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A falácia da separação entre mérito e diversidade

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Opinião

A falácia da separação entre mérito e diversidade

Abordagens que defendem a meritocracia pura esquecem algo essencial, o viés inconsciente


11 de outubro de 2024 - 6h00

Acreditar que o mérito e a diversidade estão em lados opostos é uma armadilha comum, especialmente entre executivos que adotam o MEI (mérito, esforço e incentivo) como uma forma “pura” de meritocracia. Por exemplo, Alexandr Wang, CEO da Scale AI, plataforma de inteligência artificial focada em treinamento de dados, defende uma abordagem de contratação baseada exclusivamente no mérito, afirmando que, quando a excelência técnica é priorizada, a diversidade emerge naturalmente. Wang acredita que eliminar qualquer consideração demográfica ou identidade na contratação garantirá que “os melhores” ocupem os cargos — uma visão que Elon Musk também apoia. Contudo, essa abordagem ignora algo essencial: o viés inconsciente. Estudos em psicologia social mostraram que as pessoas tendem a preferir aqueles que se parecem ou pensam como elas, mesmo sem perceber.

 A diversidade não é redução de padrões

A crítica mais comum ao DEI (diversidade, equidade e inclusão) é que ele “baixa o nível” de exigência ao contratar pessoas de grupos sub-representados. No entanto, essa visão é falha, pois não considera a verdadeira função do DEI: expandir a noção de mérito. Estudos da McKinsey e da Deloitte demonstram que equipes diversificadas têm melhor desempenho financeiro e são mais inovadoras. A diversidade não é um paliativo; ela é uma estratégia que eleva o nível de excelência ao trazer novas perspectivas e experiências para a mesa.

Imagine uma equipe de desenvolvimento de software composta apenas por pessoas de um mesmo background. Todos têm ideias semelhantes e os resultados, embora tecnicamente adequados, não rompem com o previsível. Agora, adicione à equipe alguém com um histórico de vida completamente diferente, talvez alguém que tenha enfrentado desafios de acessibilidade. Essa pessoa trará novas abordagens para problemas, revelando soluções que os outros membros da equipe sequer considerariam.

 O relatório da McKinsey “Diversity Wins” mostrou que empresas no quartil superior em diversidade de gênero e etnia são 25% mais propensas a ter um desempenho financeiro acima da média. O ponto aqui é claro: diversidade não é uma concessão. Ela é uma estratégia de crescimento. E aqueles que resistem a essas mudanças correm o risco de se tornarem obsoletos em um mercado que exige cada vez mais pluralidade de ideias e abordagens.

Muitas empresas não conseguem se adequar nem ao MEI, nem ao DEI. A resistência a abrir processos de contratação e a acolher verdadeiramente novas perspectivas acaba limitando as oportunidades de inovação e, no longo prazo, o sucesso da própria organização. O que se mantém é um círculo fechado de poder que, ao travestir-se de meritocracia, nega tanto a inclusão quanto a verdadeira excelência.

 O papel sociológico e filosófico da diversidade

Diversidade não é apenas uma questão de justiça social; ela é uma necessidade organizacional em um mundo globalizado. É o confronto de ideias diferentes que gera avanços e, por fim, o consenso. Na prática, isso significa que uma empresa que investe na inclusão não está apenas criando um ambiente mais justo, mas também mais propenso a gerar soluções inovadoras.

No ambiente corporativo, isso significa que a diversidade de perspectivas, longe de ser uma fonte de divisão, é uma força que, quando bem gerida, gera inovação e consenso. Empresas que incentivam essa pluralidade ampliam sua capacidade de responder aos desafios complexos que o mercado e a sociedade impõem.

 A integração DEI e MEI: a única solução sustentável

A visão maximalista rejeita a ideia de que DEI e MEI são opostos. Na verdade, eles se complementam de forma natural. O mérito não pode ser reduzido a um conjunto fixo de critérios técnicos; ele precisa ser ampliado o suficiente para reconhecer as diferentes formas de excelência que surgem de contextos diversos. Da mesma forma, a diversidade sem excelência técnica corre o risco de ser meramente simbólica. Portanto, a única forma sustentável de avançar é integrar essas duas abordagens.

Como exemplos de empresas que integram DEI e MEI temos a Microsoft que mantém rigorosos critérios técnicos, mas também investe significativamente em diversidade, garantindo que as equipes não sejam apenas competentes, mas também inclusivas e variadas; e a Salesforce que equilibra metas claras de inclusão com um compromisso com a excelência. Em ambos os casos, a diversidade e o mérito não são mutuamente excludentes; são forças complementares que impulsionam a inovação e o sucesso.

 

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