Angels de volta: a perfeição tem seu público
Desfile recente da Victoria’s Secret causou burburinho nas redes sociais e acendeu debate sobre coerência da marca à sua história ou retrocesso em sua agenda de diversidade e inclusão
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A aula de pedal transformou-se em um espetáculo inesperado. À minha frente, a nova campanha da Victoria’s Secret rodava em um telão enorme, enquanto meu treinador, em transe, recitava os nomes das modelos como quem descreve deusas mitológicas. Em seus olhos, via-se a reverência à estética. Era o paraíso do perfeito. Ao meu redor, a reação não foi diferente. As mulheres, maioria esmagadora naquela sala, vibravam, celebravam, cantavam bem alto junto com Cher, como se tivessem finalmente reencontrado uma velha amiga: as angels.
As angels voltaram. Não apenas no sentido físico, mas em um resgate da essência que muitos acreditavam perdida. Um retorno ao culto de Afrodite, à simetria estética quase inatingível que sempre fez parte do DNA da marca. Esse é o ponto de celebração para alguns, mas também o cerne da crítica de outros.
Nos últimos anos, Victoria’s Secret tentou dançar ao ritmo das mudanças sociais, buscando diversidade e inclusão em um esforço para se conectar com o tempo presente. Para alguns, foi uma tentativa desastrosa de abdicar de sua alma. A marca que sempre foi sinônimo de uma estética de perfeição, de uma beleza quase utópica, parecia sufocada pelas pressões de um “mundo chato”, como muitas mulheres ao meu redor descreveram. Mas, será que o problema foi a mudança ou a forma como a essência foi diluída?
Há quem questione essa volta às origens, acusando a marca de perpetuar padrões irreais, longe da diversidade que reflete a realidade da vida. De fato, em um tempo que celebra o plural, o retorno ao singular, àquilo que é “mágico aos olhos”, pode parecer um passo na contramão. Porém, será que todas as marcas precisam ceder ao coro da diversidade? Será que, para algumas, a autenticidade não está exatamente em manter-se fiéis a uma estética própria, por mais polarizadora que seja?
Victoria’s Secret sempre foi uma ilha de perfeição em meio ao mundo imperfeito. E talvez, ao tentar ser algo diferente, tenha se desconectado de si mesma. O retorno das angels não é apenas uma campanha de marketing, é uma reafirmação de que, em um universo onde tudo é imperfeito, há quem queira continuar flertando com o inalcançável. E se há público, por que não existir?
A perfeição, afinal, tem seu público.
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