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A fábrica de unicórnios

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Opinião

A fábrica de unicórnios

A combinação de transparência e confiança não só estimula projetos como garante o aporte de capital e conhecimento na sua melhor combinação


24 de setembro de 2019 - 12h52

(Crédito: UnitoneVector/istock)

Passar uma semana em Estocolmo nos força a refletir sobre quanto tempo gastamos olhando para o passado versus quanto tempo devemos investir no desenho do futuro. Um país pequeno (nove milhões de habitantes) pode facilitar uma série de coisas, mas há lá um norte que orienta a todos: comunidade, empresas, governo e academia devem andar de mãos dadas. Integração é a palavra-chave. E isso só acontece onde há transparência e confiança. A força dessa combinação não só estimula projetos que já nascem criando valor para todos os stakeholders como garante o aporte de capital e conhecimento na sua melhor combinação.

Vivi essa experiência em 2011, quando, junto com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), e com o apoio da equipe do Banco Central e do Zap, fundamos o Índice FipeZAP. Um serviço que nasceu para servir milhões de forma gratuita e que garantiu retorno para todos os envolvidos, fosse financeiro ou de informação. O sucesso dessa fórmula precisa ser replicado com muito mais sucesso no Brasil. A academia poderia abrir mais as portas, as atitudes do governo poderiam procurar maior alinhamento com a iniciativa privada e as empresas deveriam destinar mais recursos para os projetos de longo prazo.

Mas, voltando a Suécia, em um programa do KES (Knowledge Exchange Sessions), que promove uma semana de imersão e troca de conhecimento com diversas startups e empresas consolidadas, fui procurar me abastecer de práticas que fizeram do país o segundo maior celeiro de unicórnios do mundo. Um país que, como bem resumiu nosso amigo Efraim Horn, “é tão oxigenado que todos acabam ficando loiros no processo”.

É certo que ter 100% da população com educação garantida e um modelo de distribuição de renda extremamente sofisticado ajuda muito. E esse nível de desenvolvimento está explícito de muitas formas. Uma delas está nas paredes de instituições públicas e privadas, onde vemos estampados os 17 ODS — ou Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. Tão simples quanto isso. Tão natural quanto deve ser. Como comentou nossa amiga Joanna Monteiro nessa mesma coluna, é invejável, né?

O espírito de visão e aventura faz parte da cultura viking. Essa conjunção trouxe aos empreendedores suecos outras duas características: eles miram no global, já que o mercado é muito pequeno; eles se arriscam mais, na medida em que lhes é garantida uma “rede de segurança” (safety net) caso o seu negócio não prospere. No campo acadêmico, chama a atenção que a propriedade intelectual é dos pesquisadores e não é transferida para a universidade, já que essas são públicas. Como efeito prático dessa premissa, o senso de coletividade dos suecos é notável.

Um dos aprendizados que ouvimos sobre liderança é que devemos partir de um modelo de gestão hierárquica para o que eles chamam de “wirearchy”. Sabemos bem que, em organizações altamente hierarquizadas, o medo impera sobre o risco. Quando anulamos a figura do “topo da cadeia”, oferecemos ao líder a possibilidade de mostrar a sua vulnerabilidade. E quando ele é encorajado a dizer “não sei”, o que estamos efetivamente oferecendo a ele, e à organização, é a oportunidade de se aprender algo novo. Como ouvimos do executivo de uma aceleradora de startups: “A incerteza é a característica central da inovação”.

Em outra palestra, desta vez de Magnus Lind kvist, um dos mais respeitados especialistas em futurismo, autor de diversos livros e professor da Escola de Administração de Estocolmo, fomos desafiados a pensar se o que buscamos é competir ou criar. Voltando à equação que me trouxe aqui, acho que passamos muito tempo movidos pela competição. Hoje, não tenho dúvidas de que o futuro deve ser movido não apenas pela criação, mas pela cocriação. Pela integração de todos aqueles que serão beneficiários de uma sociedade mais igualitária, de um país mais justo e desenvolvido. Para isso, precisamos entender, desde já, como disse Lindkvist, que “o futuro não é um lugar, não é uma época. É um processo”.

*Crédito da foto no topo: Unsplash

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