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A construção da equidade de gênero

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Opinião

A construção da equidade de gênero

Os desafios e os caminhos para levar e manter cada vez mais mulheres em cargos de lideranças


22 de março de 2024 - 11h36

Inúmeros são os estudos e pesquisas mostrando que empresas que contam com diversidade e inclusão em suas lideranças têm melhor desempenho nos negócios. Benefícios tangíveis, como aumento na inovação, adaptabilidade ao contexto de mercado, entendimento do consumidor e desempenho financeiro. Mais recentemente, um relatório divulgado pelo The Ready-Now Leaders da ONG Conference Board mostrou que as organizações com pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança têm 12 vezes mais chance de estar entre as 20% melhores em desempenho financeiro.

As mulheres normalmente trazem consigo a habilidade de criar ambientes mais empáticos. Têm como característica ser bastante atentas e interessadas nas pessoas, têm grande capacidade de se colocar no lugar do outro. Isso é um diferencial quando pensamos em produtos que sirvam cada vez melhor aos consumidores, quando construímos marcas que se conectam de forma genuína com as pessoas, quando desenvolvemos modelos de negócio capazes de vencer nos mais diferentes contextos de mercado que vivenciamos.

Apesar de a quantidade de mulheres em cargos de liderança ter avançado no Brasil, há ainda muito espaço para conquistar. No País, em 2023, 39% das mulheres ocupavam cargos de liderança, segundo o ranking global elaborado pelo International Business Report da Grant Thornton. Mas num país onde as mulheres representam mais de 50% da população, precisamos ir além. A representatividade no mercado de trabalho importa; é essencial que mulheres e meninas reconheçam a liderança como um lugar a ser ocupado por elas. Existem avanços e eles confirmam o que podemos alcançar quando as empresas colocam foco e recursos para resolver desafios como esse. Tem que ser intencional, precisamos continuar os esforços para colocar ainda mais mulheres em cargos de liderança.

Entre as oportunidades existentes, vale olhar com atenção os primeiros cargos de liderança e média gestão. Faz-se necessário um trabalho de base, que prepare a mulher para ir conquistando cada passo desse caminho; e que prepare também as organizações, influenciando para que não só proporcionem esse primeiro estágio de liderança às mulheres, como contribuam para que elas se desenvolvam e alcancem cargos ainda mais altos.

Um dos principais desafios está nos vieses inconscientes e no preconceito que o universo do trabalho imprimiu ao longo da história. Temas relacionados, por exemplo, à maternidade ainda são um grande tabu, que precisa ser quebrado, em especial para que homens e mulheres tenham agendas mais equilibradas. A “tripla jornada de trabalho”, que engloba as responsabilidades nos âmbitos profissional, doméstico e familiar precisa ser compartilhada. Esses são alguns dos temas que dificultam que a mulher conquiste a carreira dos seus sonhos.

Políticas de equidade de gênero são fundamentais para garantir que as mulheres possam vivenciar situações de plena oportunidade, trazer o mesmo tratamento para todos, respeitando as individualidades. Realizar processos justos, permitir o acesso à informação e salários igualitários é apenas o começo. Precisamos ajudar a construir um ambiente respeitoso e seguro e que as suporte para que possam desenvolver suas habilidades e alcançar novas posições. E, para além disso, trabalhar em uma cultura que apoie uma boa preparação, desde a base, passando pela gerência e média gestão, onde ainda há muito espaço para conquistar, para que elas possam ampliar conhecimento e networking.

E, muitas vezes tendo alcançado a posição almejada, vem o desafio de como ajudá-las a se manter nessa posição. É comum ouvir que as mulheres se veem sozinhas e enfrentam muitos desafios. Ao longo da minha trajetória, foi comum encontrar histórias em que, quando imersas em uma maioria que muitas vezes é masculina ou que não pensa ou age como a profissional, fica bem mais difícil o processo para conseguir emplacar suas ideias, decisões, propostas e transformações. O ser humano tem a tendência de preferir o similar e, num ambiente mais masculino, as particularidades de uma liderança feminina podem não conseguir capturar apoio. Nos sentimos mais empoderados e mais fortes quando não nos sentimos sozinhos. Aqui, é importante construir e contar com toda uma rede de apoio e temos que estar atentos a como podemos ajudar a manter essas mulheres nas posições que alcançaram.

Reconheço que estou em um lugar de privilégio, em uma empresa que iniciou essa jornada de diversidade e inclusão há mais de uma década, por entender que era o caminho necessário para manter nosso negócio saudável e relevante para nossos consumidores. Afinal, nossas marcas estão em 100% dos lares brasileiros e nada mais natural do que ter a sociedade representada em nossos produtos, anúncios, políticas e quadro de profissionais. Atualmente, já alcançamos os 54% de mulheres na liderança e, em posições de diretoria, 59% do quadro de profissionais. Desde então, temos trabalhado na interseccionalidade da presença feminina e, aqui, estamos falando de mulheres negras, com deficiência e mulheres trans. E, acreditem, esta pluralidade nos proporciona um olhar abrangente, com impacto direto nos negócios, bem como em processos de inovação e criação.

E, quando estamos nesse lugar de privilégio, como podemos fazer mais para tantas outras mulheres? Quero ser parte da rede de apoio, quero ser suporte, quero dar voz e celebrar cada uma dessas mulheres e suas conquistas. E convido a todos, porque essa é uma outra jornada na qual a expressão “it takes a village” (“Isso requer uma aldeia”) encontra todo o seu significado.

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