A revolução silenciosa das bikes e o que ela tem para nos ensinar
Inovação, foco e propósito são algumas das lições de uma das indústrias que mais ganhou força durante a pandemia
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10 de fevereiro de 2021 - 14h01
Com um crescimento a passos largos nos últimos anos, o mercado de bicicletas passou por uma aceleração sem precedentes em 2020. Para se ter uma ideia do que aconteceu, os grandes fabricantes mundiais ficaram sem estoque, as vendas de bicicletas chegaram a aumentar em 118% em comparação com alguns meses de 2019, segundo a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), e as startups do setor tiveram um crescimento recorde.
Quais foram os motivos desse boom “inesperado”? As razões são muitas. Entre as principais delas, estão o aumento da prática esportiva outdoor, a redescoberta da bicicleta como instrumento seguro de lazer e, claro, o aumento do número de ciclistas urbanos evitando aglomeração no transporte público.
Mas, por trás dessas mudanças de comportamento atípicas e que anteciparam tendências, existem fatos que mostram como essa indústria já estava se preparando silenciosamente para esse crescimento exponencial e que podem servir de inspiração para os rumos do seu negócio ou setor.
Acelerada inovação tecnológica
A indústria está abraçando a inovação. O mercado está de fato sendo redesenhado do ponto de vista tecnológico. Estima-se que, em 2030, a quantidade de bicicletas elétricas produzidas na Europa já seja superior ao número de bicicletas convencionais, totalizando 30 milhões de unidades no ano, segundo comunicado apresentando por três dos principais representantes do setor no continente europeu.
Além disso, as inovações na cadeia de produção para tornar a máquina de duas rodas mais leve, conectada e segura não param: conexão wireless, impressão 3D de peças, rastreamento remoto e engenharia de última geração são só alguns exemplos.
A disrupção não se restringe ao equipamento em si: a Zwift, plataforma líder em ciclismo virtual, cresceu 300% esse ano comparado a 2019 e levantou R$ 450 milhões de dólares em investimentos. Ironman, Xterra e Brasil Ride, três das mais respeitadas competições outdoor, lançaram suas plataformas de Desafio Virtual e encontraram uma nova forma de se conectar com seu público, gerar experiência e receita através de um novo mundo de competições digitais.
Sustentabilidade como centro do negócio
Não se trata apenas de marketing, a indústria está pautada em um produto que, de fato, gera impacto social positivo. A hegemonia dos veículos movidos a combustível fóssil já vem sendo questionada há anos e a bicicleta cresce rapidamente como uma grande solução de transporte limpo. Isso reforça o alinhamento da indústria com o espírito de seu tempo e da direção que as políticas públicas devem seguir.
Outro aspecto importante é a crescente preocupação da indústria com a economia circular e o “mercado de segunda mão”, uma vez que itens como a bicicleta têm uma vida útil de muitos anos. Em 2020, houve um boom de vendas de bikes usadas. Isso chamou a atenção não só de fundos de investimento, mas, principalmente, das grandes marcas do setor que perceberam a importância de fomentar todo o ciclo do produto.
Envolvimento com a comunidade
Muito mais do que um bem de consumo, a bicicleta é um estilo de vida e uma paixão de milhares de pessoas pelo mundo. O Brasil, em especial, vem passando por uma “febre” da bicicleta e a comunidade que está sendo fomentada é parte fundamental da receita de sucesso.
O aplicativo Strava, por exemplo, grande mídia social dos ciclistas, divulgou recentemente que atingiu 73 milhões de atletas no mundo e 9,5 milhões apenas no Brasil, crescendo 350% desde 2019, contribuindo para o engajamento da comunidade brasileira.
Outro fator importante foi a consolidação de um herói nacional no esporte e um expressivo aumento da visibilidade em veículos de massa. Henrique Avancini, que foi o primeiro brasileiro a vencer uma etapa do Campeonato Mundial de MTB, disputará uma medalha olímpica inédita e é responsável por despertar uma paixão por provas de ciclismo.
Apesar de todos esses bons números e resultados, o que vem para 2021 ainda é uma incógnita em todo o mundo e setores. O caminho pela frente é longo e existem profundas necessidades de mudanças de políticas públicas para que alguns avanços possam chegar a mais e mais pessoas.
Mas, do campo dos negócios, para quem está olhando para a frente e quer se pautar em uma indústria que se provou em um dos anos mais difíceis da história, aqui já ficam valiosas dicas para quem quer estar preparado para o crescimento: abraçar a inovação tecnológica, ter um propósito central ao negócio e focar suas ações não só no produto ou serviço, mas nas necessidades de seus fãs e clientes. Simples, como uma bicicleta.
**Crédito da imagem no topo: hh5800/iStock
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