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Opinião

A “pós-verdade” como oportunidade para minimizar polêmicas

Em um tempo em que crenças contam mais do que fatos, plataformas digitais de promoção de causas são aliadas para neutralizar debates controversos


30 de março de 2017 - 11h00

Foto: Reprodução

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Quando a Oxford Dictionaries, departamento da universidade de Oxford responsável pela elaboração de dicionários, elegeu a “pós-verdade” (“post-truth”) como palavra do ano, parece que o mercado compreendeu melhor o curso (estranho) das narrativas digitais de 2016. A explicação sobre o que é pós-verdade resume o que vimos nos últimos 12 meses no Brasil e no mundo, em termos de comunicação e cobertura jornalística dos principais acontecimentos. O significado de pós-verdade é: “o que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.

Do ponto de vista das empresas de comunicação no Brasil o cenário parece promissor. Na esteira do que aconteceu no âmbito político nacional e mundial, vemos a necessidade de lidar com polêmicas que se tornam dogmas. É preciso ser capaz de lidar com o comportamento emocionado de quem compartilha sem avaliar a credibilidade e a referência do que lê na rede. É o caso, por exemplo, das dietas da moda que induzem as pessoas a excluir alimentos sem base em dados, mas em opiniões; ou dos debates acalorados sobre temas como ciclovias e mobilidade urbana.

O comportamento, muito disseminado em âmbito digital, principalmente em redes sociais, também catapulta a oportunidade de empresas, associações e coletivos a criarem novos meios de fazer as pessoas refletirem antes de reagir e compartilhar. Plataformas digitais podem ser uma das ferramentas a dar conta de esclarecer polêmicas. Foi o que aconteceu com a mobilidade urbana durante as eleições de 2016. A plataforma mobilidade ativa encampou o tema e se dedicou a esmiuçar as falas e compromissos dos candidatos à prefeitura de São Paulo em relação ao assunto. No caso da recente polêmica com Rita Lobo no Twitter, que trouxe à tona os modismos alimentares e a tirania nutricional, uma empresa ou associação que promovesse o equilíbrio à mesa poderia se beneficiar da discussão online.

Do ponto de vista de relações públicas dessas plataformas o futuro apresenta um caminho novo e sem modelos prontos para o contato com os diversos influenciadores. Obviamente, jornalistas, blogueiros e produtores de conteúdo com ampla audiência são públicos importantes para a estratégia de relacionamento

Por meio de conteúdos e narrativas que engajam, produzidos por jornalistas em contato com os melhores especialistas sobre os temas, esses ambientes têm potencial de se firmar como fonte de credibilidade para os públicos de interesse. Um oásis de confiança em meio ao deserto de informações desencontradas e replicadas sem reflexão.

A estratégia, embora prioritariamente digital, não ignora as mídias tradicionais, mas faz uso intenso dos novos canais. O foco é estar onde o usuário final está e pelo qual é mais impactado, auxiliando não apenas empresas, mas também causas a estabelecerem uma comunicação mais eficaz e menos emocionada sobre temas indevidamente controversos. O resultado é uma redução no impacto negativo desses assuntos, fazendo uso dos mesmos lugares em que eles são velozmente disseminados. E isso em linha com investimentos condizentes aos orçamentos mais enxutos, que são realidade em todos os setores.

Do ponto de vista de relações públicas dessas plataformas o futuro apresenta um caminho novo e sem modelos prontos para o contato com os diversos influenciadores. Obviamente, jornalistas, blogueiros e produtores de conteúdo com ampla audiência são públicos importantes para a estratégia de relacionamento, que deve dar conta da comunicação multicanal. A execução pede agilidade e interfaces genuinamente críveis (preferencialmente do mesmo grupo que pretendem alcançar) e predispostas a falar a língua desses públicos e entregar o conteúdo que precisam, da forma que precisam.

Enfim, não há fórmula pronta, mas fato é que se a era da pós-verdade traz ruídos de comunicação, traz junto uma grande oportunidade para os melhores comunicadores.

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