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A Olimpíada como cimento social

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Opinião

A Olimpíada como cimento social

A Rio 2016 deixou um grande legado para a nossa indústria e as suas marcas: a necessidade de ídolos diferentes, de valores nobres, posturas exemplares, gestos simples, causas em comum, gerando a fascinação e a união de milhares – até milhões – de pessoas


13 de setembro de 2016 - 10h21

A Olimpíada vai deixar para mim um legado muito maior do que a infraestrutura, do que o desejo das novas gerações de se tornarem atletas, do que o resgate de um sentimento de orgulho há muito tempo ferido pelas crises. Eu vivenciei nessa Olimpíada uma coisa pouco comum na vida, que catalisa emoções e experiências simples e essenciais.

Capítulo 1 — o cimento da família: A conquista maior dessa Olimpíada foi para mim a reunião das famílias em torno de um mesmo assunto, de maneira gregária, todos os dias, todas as noites, na frente da televisão sem saber exatamente a qual modalidade íamos assistir. Só sabíamos que íamos ficar vidrados, descobrindo esportes improváveis, gesticulando, vibrando com os esportistas, etc. Foi um ritual que durou duas semanas. A volta a um convívio familiar frente a um conteúdo contagiante.

Conversas, debates, brigas, brincadeiras em cima de um mesmo tema, tudo em um só ambiente, saindo da individualização do consumo dos conteúdos, saindo do isolamento das telas respectivas de cada um. Vimos esse assunto crescer e virar cultura popular. Filhos e filhos de amigos improvisando Jogos Olímpicos no jardim, e assim por diante. As emoções ao vivo transcenderam as telas e juntaram todos numa fusão entre famílias e amigos.

Capítulo 2 — o cimento de uma sociedade em evolução: Ver que existem 201 nações diferentes. Torcer para um atleta de um país que nem conhecíamos duas semanas atrás. Entender o que é um refugiado. Ver uma corredora parar a sua prova para ajudar uma outra. Descobrir histórias de vida fascinantes por trás de carreiras esportivas bem-sucedidas. Dezenas de imagens que mostram para a gente e para os nossos próximos uma visão mais justa, mais humana, mais aberta e mais generosa da vida. Uma visão mais forte e mais transcendental do que a competição em si.

A tradução mais extraordinária dessa sensação foi quando meus filhos de seis, oito e dez anos vieram me falar que eles queriam ir para o Rio de Janeiro ver os Jogos. Mas não os Jogos Olímpicos, que eles acharam ótimos. Mas sim os Jogos Paralímpicos. Eles ficaram muito mais fascinados pelos atletas paralímpicos do que pelos atletas olímpicos. A minha filha de seis anos quer ver o futebol de 5 com cegos, os meus filhos querem natação, atletismo e basquete… Eles acham esses atletas absolutamente incríveis, e maiores do que os outros, em todos os sentidos.

Eu pensei nesse momento como era minha relação com pessoas com deficiência quando eu era criança, meu olhar sobre elas, minha incompreensão, meu susto ao não entender o diferente, a diversidade.

Capítulo 3 — o cimento de uma indústria em transformação: O esporte virou cultura popular. O assunto bateu recordes de engajamento. Os atletas transformaram-se em inspiração. Um enredo que reuniu todos os ingredientes de uma boa história: construção de identidade com as pessoas, originalidade de conteúdo e atitudes edificantes. O brasileiro foi protagonista e não audiência. A Olímpíada deixou um grande legado para a nossa indústria e as suas marcas: a necessidade de ídolos diferentes, de valores nobres, posturas exemplares, gestos simples, causas em comum, gerando a fascinação e a união de milhares — até milhões — de pessoas.

Um cimento para a vida quando muitas coisas parecem cada vez mais se polarizar e se pulverizar.

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