A vida e as ideias sempre encontram um caminho
O fictício Jurassic Park e a Copa do Mundo do Qatar, na realidade, talvez não devessem ter acontecido, mas lembram que dificuldades sempre foram a mola-propulsora das invenções
A vida e as ideias sempre encontram um caminho
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BuscarO fictício Jurassic Park e a Copa do Mundo do Qatar, na realidade, talvez não devessem ter acontecido, mas lembram que dificuldades sempre foram a mola-propulsora das invenções
Uma pessoa que sofre de um excesso deplorável de personalidade. Assim John Hammond, o dono do parque, descreve o personagem do Dr. Ian Malcolm, o matemático especialista em teoria do caos no filme Jurassic Park. Faz sentido. Ele é uma espécie de Han Solo da franquia. O cara meio rebelde que solta frases espirituosas para dar aquele alívio cômico na história.
Qual é a melhor maneira de encontrar um T-Rex em San Diego? É só seguir os gritos, e ele responde. E quando alguém fala que, no início, até a Disney teve problemas, ele não titubeia e responde: “Sim, mas se o Piratas do Caribe quebrar, os piratas não comem os turistas”.
Mas a minha preferida nem é uma das fanfarronas. É a que fala sobre a vida: “Se tem uma coisa que a história da evolução nos ensinou, é que a vida não pode ser contida. A vida se liberta. Ela se expande para novos territórios e atravessa barreiras dolorosamente, talvez até perigosamente… Estou simplesmente dizendo que a vida encontra um caminho”.
Falo de Jurassic Park, mas penso na Copa do Qatar. Talvez como o próprio parque, um projeto que nunca deveria ter sido levado adiante. Mas foi. Mesmo com seus jogos fora de época. Com a temperatura abusiva. Com o governo do país proibindo a venda de cerveja nos estádios dois dias antes da abertura. Com trabalhadores morrendo em condições sub-humanas para completar as obras. Com o veto às bandeiras LGBTQIAP+. Com as denúncias de suborno na votação.
O que a Fifa e o Qatar não se deram conta é de que ideias não podem ser contidas por decretos. De um jeito ou de outro, elas também encontram seu caminho. Não pode levar bandeira de arco- -íris para os jogos? Alguém pensou em uma bandeira branca com os códigos de pantone das cores para burlar o sistema (https://bit.ly/3HBLaw5). Proibiram a ven-da de cerveja nos estádios? Em seguida, a Budweiser anunciou que doaria todo o estoque para o país vencedor (https://bit.ly/3Hwqhm2) e fez ainda mais suces-so nas redes sociais. Não tem como fazer protestos pelos trabalhadores mortos ou que perderam seus direitos no Qatar? Que tal projetar mensagens chamando a aten-ção sobre o problema nas sedes da ONU, da Fifa e no Estádio de Wembley (https://bit.ly/3j52Kya)?
E teve o caso da braçadeira. A Fifa ameaçou punir as seleções que entrassem em campo com a braçadeira de capitão da campanha One Love, em apoio à causa LGBTQIAP+. A Inglaterra obedeceu. Mas a Alemanha mostrou que sempre tem um jeito. No dia seguinte, antes mesmo de a bola rolar, eles posaram para a tradicional foto da equipe com as mãos sobre as bocas (https://bit.ly/3HCtUXB) para que o mudo todo soubesse que eles estavam sendo calados. Pode ser melhor? O melhor é que pode. A Ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, foi até o Qatar e assistiu à partida ao lado do presidente da Fifa, Gianni Infantino, usando justamente a braçadeira proibida (https://bit.ly/3uO0Kx2).
Dificuldade sempre foi a mola-propulsora das invenções. Inclusive no futebol. Quando o cruzamento não deu pra cabecear, Leônidas da Silva se jogou no ar e inventou a bicicleta. Quando colocaram barreira nas faltas, Didi inventou a folha seca. Quando a marcação achava que o drible seria de um lado, Rivellino aplicou o elástico e saiu para o outro.
E essa é a maravilha de todo briefing. Por mais tortuoso que seja, por mais barreiras que existam, seja num parque cheio de dinossauros ou numa Copa cheia de restrições, sempre tem uma saída. E não precisa nem ser especialista em teoria do caos para saber: ideias sempre encontram o seu caminho.
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