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Opinião

A nova – e madura – fase da Internet

Nunca a rede passou por um momento tão definitivo. E, por incrível que pareça, nunca esteve tão evoluída


30 de janeiro de 2019 - 9h32

Crédito: reprodução

Se existe uma entidade central na minha vida profissional, ela atende pelo nome de Internet.

No ano passado, 2018, completei 21 anos de carreira. Toda ela tem sido marcada pela onipresença da rede mundial de computadores. Desde o início, como estagiário na revista Imprensa, até agora, como empreendedor na área de comunicação. Em 1998, jornalista na Gazeta Mercantil, tocava a cobertura para uma editoria chamada e-business, que tentava decifrar o início da transformação digital – que nem se chamava assim. Lembro que frequentava de duas a três coletivas de imprensa diariamente, com lançamentos e novidades de empresas que surgiam no “mundinho pontocom”. Escrevi um livro sobre o assunto (e-book na Amazon, aqui), centenas de reportagens e artigos sobre o tema e realizei incontáveis conversas, entrevistas e cafés relacionados ao assunto.

Se mais de duas décadas acompanhando intimamente esse mercado me ensinaram alguma coisa, é esta: o mundo digital nunca passou por uma fase tão madura como agora.

Antes que você me classifique como louco, explico.

De modo grosseiro, a história da Internet no mundo pode ser dividida em três fases. A primeira foi a de infraestrutura, de 1969 a 1994, marcada pela criação do protocolo TCP/IP, do hipertexto, do e-mail, da Web e dos navegadores. A segunda fase marcou a expansão comercial da rede, de 1994 em diante – quando surgiram as empresas pioneiras digitais, como Netscape, Amazon, Yahoo!, AOL e MSN, entre outras. Já a terceira etapa, de relacionamento, começou em 2004, quando surgiu o Facebook e as pessoas começaram a entender o tamanho do Google. Fase que dura até hoje.

Ou, melhor, durava.

(Parênteses para falar de Brasil; já voltamos ao tema principal.)

No Brasil, a linha do tempo seguiu ligeiramente diferente. Começou em 1988, no ambiente acadêmico, e até 1994 ficou restrita a pesquisadores, cientistas, geeks e nerds. A segunda fase, de 1994 a 1997, foi o tempo das nossas empresas pioneiras – Mandic, Zip.Net, NutecNet, UOL, Booknet e Cadê?.

A terceira etapa aconteceu entre 1997 e 1999, com a explosão comercial, a chegada dos gigantes estrangeiros e quando a rede passou a ser conhecida pelo público. Também foi a era das aberturas de capital (os grandes IPOs), dos fundos de investimento, do crescimento acelerado e do surgimento de centenas de empresas pontocom.

A quarta etapa aconteceu de 2000 a 2004 e foi marcada, logo de início, pela forte queda das ações da Nasdaq, no estouro da bolha especulativa do mercado financeiro. Foi a fase conhecida como “inverno nuclear”, marcada pelo “darwinismo digital”, com dezenas de empresas morrendo, muitas se consolidando (em fusões e aquisições) e pouquíssimas sobrevivendo com sucesso.

Por fim, a quinta fase da Internet brazuca começou, assim como nos EUA, também em 2004. Foi quando explodiu por aqui uma rede social chamada Orkut. Ela deu início à democratização, irrestrita e irreversível, da rede no Brasil. Fase que dura até hoje.

Ou melhor, durava.

(Fecha parênteses.)

Em 2019, podemos dizer que o mundo entra na Internet fase 4. O Brasil, na Internet fase 6.

A globalização e o avanço tecnológico fizeram com que, finalmente, as fases se unificassem. A partir de agora, a linha do tempo se torna a mesma.

E chega uma etapa nova. Que os especialistas estão começando a chamar de fase de autorregulação.

Você já entendeu: sabemos tudo e mais um pouco da Internet. Dominamos a tecnologia, os dispositivos, as conexões, as conversas. Agora, passamos a nos perguntar: “pra quê”?

“O que eu faço com tanta informação? E com tanta desinformação?”

“Preciso mesmo ficar online 20h por dia? Isso faz bem ou mal?”

“Faz sentido entrar nessa discussão, de forma tão escancarada? Ou é melhor me preservar?”

“Minha privacidade ainda vale alguma coisa? Ou o mundo, agora, é assim mesmo?”

As perguntas são inúmeras.

Nessa nova fase, chegou a hora de responde-las.

A beleza desse processo é que a Internet, que nasceu livre, tende a continuar desse jeito – mesmo com várias tentativas defendendo o contrário.

Significa que cabe a nós, somente a nós, responder a essas questões. Ou ignorá-las.

Ou, ainda, cair na tentação que toda beleza nos provoca, que é abusarmos do direito de usufrui-la – e, em vez de evoluirmos, perdermos tempo discutindo futilidades, exagerando no tom das discussões e simplesmente brigando, quando deveríamos buscar caminhos de consenso.

A nova fase da Internet é seu momento mais definitivo. Onde, depois de adquirir tantos conhecimentos e habilidades, vamos decidir para onde e como vamos seguir, como sociedade. Bem parecido com uma adolescência, ou com uma crise dos 40. Melhor: como uma crise dos 50, já que, em 2019, a Internet vai virar cinquentona.

Um novo rumo vem aí. Você está preparado?

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