Jonas Furtado
15 de janeiro de 2023 - 20h52
A consultora Kate Ancketill previu desafios e tendências para tempos de consumo consciente
É um papel um tanto desconfortável, mas certamente notável: no mais conceituado evento de varejo do mundo, onde a maioria óbvia dos visitantes está interessada em novas tecnologias e abordagens voltadas para aumentar margens e lucros, coube à consultora Kate Ancketill lembrar diversas razões pelas quais devemos nos preparar para vender menos.
Especialista em traçar cenários futuros para os negócios de grandes empresas como Microsoft, Target e P&G, a fundadora e CEO da consultoria britânica GDR afirma que disrupções contemporâneas como a pandemia, os atuais conflitos geopolíticos e a mudança climática deflagaram mudanças críticas no modo de consumo influenciado pelo estilo de vida ocidental – com impacto fundamental na cadeia de suprimentos e no uso de recursos naturais pela indústria e a própria sociedade.
“Precisamos nos preparar para o fim da abundância”, afirmou Kate, fundamentando sua projeção em cima do fato de que simplesmente não temos os recursos naturais nem para continuar consumindo na mesma escala de hoje, nem para promover a transformação da matriz energética na velocidade necessária a fim de cumprir objetivos previstos dentro de acordos climáticos globais.
Há ainda um outro complicador: parte significativa desses recursos atualmente está nas mãos de China e Rússia, países que mantém uma relação ambígua com os países ocidentais – o racionamento de energia em parte da Europa, como consequência do conflito causado pela invasão à Ucrânia, é o melhor exemplo.
Três grandes tendências de consumo para tempos de escassez
Nem tudo foram só previsões alarmantes. Após a exposição das grandes forças de disrupção sobre a cadeia de consumo, Kate Ancketill listou três grandes tendências que ajudarão na mitigação do impacto do fim da abundância sobre a sociedade.
1– Fornecimento descentralizado de energia, a partir dos próprios usuários e diretamente para outros usuários (peer to peer), como alternativa para evitar a concentração de poder em grandes estruturas e corporações.
2 – Ascensão do design regenerativo, para antecipar pressões quanto a possível escassez de materiais e de prováveis novas leis que surgirão para combater o uso excessivo de materiais escassos.
3 – Crescimento da economia da dopamina, para valorizar as emoções em detrimento das transações, priorizando experiências imersivas e digitais em vez de indulgências consumistas.