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Políticas antirracistas não são tendências e devem estar presentes em toda a cadeia do mercado
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Às vésperas de mais um Novembro Negro, o case Bauducco ganhou a mídia e virou assunto. Não somente nos grupos de publicitários, mas viralizando na internet, especialmente pelas personagens em torno da história. A vulnerabilização de profissionais racializados, a apropriação de ideias e conceitos de artistas negros seguem a todo vapor – sem o devido crédito e, consequentemente, remuneração.
Segundo dados do Estudo Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras – Observatório da Diversidade na Propaganda 2023, apenas 10,3% dos profissionais que ocupam cargos de liderança nas agências de publicidade (nível gerente e acima) são negros (pretos + pardos). Vale ressaltar a gritante desproporcionalidade tendo em vista que 56,1% da população do País é negra (dados do IBGE). O estudo, lançado pela Gestão Kairós em conjunto com o Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP), traz ainda outros marcadores como gênero, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, entre outros.
Pedro Tourinho, atual Secretário de Cultura e Turismo de Salvador relatou a ausência de patrocinadores para a programação de eventos que acontecem na cidade ao longo do mês de novembro. Salvador, cidade com mais pessoas afrodescendentes no Brasil, sediará mais de 20 eventos em uma agenda realizada por e para pessoas negras. Somada à questão racial, a concentração de investimentos publicitários no Sudeste é outro fator que explica a ausência de marcas apoiando tais iniciativas.
Ao longo do texto, Pedro fez um alerta sobre o qual devemos nos debruçar. “Precisamos falar (…) no cinismo e na miopia cultural e social dos gestores de verbas e de suas agências”. Além das próprias marcas, precisamos sublinhar o quanto as agências, majoritariamente brancas, estão sendo coniventes com práticas racistas.
Na mesma semana do caso AmarElo, recebemos uma contraproposta 1/30 inferior a um orçamento enviado para uma campanha global de uma gigante do varejo no segmento de beleza. A agência se mostrou extremamente confortável em trazer uma proposta de valor para uma ação 30 vezes inferior ao que foi pedido para um talento – negro -, com presença em outros territórios para além de Brasil e Estados Unidos.
O budget sai da marca, chega à agência e nos é repassado sem o menor constrangimento. E isso é grave: exemplifica o conforto de agentes do mercado em perpetuar práticas racistas. Conivência e cinismo mesmo!
A urgência de uma discussão sobre racismo, impulsionada pelos acontecimentos de 2020, parece ter dado uma arrefecida para as marcas e o mercado de publicidade três anos depois. O que vamos colher neste Novembro Negro? Que avanços teremos tido na última década com essa discussão em nosso mercado? Precisamos estar atentxs e em um diálogo constante com os players, sobretudo com os que estão repassando a bola neste jogo!
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