A quem interessa tratar artistas como vilãos do orçamento público?
Parece pouco produtivo e extremamente antidemocrático restaurar qualquer tipo de argumento que interseccione artistas com privilégios
A quem interessa tratar artistas como vilãos do orçamento público?
BuscarA quem interessa tratar artistas como vilãos do orçamento público?
BuscarParece pouco produtivo e extremamente antidemocrático restaurar qualquer tipo de argumento que interseccione artistas com privilégios
Esta semana me surpreendi com um artigo publicado em vários veículos prestigiados do País, dentre eles a Folha de S. Paulo, noticiando o pagamento de cachês para os artistas que participaram da mais recente campanha de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Governo Federal, junto com o ícone Zé Gotinha. Títulos como “Campanhas da Saúde com artistas custam R$ 630 mil aos cofres públicos” tomaram conta das redes.
Eu fiz parte desse grupo, e posso apenas falar por mim, não pelos demais.
A primeira pergunta que me surge é: qual é a intenção da imprensa brasileira em divulgar uma nota como esta? Questionar o poder público se artistas que disponibilizam suas agendas, seus talentos e seus direitos de imagem devem ou não ser remunerados por isso? Porque, se for, parece pouco lógico friccionar o óbvio: é trabalho, sim.
Também me parece pouco produtivo e extremamente antidemocrático restaurar qualquer tipo de argumento que interseccione artistas com privilégios — a famosa falácia do “artista vagabundo da Lei Rouanet” — uma das munições preferidas da extrema direita do Brasil.
A Lei Rouanet, que durante anos fomentou o audiovisual e a cultura deste País, foi completamente desmobilizada nos anos de Bolsonaro e acaba de ser reaprovada, dentro da mais honesta republicanidade, junto com a recriação do Ministério da Cultura (MinC).
Foram quatro anos de marasmo completo e desmonte cultural. Em países como França, Espanha, Itália, não se faz cinema sem apoio governamental, e nem preciso me aprofundar em como a indústria cultural ajuda a desenvolver, além da identidade de um país, setores como turismo, moda, comércio, entre outros. Está tudo extremamente interligado. A cultura é o agente econômico mais potente deste País.
Sinceramente, a gente precisa ser mais estratégico e consciente. Não adianta reclamar do inimigo se usamos o mesmo método para ganhar likes.
Eu fui um dos protagonistas dessa campanha que preferiu não receber cachê, mas em momento nenhum significa que eu não o merecesse ou que fosse menos ético que meus colegas que receberam, ou receberam e doaram para uma instituição de caridade. Eu já estava feliz demais em estar ao lado do Zé Gotinha em uma campanha nacional em uma causa tão importante: a vacinação.
Não custa lembrar também que a verba de publicidade do Governo Federal é prevista por lei. E também não custa lembrar que no governo anterior ela foi gasta com apresentadores de programas policialescos que faturam explorando cada milímetro do sofrimento alheio.
De que lado vocês estão?
Compartilhe
Veja também