A tirania do egoísmo e a audácia da generosidade
Os dois “conceitos” pareçam marginais demais para circunscrever discussões no mundo dos negócios, mas é fato que decisões e fiascos nascem única e exclusivamente norteados por eles
A tirania do egoísmo e a audácia da generosidade
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O título pode soar destoante, mas ele há de elucidar sua razão de ser. Egoísmo é um substantivo masculino que nomeia um amor-próprio excessivo, que leva um indivíduo a olhar somente para suas opiniões, interesses e necessidades, sendo ele totalmente capaz de desprezar necessidades alheias. O contrário de egoísmo é o altruísmo, ou seja, comportamento de quem tem amor ao próximo, de quem é solidário com os outros, a esculhambada da generosidade.
Ainda que os dois “conceitos” pareçam marginais demais para circunscrever discussões no mundo dos negócios, talvez, por serem considerados abstratos ou emotivos demais, é fato que decisões e fiascos nascem única e exclusivamente norteados por eles. Se fossem dois times, para qual gostaria de torcer? Em qual deles estaria o que admira?
Alguns psicanalistas afirmam que vivemos a era do egocentrismo generalizado, consequência de uma geração que aprendeu com os pais e com a sociedade que podia tudo, no matter how. Porém, como todo movimento abrupto, vem também uma contra concorrente, uma cultura de protesto, de negação do modelo atual, historicamente falando.
A tensão da trombada trouxe para o contexto social atual um zeitgest permeado de uma áurea generosa, de abnegação, o que, de largada, soa acentuadamente bélico e agnóstico demais para modelos e circunstâncias de negócio estabelecidas.
O User Centrismo, que sempre foi tratado como um menino punk pregando o anarquismo para meia dúzia de fãs do Che Guevara, tomou geral de assalto, e os pregadores do velho testamento ficaram obsoletos rápido demais.
Geert-Jan Bruinsma, Travis Kalanick, Daniel Ek e Uri Levine não estavam para brincadeira, e a base da inovação guiada pela generosidade colaboraram para o florescimento e amadurecimento de um novo modelo de negócio, gestão de pessoas e obtenção de lucros.
A insurgência e a valorização do handicraft, que acanhadamente cresce conectando criadores a apreciadores, a proliferação de espaços compartilhados, o nascimento de lojas colaborativas, com nichos que permitem que o talento sem condições financeiras para manter loja própria encontre seus clientes. As cervejarias, carinhosamente chamadas de ciganas, que, sem fábrica para produzir, encontram na capacidade ociosa de cervejarias concorrentes o seu polo industrial de produção. É uma bandeira branca em prol da importância do outro ganhar também.
O mundo indie do gueto pulsante da Skina, do 5º andar, da Endossa, da Leaf, do Mestre das Poções e a sua maneira de fazer negócio, subversiva a lógica, banhada pelos princípios básicos da negociação, que prega que ela só é boa se for para ambas as partes, estão causando náuseas nas estruturas sisudonas, product centrics e coronelistas até a alma.
A generosidade pode não servir para diacho nenhum, mas talvez não exista mais um jeito de conquistar bons resultados sem ao menos dar uma flertadinha com ela.
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