“Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”
O legado de um slogan e o futuro da construção de narrativas de um setor que ainda enfrenta desafios nos centros urbanos e entre o público jovem
O legado de um slogan e o futuro da construção de narrativas de um setor que ainda enfrenta desafios nos centros urbanos e entre o público jovem
Há alguns anos, tive a oportunidade de desenvolver o projeto Agro, a Indústria-Riqueza do Brasil enquanto trabalhava na Globo. A ideia era clara: mostrar ao público como o agro se conecta ao seu dia a dia, transcendendo lavouras e pastos para mostrar sua presença em cada refeição, em cada produto. O projeto alcançou grande visibilidade, sendo amplamente exibido na TV e ajudando a construir uma narrativa importante para o setor. Com o recente fim do famoso slogan “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”, comecei a refletir sobre o impacto que essa campanha teve ao longo dos anos e sobre se o objetivo inicial — trazer o agro para o cotidiano das pessoas — foi realmente alcançado.
Quando o projeto foi desenvolvido, a meta do time — uma equipe de cerca de 20 pessoas entre marketing, Globo Rural e CGCOM — era tornar o agro mais próximo e compreensível para o público, despertando uma visão mais profunda sobre como esse setor influencia a vida de todos. Com o alcance e visibilidade da Globo, vislumbramos a chance de explorar o agro de uma forma inédita, usando o storytelling para evidenciar a tecnologia, a modernidade e o impacto econômico dessa indústria.
O slogan “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo” se tornou um símbolo desse movimento, encapsulando a ideia de que o agro não é apenas produtivo, mas inovador, presente e essencial. Ele mostrou que o agro é dinâmico e está em toda parte, mudando a percepção de muitos. Semana passada, ao assistir a uma peça do projeto sem o slogan, perguntei-me: será que conseguimos cumprir a missão? Como o agro é percebido pelo público hoje?
Para responder a essa questão, é essencial revisitar dados e pesquisas sobre a percepção atual do agro, sua adoção de tecnologias, impacto econômico e visibilidade. Uma pesquisa da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) em 2013, intitulada “A Percepção da População dos Grandes Centros Urbanos sobre o Agronegócio Brasileiro”, indicava que a maioria dos moradores das 12 maiores capitais reconhecia a importância do agro para a economia nacional, mas muitos ainda tinham uma visão limitada, associando o setor principalmente à produção de alimentos, sem considerar aspectos como a conveniência que a indústria traz à vida na cidade, nem seu caráter de tecnologia e inovação. Esse cenário apresentava uma oportunidade clara para construir uma narrativa mais completa.
Já em 2022, uma pesquisa promovida pelo Movimento Todos a Uma Só Voz revelou que sete em cada dez brasileiros têm uma visão positiva do agronegócio, sugerindo uma boa percepção pública, que possivelmente reflete o impacto de campanhas como “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”. Esse movimento trouxe visibilidade e moldou uma imagem mais moderna do setor. Porém, no extremo oposto, 22% dos entrevistados indicaram que boicotariam o setor, o que mostra que, entre a parcela da população que se sente distante do tema, o posicionamento é bastante categórico.
Esse contexto revela que ainda há desafios, especialmente em centros urbanos e entre o público jovem, onde a compreensão sobre a complexidade do agro é mais limitada. Uma pesquisa da revista Interações destacou que agricultores familiares brasileiros sentem que o público urbano ainda não entende plenamente suas contribuições e desafios. Isso sugere que, embora tenhamos avançado, o setor agro precisa continuar construindo uma narrativa que o aproxime ainda mais do cotidiano das pessoas.
Considerando os resultados das pesquisas e a própria vivência diária no setor, fica claro que a criação de narrativas ainda é essencial para o agro. Não basta apenas produzir e inovar, é preciso comunicar de maneira eficaz tanto para quem está dentro do setor quanto para quem está fora dele. As narrativas ajudam a construir uma conexão emocional, educar o público e combater preconceitos. No cenário atual, vejo o marketing como um aliado fundamental para criar e distribuir essas histórias, promovendo um entendimento mais completo e moderno sobre o que o agro representa.
Por fim, é gratificante olhar para trás e ver que o slogan “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo” transcendeu seu propósito original, tornando-se uma forma de falar sobre a complexidade e relevância dessa indústria. Hoje, tanto quem defende quanto quem critica o agro conhece e utiliza esse bordão, o que prova a força inquestionável da combinação entre criatividade e projetos de grande alcance.
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