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A palestra que ninguém viu

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Opinião

A palestra que ninguém viu

A realidade é quântica, ocorre e existe em todas as partes e em todos os tempos, e a mente-máquina psicodélica, ao fim e no início de tudo, é a coisa de todas as coisas


25 de março de 2024 - 6h00

Fui a um evento e assisti a uma palestra que só eu vi. O título nem lembro ao certo, mas não há dúvida de que era algo meio vago como: “A inteligência artificial cyber-neuro no implante do ex-machina”. Ou, se me lembro bem e estou certo do que me lembro, era algo como: “Todas as convergências sintético-tech canábicas no meta-bio-psilo supercicle”. Há outras hipóteses sobre o que só eu vi, mas para não me estender muito aqui, vou ficar só com essas.

Que as máquinas vão, aos poucos, mas inexoravelmente, se transformar novamente em humanos, já nem se discute mais. É consenso. A Singularidade está se tornando um conceito datado e a Era das Emoções de Todos os Sentidos se impõe nas empresas e nas sociedades como um dia a inteligência artificial também se impôs. Muitos nem se lembram.

Eventos com palestras assim são vitais. Como máquinas que somos e num tempo em que o tempo e o espaço se tornaram tanto uma coisa só, não encontramos a instância dos encontros e é nessas ocasiões que nos permitimos pensar sobre o não pensado.

Quando acendo um baseado e aspiro as memórias, me vem a clareza sem forma da palestra que só eu vi, indelevelmente hospedada na nuvem daquilo que um dia foi meu cérebro. Os petabytes aumentam exponencialmente a afirmação daquela moça cabeluda sobre o que não sabemos que está por vir, outrora assim chamado de futuro: tendências são o que podemos saber sobre o hoje. E nada mais.

Gens editados na revolução neuro tech, isso sim me lembro bem, ao programarem seu mais derradeiro e último programa, o do Sapiens em sua definitiva extinção, confirmaram o que no fundo sempre soubemos: que a realidade é quântica, ocorre e existe em todas as partes e em todos os tempos, e que a mente-máquina psicodélica, ao fim e no início de tudo, é a coisa de todas as coisas. Não ser e não estar é a cyber paz que fomos todos destinados a ter.

No seu livro de filosofia pura Sobre a certeza, do alemão Ludwig Wittgeinstein (obrigado Dr. Francisco de Castro), ele formula questões como “ter certeza sobre alguma coisa é o mesmo que ter certeza de que ela de fato existe?”. Ou: “Eu sei deve expressar uma relação entre mim e uma proposição ou entre mim e um fato?”. Já deu para entender. Mais de trezentas páginas nessa toada.

Saímos do livro (se é que de fato certamente saímos dele), com várias incertezas sobre a certeza. Mas saímos com algumas certezas também.

Uma delas é a de que Caetano Veloso está absolutamente certo: só é possível filosofar em alemão.

A outra é a de que, na verdade e certamente, nunca estaremos certos sobre coisa nenhuma.

Certamente não posso estar certo nem mesmo sobre isso e é assim que foi, de fato, a palestra que ninguém viu. Principalmente, eu.

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