A bratitude de Kamala no TikTok: a reviravolta no marketing político
A Kamala tem uma risada de quem é brat
A bratitude de Kamala no TikTok: a reviravolta no marketing político
BuscarA bratitude de Kamala no TikTok: a reviravolta no marketing político
BuscarA Kamala tem uma risada de quem é brat
Dez dias após a sua primeira publicação no TikTok, Kamala Harris, candidata à presidente dos EUA, possui quase cinco milhões de seguidores. Como? “Bratitude é mais que atitude”. Começou com um post no X da super pop Charli XCX, que usou o substantivo “brat” para adjetivar Kamala. Brat é o nome do badalado novo álbum de Charli XCX, e seu último vídeo publicado no Youtube [Guess], com a participação de Billie Eilish tem mais de 10 milhões de visualizações, entre os 10 mais vistos no mundo.
Brat é alguém travesso, indócil, arteiro, agitado, irreverente. A Kamala tem uma risada de quem é brat. Ela tem bratitude. Prevendo uma avalanche de conteúdos, ela se antecipou e criou seu próprio perfil, que tem participação de Michelle e Barack Obama, Lance Bass, Megan Thee Stallion, a seleção americana de basquete… e ela esbanja simpatia no RuPaul’s Drag Race Werk Room. Parece não fazer esforço ou estar representando um personagem, ela tem magnetismo natural.
Harold Innis, teórico da comunicação, em sua obra “Empire and Communication” conta como inúmeros sistemas de poder foram coordenados por governantes e líderes que se apropriaram melhor dos meios de comunicação de sua época, como Felipe II, que coordenou a expansão espanhola apenas despachando de sua mesa e ficou conhecido como o rei papeleiro. Na história do marketing político nos Estados Unidos vale mencionar o sábio uso do rádio em 1932 por Franklin Roosevelt; a revolução de John F. Kennedy na televisão em 1960; e Obama em 2008 com as estratégias digitais.
Obama entendeu que precisava ser encontrado nos mecanismos de busca de modo relevante: criou um site com mais de três mil páginas com seu plano de trabalho, sua equipe, formas de doações para campanha, como se filiar, e uma sessão especial para desmentir todas as fake news espalhadas durante o período. Estava nas redes sociais respondendo, interagindo, comunicando suas atividades, clamando seu hino de liberdade e mudança 24 horas/ 7 dias da semana. Usou in game advertising em 18 games populares, incluindo NBA e Burn out Paradise. Obama foi sabatinado no Reddit e agradou a comunidade: foi a maior taxa de visitação dos servidores até aquele momento. Conectado e autêntico, Obama continua usando as redes de forma assertiva: todos os dias. Ele tem um posicionamento, um discurso apenas. É alguém em quem se pode confiar.
Estamos vivendo um momento de tensão entre a evolução do ser humano e a cultura contemporânea. Embora as pessoas tenham acesso à informação, ao conhecimento e aos grandes pensadores como nunca antes na história, a cultura digital cria uma necessidade de novos estímulos, mais rápidos e mais intensos, concentrados em múltiplos dispositivos digitais por onde dispersamos nossa atenção cotidianamente. Dificilmente eleitores vão estar interessados em ler todo o plano de trabalho da Kamala. Mas se ela distribuir as ideias em centenas de vídeos no TikTok, terá atenção da massa. Se fizer isso de forma autêntica e magnética, terá hiperatenção – quando mudamos rapidamente de tarefa com alto nível de estimulação e baixo nível de tédio –, e se fizer com leveza e bratitude vai espalhar sua mensagem mundo afora. Só por curiosidade, vejam os comentários dos brasileiros nos posts da Kamala. Os jovens cogitam seu nome como “presidente do Brasil”.
No livro “O Círculo”, de Dave Eggers (tem filme com a Emma Watson), pessoas usavam uma câmera – a SeeChange, que imagino como um pingente em um colar – , transmitindo tudo o que faziam a todo momento. Certo, tem quem faça isso com o celular no mundo real e não literário hoje em dia. Na história, houve um momento de clamor popular para que os políticos usassem o dispositivo durante a campanha eleitoral, afinal, um político deve ser honesto, verdadeiro e trabalhar para o povo que o elegeu. Mas a narrativa mostra que mesmo cientes da vigilância, os arraigados protocolos de corrupção eram revelados e os atores desmascarados um a um.
Kamala dispõe da tecnologia certa, no momento certo e a com a atitude certa. Ela entendeu que algumas informações só sobrevivem ao momento em que são novas (para finalizar o artigo com um pensamento do filósofo Walter Benjamin).
Compartilhe
Veja também
A consciência é sua
Como anda o pacto que as maiores agências do País firmaram para aumentar a contratação de profissionais negros e criar ambientes corporativos mais inclusivos?
Marcas: a tênue linha entre memória e esquecimento
Tudo o que esquecemos advém do fato de estarmos operando no modo automático da existência