o varejo
Levando em consideração que a primeira edição do NRF’s Retail Big Show aconteceu em 1911, demorou para que os brasileiros fizessem parte do evento. As primeiras missões organizadas por empresas e profissionais brasileiros datam dos anos 1980. A Gouvêa Ecosystem, ecossistema de consultorias, soluções e serviços, realiza a expedição Gouvêa Experience, em parceria com a Prime Tour, há cerca de 35 anos, quando levou um primeiro grupo de empresários nacionais relevantes para Nova York. Outra missão antiga é a Brasil Varejo, que leva um grupo de dois mil executivos à cidade há 25 anos apostando no aprendizado e trocas culturais como um ativo valioso para esses profissionais. Segundo Lucas Daibert, sócio da Binder e curador da Brasil Varejo, a própria organização do evento sabe da importância de delegações estrangeiras e, por isso, português está entre os idiomas do evento há muitos anos nas traduções simultâneas feitas em parte das palestras.
Em 2022, o NRF’s Retail Big Show recebeu 15 mil profissionais, 6 mil varejistas e 2 mil marcas. Dos participantes, 72% eram dos Estados Unidos e 28% internacionais. A maioria dos profissionais (24%) ocupam cadeiras de C-levels; 18% são diretores; 15% gerentes; 10% são diretores seniores, 10% são gerentes seniores; 9% são VPs; 6% são SVP, EVP e executivos seniores; 3% são analistas e 5% ocupa outros cargos. De acordo com o executivo da Brasil Varejo, como trata-se de uma viagem de investimento expressivo para quem vive no Brasil, por conta do custo de passagens aéreas e pela conversão da moeda, o número de altos executivos tende a ser ainda maior entre os brasileiros.
Nos últimos anos, Daibert nota um crescimento do interesse para além do varejo em detrimento do aumento da necessidade de inovar e digitalizar o mercado. Mas há um impedimento em relação a essa diversificação, informa Tonico Novaes, CEO da Gouvêa Experience, empresa responsável pelos eventos proprietários Campus Party Brasil, Latam Retail Show, Comunidade Gouvêa na NRF Big Show e outras missões internacionais. “O público passa, claro, pelos grandes e pequenos varejistas e chega, cada vez mais, ao setor de tecnologia, por exemplo. Entretanto, há de se lembrar que a própria NRF cobra quase o triplo de empresas não varejistas e a essas limita em três pessoas por CNPJ, o que garante um alto público realmente varejista”, explica.
Segundo o executivo, o que motiva os brasileiros a comparecerem ao NRF é estar a par e ter contato com o que ocorre de relevante no mercado mundial, e sobretudo o norte-americano, pois esse último apresenta um cenário que chegará ao Brasil em dois anos, assim como a China adianta tendências que serão aplicadas no mercado nacional em cinco. “Desta forma, quando olhamos para o conteúdo da NRF, há muito o que aplicar imediatamente no varejo brasileiro”, diz Daibert. Além disso, nas exposições, o público acompanha as novidades em termos de tecnologia, inovações e soluções para o setor. É isso que a delegação do PagBank PagSeguro procura na conferência. “O NRF é um espaço onde temos acesso às principais novidades tecnológicas para o varejo e nos permite participar das principais discussões sobre o setor”, comenta Luisa Nunes, diretora comercial do PagBank PagSeguro.
Há, ainda, a oportunidade de prospectar clientes e firmar parcerias nacionais e internacionais. O CEO da Raccoon.Monks, André Palis, reforça essa busca: “O evento é importante para nos mantermos atualizados sobre as principais tendências, compartilhar sempre o que há de mais novo com os nossos clientes – uma vez que vários clientes e parceiros estarão lá – e para conhecer novas empresas que podem acabar se tornando parceiras no futuro”. Ele informa que a empresa lançou um hub de mídia dedicado exclusivamente a atender clientes internacionais, então o evento se torna importante para encontrá-los e fortalecer o relacionamento.
“A troca com os empresários e executivos de outros países é sempre muito rica. Como diria Glaucio Binder, meu sócio, a verdade é que qualquer negócio é uma aposta. Começamos o dia esperando que clientes paguem um valor por um determinado serviço ou produto mais alto do que efetivamente custou para nós, empresários e executivos. E as formas que as diferentes companhias do mundo utilizam para sobreviver, em diferentes cenários, são sempre fonte de inspiração. Nesta conexão com outros países e culturas, inspiramos e somos inspirados”, contribui.
Os brasileiros inspiram os demais conforme exibem ao mundo a forma de inovar, adaptando planejamentos diante de mudanças no mercado ou períodos de crise. “Conforme o apresentador Lee Peterson, importante palestrante da NRF, lembrou recentemente, o Mike Tyson sempre teve uma ótima definição para isso: ‘Todos têm um plano até levar um soco na cara’. E, muitas vezes, sabemos que o empresário e executivo brasileiro se vê nas cordas, precisando ter uma reação rápida. Ninguém pode negar que a adaptação à mudança e a criatividade estão no DNA do brasileiro. E vejo que os estrangeiros admiram e reconhecem isso”, coloca o curador da Brasil Varejo.
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