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A ameaça da mediocridade

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Opinião

A ameaça da mediocridade

Assim como procuramos expressar nossa individualidade pela roupa que vestimos ou pela música que ouvimos, também devemos procurar um trabalho que nos permita expressar quem somos e quem queremos ser


11 de maio de 2017 - 15h55

Superficialmente pareço uma pessoa convencional, mas ainda me considero profundamente desobvializada. Paradoxo é uma palavra muito forte, mas há uma tensão presente. Como poucos, eu acredito que utilidade, sentido e paixão em uma vida de trabalho são ingredientes básicos para uma carreira gratificante.

Foto: Reprodução

Existe muita gente que apoia o pensamento “sorria e aguente seu trabalho” – você precisa aceitar o inevitável e suportar o emprego que conseguir encontrar, desde que ele atenda às necessidades financeiras e deixe tempo suficiente para aproveitar a “vida real” fora do horário do expediente.

Já eu sou mais esperançosa e defendo um enfoque diferente, segundo o qual é possível encontrar um trabalho com propósito que amplie nossos horizontes e nos faça sentir mais humanos. Acredito que devemos buscar mais satisfação do que aceitar o que vier. Não é possível que você se contente com a rotina de acordar cedo, ficar na frente de um computador insatisfeito por oito horas (se não, mais) e voltar para casa para dormir, sem energia, autonomia ou espaço para procurar hobbies, sair com amigos, dedicar-se à família ou à você mesmo.

Embora a busca por uma carreira realizadora só tenha se tornado uma aspiração generalizada no Ocidente a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, ela encontra suas raízes na ascensão do individualismo na Europa renascentista. Essa foi a época em que celebrar a singularidade virou moda. Somos os herdeiros dessa tradição de autoexpressão. Assim como procuramos expressar nossa individualidade pela roupa que vestimos ou pela música que ouvimos, também devemos procurar um trabalho que nos permita expressar quem somos e quem queremos ser.

Porém, a grande maioria das pessoas decide viver em terrenos planos, seguros, sem correr riscos. Elas nunca caem na profundidade e nunca se elevam às alturas. Seu trabalho é insípido, aborrecido, monótono – sem elevações, sem vales, sem noites e sem dias. Sem tempo. Vivem uma carreira cinza e sem cor. O arco-íris não existe para elas.

Embora a segurança esteja na base da nossa hierarquia de necessidades, os seres humanos são igualmente motivados pela busca da liberdade individual. Durante toda a história, das revoltas de escravos dominados pelos romanos às campanhas contra o apartheid na África do Sul, as lutas sociais e políticas foram motivadas pelo desejo de escapar da opressão e usufruir da liberdade pessoal

É claro que a maioria das pessoas deseja algum tipo de estabilidade no trabalho, especialmente em épocas como esta, de incerteza econômica: precisamos de uma renda regular para pagar o financiamento da casa ou as pesadas mensalidades escolares, para sustentar os filhos e assegurar uma pensão para a velhice. Em um nível psicológico mais profundo, desde que o cordão umbilical é cortado e somos lançados na solidão de nossa individualidade, nos colocamos em busca da segurança emocional e material. Apesar de ser possível encontrá-la em um casamento feliz ou como membros de uma comunidade, também podemos achá-la no local de trabalho, na forma de um emprego estável, que não só nos proporciona um salário certo no final do mês, mas que também possibilita uma rede de amizades, um senso de identidade e um sentimento de valorização.

Embora a segurança esteja na base da nossa hierarquia de necessidades, os seres humanos são igualmente motivados pela busca da liberdade individual. Durante toda a história, das revoltas de escravos dominados pelos romanos às campanhas contra o apartheid na África do Sul, as lutas sociais e políticas foram motivadas pelo desejo de escapar da opressão e usufruir da liberdade pessoal. Essa história ecoa em nossas atitudes em relação ao trabalho.

Algumas pessoas, especialmente as que vivem à margem da sociedade, na pobreza e sofrendo discriminação, podem não ter quase nenhuma oportunidade de alcançar esse objetivo. Isso eu reconheço. Se você estiver sustentando sua família com o salário mínimo ou fazendo fila no centro de empresa local durante essa recessão econômica, a ideia de uma carreira gratificante pode ser interpretada como um luxo.

Em qualquer outro caso: sorrir e aguentar? Pode esquecer. Eu insisto: procure um emprego grande o suficiente para o seu espírito, algo mais do que um “trabalho diário” cuja principal função seja pagar as contas. Pense sobre isso e aproxime a sua carreira de quem realmente você é.

Mas se você está sobrecarregado e encontrou aí no fundo uma vontade de dar o primeiro passo e mudar de situação, como atender ao desejo por maior liberdade? A resposta, no entanto, está longe de ser simples e apresenta alguns dilemas. O primeiro, se devemos optar pela segurança e estabilidade de um emprego assalariado ou inventar nosso próprio emprego, sendo chefes de nós mesmos.

Segundo, se devemos desistir da ética do trabalho duro e abandonar a meta de encontrar um emprego que nos realize profissionalmente para, em seu lugar, buscar um trabalho visando à nossa realização profissional. Terceiro, a questão de como equilibrar nossas ambições de carreira com o desejo de ter uma família, pois as duas coisas podem não apenas gerar tensões emocionais, mas criar uma enorme pressão sobre as horas limitadas de que dispomos.

Enquanto exploramos essas questões e não reconhecemos as virtudes do ócio, o desafio da ideologia de “ter tudo” e a compreensão do sentido e fluxo da vida, sugiro: não se acomode em alguma mediocridade porque isso é um pecado contra a vida. Nunca peça que a vida não tenha riscos e nunca busque segurança, porque isso é buscar a oportunidade de não crescer.

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