13 de agosto de 2018 - 15h28
Nossas referências contemporâneas são fortemente associadas às grandes potências continentais como os Estados Unidos, a Rússia, a China e, de forma um pouco diferente, com uma ideia de Europa. Essas influências, hard power ou soft power, nos pautam o dia a dia, formam nossos critérios, polarizam nossas preferências, nos dizem o que admirar e o que temer.
Mas, na história pós-Idade Moderna, são duas potências sediadas em territórios muito pequenos as mais admiráveis em termos do que conseguiram produzir de obras colossais, herança, influência, formação de identidade e até, por um tempo, de ambição global: Grã-Bretanha e Japão, cada uma em seu lado do mundo, cada uma com sua história, mas com muita coisa em comum.
Tanto o Japão quanto a Grã-Bretanha são nações espalhadas por arquipélagos. Tanto as ilhas de cá quanto as de lá têm seus períodos de conflito, suas rivalidades regionais, seus sotaques e traços. As duas, comparadas a seus vizinhos continentais, Europa e China, são muito jovens.
A Europa já tinha longa história quando a Inglaterra ainda era tribal e caótica. A China já era uma força militar e cultural quando o Japão ainda era parcamente povoado.
Depois disso, vieram as fases de formação de identidade e sistemas de poder: o Japão, ao contrário de hoje, era hiperdividido, com xoguns, toronagás e samurais tentando submeter seus opositores a todo custo; a Inglaterra vivia dividida em gangues, famílias ou aldeias, procurando, da mesma forma, se proteger e expandir. Se você acha o mundo violento hoje, saiba que o negócio era feio nessas épocas também.
Mas do caos se faz a ordem. Tanto no arquipélago do Atlântico quanto no do Pacífico, surgiram sistemas legais, lideranças, poderes centrais, sistemas de produção que influenciaram o mundo, além de estímulos à inovação e plataformas de bem-estar comum.
Mais contemporaneamente, as duas potências tiveram seus projetos imperiais. A Inglaterra começou uma expansão no século 18 que a levou a ter, no início do século 20, metade da área e da população do planeta. Vem daí o apelido Tagline: “império onde o sol jamais se põe”. O Japão, o “Império do Sol Nascente”, levou duas vezes a cabo suas intenções de ultrapoder e, especialmente durante a Segunda Guerra, chegou perto de conseguir. Com seu final, com os débitos acumulados, indenizações e reconstruções, as duas forças voltaram a cuidar da casa: suas ilhas.
Do ponto de vista de cultura, ciência e arte, as duas nações são magníficas em sua produção já há muito tempo. Naturalmente, nós brasileiros temos muito mais informação sobre a cultura britânica. Uma visita ao Japão já tem um caráter extraterrestre. Conhecemos pouco das artes, da cultura, do estilo de vida japonês. Ou, melhor ainda, conhecemos superficialmente, mas não entendemos nada. A não ser que entendamos os porquês. Aí tu- do faz sentido.
Existe um mundo inteiro de produção nas artes clássicas, na indústria cultural, no pop, na tecnologia, no ensino, nas relações e também nas formas de viver coletivamente que pode nos ajudar muito a evoluir.
Eu, particularmente, considero que visitar e conhecer a Grã-Bretanha além de Londres, o Japão além de Tóquio e os países escandinavos proporciona lições muito contundentes para nós brasileiros, no sentido de oferecer mais exemplos e influências além da clássica Europa e do superpoderoso Estados Unidos.
*Crédito da foto no topo: Pixabay/Pexels