Almas das histórias

15 de abril de 2025 - 14h00

A ansiedade de se estar diante de uma página em branco e precisar preenchê-la com uma ideia, uma história, um posicionamento. Essa é uma agonia que afeta qualquer um que lida com processos criativos. Para muitos, a saída é recorrer aos aliados da criatividade: referências e inspirações diversas, que vão desde acessar uma memória em silêncio até iniciar um movimento corporal. A investigação sobre os tortuosos caminhos que desbloqueiam o fazer criativo foi o que moveu a elaboração das reportagens, entrevistas e ilustrações que compõem esta edição especial, que celebra os 47 anos de Meio & Mensagem.

Das referências artísticas aos momentos de ócio, dos memes das redes sociais ao crescente auxílio da inteligência artificial, da nostalgia ao futurismo. São inúmeras as matérias-primas capazes de inspirar os profissionais que desenvolvem os enredos e as estratégias que movimentam a publicidade, a produção de conteúdo, o marketing de influência e o entretenimento. As atitudes que os ajudam a sair da inércia são ainda mais desafiadoras no atual contexto complexo e altamente impactado por fatores como a tecnologia, a hiperconexão, as bolhas algorítmicas e as demandas always-on, como debatem os textos publicados nas páginas 62 a 124.

A missão de desenvolver projetos de comunicação e marketing ousados, atraentes e conectados ao espírito do tempo e ao público atual enfrenta obstáculos permanentes, como o do medo de não ter o controle total das narrativas. O que se dá, especialmente, com a criatividade sujeita aos limites e metas de negócios, mas que, para conseguir atenção, precisa ser capaz de gerar histórias sedutoras.

Com a experiência de quem se divide entre os processos criativos da publicidade, guiados por metas mercadológicas, e a liberdade estética e conceitual da literatura, Carla Madeira constata: “O principal mordedor do processo criativo é o medo”. A publicitária e escritora, fundadora e presidente da agência Lápis Raro, de Belo Horizonte, é a autora brasileira de ficção mais lida dos dois últimos anos e uma das convidadas a analisar o tema proposto por esse especial. Além dela, as próximas páginas trazem entrevistas sobre o assunto com a cantora Ludmilla, o escritor e roteirista Raphael Montes, autor da novela Beleza Fatal, a fundadora e CEO da Creators LLC, Nohoa Arcanjo, e o global head of creator marketing da Edelman, Tyler Vaught. Há, ainda, uma grande entrevista, que abre a edição, com Daniela Abravanel Beyruti, CEO do SBT.

A pedido da redação, oito diretores de arte deram suas interpretações pessoais ao processo de busca por inspiração e têm seus trabalhos publicados ao longo desta edição: Andrea Souza, creative director da Wieden+Kennedy (pág. 62); Philippe Daijó, executive creative director e head of art da Galeria (pág. 64); Sofia Colautti, diretora de arte na Droga5 (pág. 72); Alexandre Vilela (Xã), vice-presidente de criação na BETC Havas (pág. 84); Mariana Piano, diretora de arte na Publicis Brasil (pág. 98); Felipe Massis, diretor de criação na Leo (pág. 102); Tai Reis, diretor de arte associado na AKQA (pág. 110); e Elaine Maia, diretora de arte na WMcCann, que fez a arte estampada na capa.

Também está na capa a ilustração produzida pela MSP Estúdios especificamente para a Entrevista Coletiva com Mauricio de Sousa, que respondeu perguntas enviadas por personalidades como Xuxa Meneghel, Margareth Menezes, Luccas Neto e Gil do Vigor.

O inventor da Turma da Mônica é um exemplo de criador que se transformou em personagem da cultura popular brasileira e inspirou gerações de criativos das mais diversas áreas. Mauricio reconhece seu papel de despertar a imaginação e transportar os leitores para universos mágicos e estimulantes. Ao encorajar seus seguidores e fãs a encontrarem a própria voz, ele lembra que o processo de criação exige paciência, dedicação e libertação do medo de errar, e ensina: “Observe o mundo ao seu redor, preste atenção nas pequenas histórias do dia a dia, porque é nelas que muitas vezes estão as melhores inspirações”.