Agências, façam parte da Aliança
Embora movimento que visa descontruir estereótipos na comunicação publicitária tenha sido criado pelas marcas anunciantes, é preciso que agências também assumam essa agenda
Embora movimento que visa descontruir estereótipos na comunicação publicitária tenha sido criado pelas marcas anunciantes, é preciso que agências também assumam essa agenda
No começo de fevereiro, tive a chance – e a honra – de ocupar uma das cadeiras da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. Na Trusteeship Council Chamber, sala antes usada para supervisionar a administração dos territórios sob tutela, durante a transição de colônias para nações soberanas, aconteceu o Unstereotype Alliance Global Members Summit, encontro global da Aliança sem Estereótipos da ONU Mulheres.
Por dois dias, vivi tudo o que somente via pela TV e me senti criança de novo. Tirei foto de tudo, mandei vídeos para minha família e me emocionei ao pensar que o mundo talvez tenha jeito, sim. Talvez.
Além da Soko, estavam presentes Artplan e VML, agências que fazem parte da Aliança no Brasil e que enviaram seus representantes. Nas demais cadeiras, empresas de todo o mundo se dividiram para apresentar seus aprendizados, cases de sucesso e, principalmente, para ouvir e aprender de forma cooperativa.
E foi nesse cenário que tive a primeira grande surpresa. Uma conhecida, que trabalha e vive em outro país, me puxou de canto e disse: “Vocês vieram a convite de qual cliente?”
Eu, um pouco surpresa com a pergunta, respondi que viemos como Soko mesmo.
Descobri, mais tarde, que a presença de agências nesse evento não é tão comum quanto a presença de marcas, por isso a pergunta. E que mesmo o objetivo do encontro sendo impulsionar a indústria e contribuir na criação de uma publicidade socialmente responsável, a publicidade estava menos presente lá do que o marketing. Artplan, VML e Soko eram exceção, não regra. Por quê?
A resposta curta e confortável é que a Aliança sem Estereótipos nasceu da movimentação das marcas, não de agências. E que seria natural, portanto, ainda hoje ter menos agências entre as empresas-membro. A resposta um pouco mais sincera é que, mesmo anos depois, poucas são as agências que veem sentido em se aproximar para construir mudanças reais junto à ONU Mulheres – e não apenas para oferecer uma ideia inovadora e pontual de campanha pró-bono para se inscrever em Cannes.
Falando em Cannes – essa hora ia chegar, vocês me conhecem – tenho ido ao Festival nos últimos anos. Lá, vejo o cenário oposto: muito mais agências do que marcas, ainda que esse último número esteja crescendo. O porquê, você também já sabe: Cannes, hoje, é a principal moeda de promoção, reconhecimento e valorização da nossa indústria. E quem diz isso é o Scopen, não a Gabriela.
E é aí que mora o problema. Nossa maior moeda de troca é uma moeda ligada à criatividade e ao ego, mas não necessariamente ligada a resultados reais ou à relevância social de marca. E essa moeda provavelmente continuará sendo uma das mais importantes – senão a mais importante – nos próximos anos.
Mas, se você é um talento da comunicação, sabe que Cannes está longe de ser o melhor termômetro para tudo. É muito legal? É. Mas não pode ser a única moeda. E é por isso que estou fazendo este texto, pedindo pra você puxar um papo aí dentro do seu time para tentar se aproximar da Aliança sem Estereótipos. E digo mais: se aproximem também de outros projetos, outras organizações e outras visões. Quanto mais, melhor.
A Gabriela que entrou na ONU pela primeira vez saiu dois dias depois com um recado claro na cabeça. Em meio a tanta correria, acabamos esquecendo de algo que deveria ser o básico: a melhor comunicação é aquela que é relevante para quem se destina – não apenas para quem a aprova. Lembremos disso.
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