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Americanas cai e leva junto reputações até então inatingíveis e inabaláveis

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Opinião

Americanas cai e leva junto reputações até então inatingíveis e inabaláveis

O tombo da tradicional rede de lojas Americanas provocou um tsunami, não apenas pelo montante financeiro envolvido, mas principalmente pelo golpe contundente em reputações tidas até então como inatingíveis


31 de janeiro de 2023 - 16h27

Crédito: Shutterstock

O tombo da tradicional rede de lojas Americanas provocou um tsunami, não apenas pelo montante financeiro envolvido, mas principalmente pelo golpe contundente em reputações tidas até então como inatingíveis e inabaláveis. O pedido de recuperação judicial ou até a decretação de falência da marca quase centenária não causaria espanto se fosse reflexo das instabilidades do mercado de consumo. Este, porém, não é o caso, pois refere-se a uma “pedalada” financeira no balanço da empresa, tão monstruosa como vergonhosa em função, sobretudo, da envergadura dos nomes envolvidos.

A Americanas segue sangrando no mercado acionário. Suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo tornaram-se tóxicas. Os investidores querem distância de seus papéis. Esta reação já era esperada, ainda mais num segmento extremamente sensível a boatos e mais ainda a verdades irrefutáveis, como no caso em questão. Não houve complacência e muito menos paciência de grandes bancos credores, pequenos investidores e fornecedores, mesmo cientes dos nomes “dourados” que figuram entre os principais acionistas da empresa, os controladores da 3G Capital. O que ficou claro e evidente é que ninguém quer correr risco de ficar a ver navios. Exemplos o mercado já dispõe de vários. E não é de hoje!

Os consumidores, estes mais sensíveis ao noticiário, que continua quente e sensacionalista em relação ao tema, podem lentamente se afastar da marca. O medo de não ter a sua compra paga atendida ou demorar demais para recebê-la já é latente. Importante lembrar que hoje boa parte das vendas das Lojas Americanas é online. Não é por outra razão que o Procon e o Idec, ambos voltados para proteção dos consumidores, imediatamente se posicionaram.

A marca Americanas, seus acionistas majoritários e a empresa responsável pela auditoria dos balanços estão na berlinda. O índice de confiança do mercado está bastante abalado. As perdas dos bancos credores, acionistas minoritários e pequenos fornecedores podem ser gigantescas, de acordo com previsões preliminares. E o acerto de contas, depois de aceito o pedido de recuperação judicial, deve demorar bastante.

Ninguém esperava o tombo da Americanas. Além da sua longevidade no varejo brasileiro, o que lhe dava ainda mais segurança eram os nomes de seus acionistas majoritários, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, listados dentre os mais ricos do Brasil. E, para avalizar isso tudo, uma empresa internacional de auditoria, a conceituada e tradicional PricewaterhouseCoopers, uma das maiores do mundo. Esta junção de forças, de reputações até então ilibadas, o que tranquilizava o mercado, encobriu, durante largo período, uma grande e grave armação financeira, que premiava seus altos executivos, ano após ano, com polpudos dividendos.

A pedalada tornou-se pública após o pedido de demissão do executivo recém-contratado para comandar a empresa, Sérgio Rial, ex-banco Santander. Ficou dez dias no posto e assim que viu o tamanho do rombo, pulou fora do barco. O seu antecessor, executivo de confiança dos acionistas majoritários, ficou 20 anos no leme da empresa. Hoje, aposentado, vive na Espanha.

O trio de acionistas majoritários demorou para se posicionar, o que gerou desconfiança, irritação e estimulou reação pública destemperada de alguns de seus grandes credores. O tão aguardado posicionamento finalmente veio, mas no formato de comunicado pago, impresso em páginas inteiras de grandes jornais nacionais. Páginas inteiras para dizerem que não sabiam de nada, que foram pegos de surpresa. E não apenas isso, que também lamentavam pelo ocorrido. Ninguém acreditou, tanto na negação como no lamento. A esta altura, a imagem pública do trio já estava bastante arranhada.

Este ficou aquém do esperado, não somente pela demora, mas principalmente pelo conteúdo. Ninguém acredita que estes empresários experimentados, que lideram grandes empresas, com presença forte em todos os continentes, não sabiam o que acontecia no balanço financeiro de suas empresas. Não era esta resposta à crise que o mercado aguardava, até pela reputação que o trio construiu ao longo dos anos. Esperavam algo mais consistente. E crível!
Obviamente que esta percepção negativa, que leva de roldão também a reputação da auditoria PwC, que foi míope na avaliação dos balanços da Americanas, pode ser revertida se ação do trio de acionistas majoritários produzir outro encaminhamento para a crise que se abateu sobre uma das mais antigas marcas do varejo nacional. Até que isso aconteça, a reputação dos envolvidos seguirá questionada e maculada.

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