Agora vai? Idadismo nunca mais!
As marcas, os desejos e as necessidades do público 50+, que se consolida cada vez mais como oportunidade imperdível
As marcas, os desejos e as necessidades do público 50+, que se consolida cada vez mais como oportunidade imperdível
A notícia da Band é um alento: MasterChef + estreia edição inédita, com participantes acima de 60 anos. Depois do The Voice, agora MasterChef. Os puristas dirão que é pouco. Eu prefiro olhar o copo meio cheio.
São episódios de uma jornada que vem ganhando força e espaço nos últimos anos. A luta contra o idadismo, o preconceito por conta da idade, tanto em relação a pessoas mais jovens quanto com mais idade, mas majoritariamente com as mais velhas, é uma vertical que passou a fazer parte, quando faz, das iniciativas de diversidade.
Levar para horários de destaque na televisão aberta tem que ser encarado como oportunidade para aproveitar a audiência para ampliar ainda mais o debate. Afinal, de alguma forma, nossa formação cultural nos levou a incidir numa visão excludente, desqualificante, associando pessoas com mais idade a uma série de aspectos negativos.
Da dificuldade de aprendizado à resistência a novidades, passando por teimosia, fraqueza, só para ficarmos nos mais comuns e que afetam tanto o ambiente de trabalho quanto o convívio social. Os programas corporativos de inclusão, em suas diversas verticais, têm cada vez mais que lidar com o seguinte fato: estamos envelhecendo rápido e vivendo mais em condições plenas para exercer atividades em geral.
Numa sociedade multigeracional como a que vivemos, o desafio é transformar o sinal de adição associado ao número 60 na trilha de soma também em competências, olhares, pensares que irão tornar mais ricos e eficientes os processos criativos. Pesquisa do Instituto Locomotiva em 2019 estimava que “Os Grey Power movimentarão R$ 2,1 trilhões no mercado em 2020”. Essa cifra por si só deveria ser mais que indutora de novos negócios e iniciativas voltadas para esse segmento, mas ainda hoje nos surpreendemos com projetos, muito bem-vindos, como o MasterChef +.
Afinal, de quais categorias de produtos e serviços os 50+ estão aptos a participar? Poderia listar aqui, só para ilustrar, alguns óbvios e que já aparecem, como saúde e bem-estar. Mas, de verdade, por que não financeiro, turismo, vestuário, comida, bebida, lazer, educação, mobilidade, esportes, livros, cinema, vídeos, games, seguro, imobiliário?
Aliás, exatamente as mesmas categorias que o mercado entrega para pessoas com 40 ou 30 anos. O viés cultural, o preconceito, contamina as análises de negócios e inibe o reconhecimento da potência desse segmento. E foi exatamente assim que a pesquisa do Instituto Mediator indicou como sentimento do segmento em relação às marcas: “somos invisíveis”.
A invisibilidade é fruto da ignorância, sem viés agressivo. As marcas ainda ignoram esse segmento. Para mudar o jogo, a regra é clara e está no core da definição de marketing de Philip Kotler: entender quais são os desejos e necessidades dos possíveis clientes e atendê-los de maneira eficiente e lucrativa.
Ouvir, observar, entender, aprender. Quais demandas, quais dores, quais desejos estão por ser atendidos pelas marcas?…R$ 2,1 trilhões estão passando pelas nossas mãos e as desculpas ainda são as mesmas: “vai contaminar minha marca”, “precisamos conquistar o público mais jovem, que vai ficar mais tempo com a gente!”. Será?
Com as possibilidades exponenciais de segmentação de oferta, será que contamina mesmo?
E, se esse for o risco, como fazer do ônus um bônus?
Os 50+ são mais fiéis às marcas. Se considerarmos que viverão até os 80 anos, ao menos os boomers e a geração X, já que os mais novos viverão até os 100 anos, temos 30 anos de contribuição.
Está na hora de deixarmos o preconceito de lado, definitivamente. Como no racismo, somos idadistas em desconstrução. Mas podemos e vamos ver mais iniciativas como o Master Chef +. Ou vamos abrir mão de R$ 2,1 trilhões?
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