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Opinião

As razões do presidente

O filme do Banco do Brasil vetado por Bolsonaro está em sintonia tanto com o público do produto em oferta, quanto com o que têm feito os concorrentes e grandes anunciantes de outros setores


29 de abril de 2019 - 13h36

 

(Crédito: Pedro Ladeira-Folhapress)

Duas semanas depois de obrigar a Petrobras a cancelar um aumento programado no preço do diesel, o presidente Jair Bolsonaro protagonizou mais um caso de ingerência numa empresa controlada pelo governo, mas financiada por capital misto, com ações negociadas na Bolsa de Valores, cujo valor e capacidade de capitalização dependem das avaliações do mercado. Para que mantenham seu poder de atração junto aos investidores, é fundamental que tais companhias sejam vistas como competitivas em termos de concorrência, eficientes em suas operações e confiáveis quanto à governança.

Na quinta-feira 25, o colunista Lauro Jardim, de O Globo, revelou que o Banco do Brasil retirou do ar um filme publicitário, após pedido de Bolsonaro.

Lançada em 31 de março e suspensa em 14 de abril, a campanha foi criada pela WMcCann para ressaltar as facilidades de se abrir uma conta por meio do aplicativo da instituição financeira — o release de divulgação informava que as peças usavam “linguagem jovem e divertida, com termos muito utilizados na internet”.

O presidente do Banco do Brasil, Rubens Novaes, confirmou a conversa com Bolsonaro. Disse que, em consenso, ambos optaram pelo fim da exibição do comercial, sem se prolongar quanto aos motivos que levaram a tal decisão. O descontentamento causou ainda a exoneração do diretor de comunicação e marketing do Banco do Brasil, Delano Valentim, responsável pela aprovação da campanha.

Sob a ótica da cartilha econômica liberal, pela qual Bolsonaro se comprometeu a rezar durante a campanha eleitoral, as intervenções na Petrobras e no Banco do Brasil em decisões de cunho mercadológico são injustificáveis e geram tremenda insegurança para qualquer investidor disposto a colocar seu dinheiro em empresas com participação estatal.

Para emitir a ordem que revogou o aumento do diesel, havia, ao menos, o recall da mais recente greve dos caminhoneiros, que, em maio do ano passado, afetou o País inteiro, freando a economia de forma implacável e comprometendo os resultados de todo o ano. O receio de uma nova paralisação foi a justificativa usada pelo governo para o recuo presidencial. E no comercial do Banco do Brasil: do que Bolsonaro tem medo?

O presidente do País ainda precisa revelar quais foram os motivos que o levaram a ordenar a suspensão da campanha e a exoneração do diretor de marketing da instituição. Até porque, numa avaliação técnica, o filme vetado está em sintonia tanto com o público do produto em oferta, quanto com o que têm feito os concorrentes do banco e grandes anunciantes de outros setores. A representatividade do casting é digna de nota, sim, mas pelo aspecto positivo. Por sua essência, o Banco do Brasil, em operação desde 1808, tem o compromisso de ser um banco para todos, acessível, democrático e popular.

Independentemente das razões do presidente, e para que possa dedicar
seu tempo e energia a grandes temas, como a reforma da Previdência, é recomendável deixar que os especialistas de cada assunto deem a palavra final em suas áreas de excelência. No caso do preço do diesel, os técnicos e executivos da Petrobras; na publicidade do Banco do Brasil, a área de marketing e a WMcCann.

E que os responsáveis sejam cobrados com base nos indicadores estabelecidos e os resultados entregues — e não em crenças ideológicas e atitudes intempestivas que podem desvalorizar a marca e afetar os negócios do banco.

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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