A diversidade ainda é um tabu
Ao longo de minha vida pessoal e profissional passei por diversas situações que reforçam o quanto o preconceito com a comunidade LGBTQIAPN+ é (ainda) uma realidade
Ao longo de minha vida pessoal e profissional passei por diversas situações que reforçam o quanto o preconceito com a comunidade LGBTQIAPN+ é (ainda) uma realidade
Adoraria começar esse texto, no mês do Orgulho Gay, dizendo que o mercado de trabalho e a sociedade estão livres do preconceito e que ninguém é preterido por sua orientação sexual. Infelizmente, ainda não foi desta vez. Mas tenho uma boa nova: é possível fazer a diferença.
Ao longo de minha vida pessoal e profissional passei por diversas situações que reforçam o quanto o preconceito com a comunidade LGBTQIAPN+ é (ainda) uma realidade. Na Inglaterra, onde trabalhei por dois anos, tive a oportunidade de participar de um grupo de afinidade para discutir questões da comunidade. Mas só decidi fazer parte do grupo após me certificar de que a lista de participantes não era pública e que isso não iria impactar meu desenvolvimento de carreira.
Vale traçar um paralelo importante sobre a diferença entre a cultura inglesa e a latina. Lá, definitivamente, não importa quem você é fora da empresa, o que você faz, para onde você vai e com quem você sai. O que importa é quem você é dentro da companhia, como executa e entrega suas atividades.
Aqui no Brasil, no entanto, é o oposto: vida pessoal e profissional se misturam. Quando voltei ao Brasil, me retraí. Vivi anos e anos carregando um enorme peso de criar um personagem. Como há uma intensa interação (e curiosidade), foi comum criar narrativas para me enquadrar nos padrões que eram socialmente mais bem aceitos.
Por receio, mantive minha orientação sexual em segredo por muitos anos. Tive inúmeros medos: ser exposto, não ser aceito, não ter o devido reconhecimento, desse fato impactar diretamente na progressão da minha carreira. Medo de simplesmente ser quem eu era e quem realmente sou.
Quando me senti pronto, ingressei no grupo de afinidade na empresa, recém-criado no Brasil, nos mesmos moldes daquele do qual fiz parte em Londres. O Unity, tem quase 700 colaboradores, entre pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ e pessoas aliadas, que participam ativamente como uma verdadeira rede de apoio.
Inclusive, esse ano, o Unity completa 20 anos globalmente. E como um dos simbolismos buscamos ser um caminho para o progresso de forma diversa e interseccional para transmitir resiliência e esperança no futuro.
Claro que o caminho ainda é muito longo, mas já evoluímos bastante como sociedade. Atualmente, as pessoas que entram na empresa, por exemplo, conseguem se identificar. Há um sentimento de pertencimento e representatividade. Hoje, olho pelo retrovisor e consigo aprender com tudo isso que o Rodrigo do passado sofreu e faço minha parte para tentar minimizar o sofrimento da nova geração.
Ter o apoio de lideranças com interesse genuíno e engajamento na agenda é muito importante para que a cultura de diversidade seja implementada em toda a companhia. Quanto mais engajamento tivermos, maiores serão os esforços para evoluirmos nessa luta e termos cultura de fato. E hoje, já conseguimos ir além e mudar também algumas políticas da empresa, como dress code, por exemplo, que não é mais definido sob a ótica do gênero masculino ou feminino.
Além disso, é extremamente importante trazer as vivências e sentimentos para as conversas. E mais do que os grupos de afinidade, precisa ter diversidade nos comitês de ética e decisores das empresas. Só assim será possível criar um ambiente corporativo realmente seguro e onde as pessoas não se escondam. Com isso, teremos cada vez mais comunicações e políticas de diversidade feitas por pessoas diversas que realmente vivenciam, sabem e entendem a dor e a delícia de serem simplesmente quem são.
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