Agências dos sonhos estão além dos Leões
Os prêmios são importantes, mas deixaram de ser suficientes para atrair e manter talentos
Os prêmios são importantes, mas deixaram de ser suficientes para atrair e manter talentos
Há um ano, fui convidada pra fazer uma live sobre saúde mental na agência que eu estava como parte das iniciativas de setembro Amarelo. Preparei um mate rial com dados, tabus e minha experiência com a depressão e o transtorno de ansiedade. Gosto de expor minhas batalhas psiquiátricas como forma de mostrar que elas não me impediram de crescer na profissão ou de ter uma vida feliz, uma maneira de tentar inspirar as pessoas a olhar pros sinais de alerta e buscar ajuda.
Pra reforçar minha teoria e mostrar que é importante falar sobre saúde mental abertamente no ambiente corporativo, convidei três colegas que eu sabia que tinham sofrido um bocado pra contarem suas histórias também. Nós quatro viramos dezesseis e os trinta minutos de live viraram duas horas. Quando terminou, recebi muitas mensagens, com diversos olhares sobre tudo que mexeu conosco naquelas duas horas, mas uma coisa em especial chamou a minha atenção: a frustração de quem trabalhava diariamente com pelo menos uma daquelas dezesseis pessoas e não percebeu nada. E é sobre isso que quero falar hoje.
Quando falamos de saúde mental (ou a falta dela) dentro das agências, estamos falando de pessoas. Estamos falando dos colegas com os quais fazemos reuniões, almoçamos, trocamos, compartilhamos pelo menos nove horas dos nossos dias. Alguns mais fechados, alguns mais expansivos, mas todos passando por emoções e situações que a gente nem faz ideia. E estamos falando de ambientes que nem sempre são acolhedores e humanizados.
Por muitas décadas, a publicidade foi uma profissão inóspita, com muito glamour e poucas noites de sono, assédio pra todo lado, e pouco espaço pra uma rotina saudável. Ainda é assim em alguns lugares por aí, e por muitas vezes perdi a esperança na mudança. Mas aí, pouco a pouco, fui encontrando pessoas que queriam — como eu — fazer uma publicidade diferente. Naquela live, eu vi pessoas saírem diferentes.
As agências são feitas por pessoas, e quanto mais delas — as pessoas — que que rem ver a publicidade mais humanizada se juntarem dentro das agências, quanto mais oportunidades de fazer diferente elas tiverem, mais rapidamente teremos um ambiente que não adoece quem está ali.
Olhar pro lado é um primeiro passo, cuidar de quem está perto, olhar de verdade pros colegas e pros nossos times. Perceber as olheiras, a falta de apetite, os silêncios. Cuidar também é falar com respeito, com empatia, com contexto.
E como não falar em cuidado de base dentro das agências? Cuidado com o número de horas trabalhadas, cuidado com o tamanho dos times em relação às demandas, cuidado pra não ignorar sinais de alerta ou a voz das pessoas, cuidado em utilizar a comunicação não violenta, cuidado em manter a transparência, cuidado ao oferecer suporte emocional e abordagens empáticas, ao olhar os colaboradores como seres humanos em toda a sua complexidade
Agências precisam colocar a experiência do colaborador no centro do seu negócio; os publicitários cada vez toleram menos a cultura tóxica que normalizou o que nunca deveria ter sido normalizado.
E que bom, porque a mudança traz ganhos pra todos os lados, sem exceção. Pessoas mentalmente saudáveis produzem mais e melhor, e a possibilidade de elas irem embora é bem menor. A velha publicidade não cabe no novo mundo. Hoje, as agências dos sonhos estão além dos Leões e elas estão nas nossas mãos.
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