Antes que 2025 comece
Entre as perspectivas que a análise de 2024 trazem vem o fato de que dada a alta complexidade das relações, hoje, cria-se uma necessidade de voltar ao básico, no sentido do que serve de base
Entre as perspectivas que a análise de 2024 trazem vem o fato de que dada a alta complexidade das relações, hoje, cria-se uma necessidade de voltar ao básico, no sentido do que serve de base
Dezembro chega e é inevitável entrar no modo reflexivo de retrospectiva, que traz consigo aquela já tradicional vontade de o ano acabar para poder descansar, e tentar começar 2025 com o sono mais em dia e um pouco mais de otimismo no coração. Este ano foi realmente intenso, e sei que devo dizer isso todo ano, mas este em especial veio com uma sobrecarga extra de atividades e informações. Aconteceu muita coisa no mundo, aconteceu muita coisa no meu mundo, e também porque a pandemia já está ficando distante e parece que agora a conta está chegando mesmo. Vocês sentem isso também?
Esse modo reflexivo vem como um recurso, como parte de um ritual simbólico de articular os grandes aprendizados do ano e melhor entender o que mais me tocou e me transformou em um determinado ciclo, concluir algo para, então, começar algo novo. Na prática, eu sei que janeiro é só o mês que vem depois de dezembro todo ano, e esses dois conceitos podem viver juntos.
A primeira perspectiva é a de que dada a alta complexidade das relações que se estabelecem hoje, cria-se uma necessidade de voltar ao básico, no seu fundamento, no sentido do que serve de base. No trabalho, isso veio como um clarão, a possibilidade de entender as pessoas com mais nuances, de mapear nichos com mais precisão, a tecnologia nos permitindo desenhar conversas mais personalizadas, um acúmulo de mensagens a serem ditas em um tempo menor, que se somam à pulverização de canais, e canais esses que agora também são pessoas, tudo isso criou uma trama que acabou nos levando a muita ineficiência. Não se deixe levar pelo baixo CPM que a sua super otimização de campanha conseguiu entregar, ele em si não vai fazer mais pessoas se conectarem melhor com a sua marca. A alta sofisticação sem uma direção clara é apenas um monte de palavras, espalhadas em diferentes formatos, interrompendo a vida de muitas pessoas que não estão com tempo para você. E a direção clara vem de entender a base de como construir uma marca, o fundamento da longevidade.
O que me levou à segunda perspectiva, a de que consistência é vantagem competitiva que poucas marcas têm, principalmente porque ela depende de um fator que está em falta nos dias de hoje: tempo. Não é que não temos mais tempo, é que não sabemos mensurar o impacto e o valor do tempo. Eu tenho total clareza do peso dos relatórios de resultados a cada quarter que todos precisam entregar, e são eles que viram argumentos de performance para promoções, aumento de salário e afins, justamente porque são mais facilmente mensuráveis e imediatos. Mas também tenho consciência do dia da marmota que o trabalho vira quando três relatórios de resultados depois a conversa volta para o mesmo problema, porque o crescimento desejado foi um pico e não uma constante e, então, muita gente sênior se reúne para avaliar possíveis rotas, que geralmente acabam em matar a campanha, a estratégia, a marca, e então refazer a campanha, a estratégia, a marca, tudo isso rumo a mais um pico. Consistência e tempo são os pilares que transformam o seu trabalho em legado.
E a terceira e última perspectiva veio de observar o quanto estamos todos, neste contexto de complexidade e tudo no curto prazo, com uma dificuldade enorme de impor limites. A maturidade, somada à terapia, vem me ajudando a perceber quando estou chegando perto do meu limite, para, justamente, evitar que ele seja ultrapassado. Aconteceu uma vez e me prometi ficar atenta. É um observar complexo, porque acaba sendo o resultado de um acúmulo de pequenas coisas, muitas pequenas exceções que a gente faz e que acabam se transformando em um bolo de responsabilidades e ansiedade.
Sabe aquela notificação de e-mail que chega no seu celular de noite ou no meio do sábado, e é bem rapidinha de responder? É ela que vai te fazer cruzar o seu limite. Porque na hora ela não vai fazer muita diferença e você pode parar rapidinho e resolver, sabe? Fora que, se você não responder seu chefe ou a pessoa que te pediu algo, alguém do time vai responder e aí vai parecer que você não está comprometido, porque comprometimento, mesmo no corporativo, é estar sempre disponível, e você sabe que precisa mostrar trabalho porque conhece alguém que foi promovido e que não tem limite e hora para fazer o trabalho acontecer. Porque você precisa desse emprego e impor limites te deixa com um baita medo de se colocar no risco, então, você para o seu sábado e responde rapidinho. Até o dia que a empresa vai te chamar em uma sala, se ela for das legais e não das que simplesmente te mandam um e-mail, e te agradecer pelo serviço, contar que agora eles estão passando por uma reestruturação na área e a sua cadeira não faz mais sentido dentro da nova estrutura. E ninguém vai considerar que você respondeu rapidinho aqueles e-mails no meio do seu sábado. Essa história que eu acabei de contar eu ouvi, este ano, de pelo menos três pessoas próximas.
Estar atenta é preciso não somente por mim, mas pelo meu time, porque o que para mim pode ser um e-mail rapidinho, que eu respondo de noite, para alguém do meu time pode ser um recado de que eu também espero que a pessoa esteja disponível a qualquer hora que uma demanda chegar. E é preciso que isso seja claro: a gente não deve estar sempre disponível, isso não te faz um profissional melhor, mas sim um profissional que está cobrando barato pela hora trabalhada. Estabelecer limites é saudável e necessário para nossas relações no trabalho e na vida.
Portanto, 2024 vai me ajudar a entrar dessa forma em 2025: começando pela base, com respeito ao tempo e dentro dos meus limites. Desejo que 2025 te permita fazer mais o que te realiza, mesmo que para você janeiro seja só o mês que vem depois de dezembro. Nos vemos lá.
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