A morte do editor digital
No atestado de óbito, o The Washington Post justifica que todos os jornalistas de uma empresa são prioritariamente digitais
No atestado de óbito, o The Washington Post justifica que todos os jornalistas de uma empresa são prioritariamente digitais
A sentença foi deliberada pelo The Washington Post: o cargo de editor digital (ou editor multimídia) está extinto. No atestado de óbito, a empresa de Jeff Bezos (leia-se Amazon) justifica que todos os jornalistas de uma empresa são prioritariamente digitais. E que não há sentido atribuir uma função digital a quem deve ser digital como pré-requisito. Quem deve ter a marca de sua plataforma é o editor de papel.
Verdade que o The Washington Post é um inovador nato, desde que Bezos o comprou. Uma infografia é construída sempre a seis mãos (jornalista, infografista e desenvolvedor de sistemas). Aliás, como a operação jornalística é produzida para o digital – o papel é uma saída adaptada no fim do dia – os desenvolvedores estão presentes em todos os passos do conteúdo. Há um desenvolvedor para cada cinco jornalistas.
A estratégia de ser uma empresa digital adota decisões de coragem para quem sempre viveu no reinado do papel. Sim, a receita do papel segue fundamental, mas por que organizar a redação em função de uma mídia que fatura cada vez menos, que é seguida pela metade dos leitores de há cinco ou 10 anos? Quem não se mexer com rapidez corre o risco de não emplacar em 2020.
Por isso a linha de pensamento do The Washington Post faz todo sentido. A empresa é essencialmente digital, que é onde a audiência mais se conecta com os conteúdos. Sendo assim, é dali que deve vir a receita para o novo modelo de negócios. Esperar milagres do papel significa assistir a morte lenta da marca. Portanto, digital é a base da produção de conteúdo. Papel é apenas uma saída. Isso não significa tirar a importância do papel, mas repensá-lo. O que devemos publicar? Que tamanho deve ter? Com que frequência? E com que tipo de conteúdos?
The Washington Post criou três novos cargos, de escalão médio-alto, para substituir o editor digital (escalão alto). Agora há um editor de operações, um editor de produtos e um editor de projetos. O primeiro ocupa-se de garantir que tudo aconteça dentro dos horários estabelecidos. O segundo preocupa-se com a qualidade do que é publicado em todas as plataformas. O último pensa em futuro, em qualquer nova iniciativa que traga dinheiro ou prestígio à marca.
Enfim, um modelo moderno, dinâmico, diferente, que consegue enxergar alguns anos à frente. Se é para ser copiado, talvez sim, talvez não. Certo é que quem não se mexer e seguir esperando melhores resultados em um mesmo modelo de operações e negócios que já desapareceu, vai ficar com o futuro comprometido. Há outros meios com movimentos parecidos, de pelo menos repensar a estratégia de futuro. The New York Times, é claro, e recentemente Dallas Morning News, El País (Madri) e O Globo (Rio de Janeiro) reorganizaram suas linhas de produção de conteúdo. É um bom começo, mas ainda não é a chegada ao ponto final. The Washington Post foi mais longe.
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