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Ao contrário do que pensam, ser bootstrap pode ser (muito) bom

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Opinião

Ao contrário do que pensam, ser bootstrap pode ser (muito) bom

Antes de buscar um investidor-anjo, venture capital ou uma plataforma de equity crowdfunding, considere a possibilidade de dar os primeiros passos com as próprias pernas


23 de abril de 2021 - 13h44

(Crédito: Reprodução)

Num primeiro momento, a ideia de se jogar no mundo por sua conta e risco sempre assusta. E tanto faz se for para fazer um mochilão ou empreender. É um sentimento. Se o projeto é criar uma startup, então, essa ideia fica mais distante e dá para entender. A maioria dos empreendedores segue um passo a passo que é via de regra, para startups, começar com o foco no aporte.

A questão é que, muitas vezes, as startups não precisariam levantar dinheiro; mesmo assim, levantam. Ou por ser o único caminho conhecido ou por terem medo do bootstrap — a expressão que no nosso ecossistema significa usar o próprio dinheiro gerado para crescer e acelerar a empresa — ou porque simplesmente é bacana e dá status.

Nada contra. Aliás, as jovens empresas que se vinculam a grandes investidores são rapidamente valorizadas e ganham espaço na mídia. Uma espécie de prêmio por terem recebido investimento. E quem não quer ser visto e reconhecido? Mas há outras coisas para considerar.

A primeira pergunta é: será que toda startup vai se beneficiar com dinheiro injetado? Algumas, sim. Outras, não necessariamente.

Claro que certas atividades exigem e demandam um capital intensivo de investimento. Se eu for abrir um banco é óbvio que precisarei levantar muito capital por ser um mercado de difícil entrada, com tecnologia e operação muito complexas. Já outras empresas, possivelmente se darão bem sendo bootstrap, pois são asset light (leves em ativos) e não precisam construir uma tecnologia super robusta nem uma equipe imensa de profissionais.

Um bom exemplo é a MaxMilhas. A empresa basicamente compra milhas das pessoas e as usam para comprar passagens para outras, fazendo a intermediação. É um processo simples. Em vez de construir uma estrutura com tecnologia de ponta, a empresa começou pequena, com uma operação manual. Foi automatizando parte por parte, reinvestindo o próprio dinheiro gerado.

Os sócios foram bootstrap total e continuam sendo. Poderiam ter crescido muito mais rapidamente, se tivessem captado milhões. Por outro lado, o crescimento veio mais saudável, porque precisaram ser mais conscientes na forma de gastar, contratar e escolher o que automatizar primeiro, em vez de fazer as coisas todas em paralelo.

Dito isso, separei três pontos que vão te ajudar a pensar sobre o melhor caminho para a sua empresa.

O fator governança. Antes de bater na porta de um investidor, considere que o nível de governança da sua empresa vai mudar radicalmente. Os investidores podem pedir para que todo mundo vire CLT; ou então, que você reporte mensalmente ou trimestralmente um relatório financeiro sobre a empresa; que os diretores tenham seguro de vida, além de uma série de demandas que vão gerar mais custos e trabalho. Pondere se realmente vale a pena encarar essa nova realidade.

Quando dinheiro é problema. Parece loucura, mas o risco para quem levanta capital existe. Muito dinheiro pode confundir, quando recebido prematuramente, já que ainda não se tem clareza das necessidades e prioridades, e o recurso pode ser mal alocado. Já aquela empresa que possui menos dinheiro, precisa priorizar e dizer “não” para uma série de coisas. Com isso, ela acaba priorizando melhor e gastando de maneira mais eficiente. Não quer dizer que todo mundo erre, mas há um risco de querer gastar em coisas nos momentos errados. Além disso, a má gestão também entra na prestação de contas.

Por isso, o momento ideal para recorrer aos investidores é quando se tem uma tese de negócio validada, a equipe bem formada (e bem remunerada) e os números comprovam que a base de usuários está crescendo, bem como a receita cresce mês a mês. Você já provou que pode crescer. Conseguirá estimar o dinheiro necessário e onde vai alocar: “Se eu pegar R$ 1 milhão, por exemplo, e investir na área tal, poderei crescer cinco vezes, 10 vezes. Sem dinheiro, eu já cresço duas vezes”.

O timming é uma questão. Entender o ritmo da concorrência, como cresce e o que está fazendo é importante para não ficar para trás. Nesse caso, o aporte seria decisivo. A vida pessoal dos sócios e a real necessidade de dinheiro é outro fator; este, fundamental.  Não faz sentido comer queijo quente todo dia e dormir no chão para economizar dinheiro porque a empresa precisa. Nesse caso, o dinheiro será usado para melhorar o padrão de vida, o que acaba melhorando a entrega da empresa. Isso precisa ser muito bem avaliado.

Em resumo, minhas dicas de ouro são:

– Demore o máximo possível a levantar capital.

– Vá no formato bootstrap até quando puder antes de fechar algo com um investidor profissional.

– Só vale a pena levantar capital se a empresa realmente precisar, como por exemplo, se o dinheiro estiver acabando ou se você tiver encontrado um investidor e parceiro que vai fazer uma diferença tremenda no seu negócio

No final das contas, a decisão cabe aos sócios. Mas segurar a ansiedade e crescer no tempo certo pode valer muito a pena.

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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