Atenção global
Ao driblar crises e polêmicas, Copa do Qatar comprova o poder mobilizador do futebol como paixão que gera engajamento, ativa o consumo e alerta para questões sociais e políticas
Ao driblar crises e polêmicas, Copa do Qatar comprova o poder mobilizador do futebol como paixão que gera engajamento, ativa o consumo e alerta para questões sociais e políticas
Terminada a primeira metade da Copa do Qatar, são possíveis diversas análises, tanto do ponto de vista futebolístico, sobre as surpresas e zebras, quanto na seara dos negócios e da comunicação. Nesses aspectos, pode-se constatar que as polêmicas envolvendo a escolha, os costumes e as leis do país-sede, que eram prenúncio de crises reputacionais para marcas envolvidas, não comprometeram o engajamento do público e as receitas com direitos de transmissão, patrocínios e venda de ingressos. Estimativas apontam que o evento custou US$ 220 bilhões, tornando-se, disparada, a Copa mais cara da história — a do Brasil, em 2018, como comparação, bateu US$ 15 bilhões. Entretanto, é preciso considerar que o montante inclui a construção dos estádios e investimentos em infraestrutura que o Qatar manterá até 2030 (hotéis, aeroportos, estradas e metrô).
Protestos como os das seleções da Alemanha, cujos jogadores posaram com as mãos tapando as bocas, em referência ao silenciamento imposto pela Fifa à pretendida manifestação de apoio à causa LGBT-QIAP+, e da Inglaterra, que repetiu o tradicional gesto de se ajoelhar contra o racismo, na partida contra o Irã, foram alguns dos momentos em que a Copa expressou ao mundo os contrastes de seus bastidores. Entretanto, as discordâncias em relação às posturas do Qatar não se refletiram em boicotes. As marcas se afastaram dos temas sensíveis e focaram a trilha tradicional de endossar a paixão pelo futebol. Afetada por uma mudança de última hora, a Budweiser reagiu de forma bem-humorada à proibição de venda de bebidas alcoólicas, ao dizer que reverteria ao país campeão o estoque separado para distribuição no evento.
No campo dos negócios, a Fifa bateu recorde de arrecadação no ciclo de quatro anos que antecede a Copa de 2022, somando US$ 7,5 bilhões. As principais fontes de receita são direitos de transmissão pela televisão — solução para a entidade máxima do futebol, mas problema para as empresas de mídia. Por outro lado, a primeira Copa do Oriente Médio tem se mostrado uma campeã de audiência. Até a final do dia 18, deverão ser contabilizadas cinco bilhões de pessoas atingidas, sendo que a expectativa para o último jogo é de um contingente de público dez vezes maior que o do Super Bowl. No Brasil, os índices de audiência estão excelentes, tanto para a Globo, onde houve a melhor estreia da seleção desde 2006, quanto para as novas plataformas — o streamer Casimiro já quebrou duas vezes o recorde de live mais vista do mundo, nos dois primeiros jogos do Brasil; e o Globoplay marcou seu consumo mais alto em um único dia, com 14 milhões de horas de streaming em 24 de novembro. O contraponto entre a previsão de possíveis crises de imagem e os primeiros dados de engajamento da Copa do Qatar são debatidos na reportagem de Taís Farias, nas páginas 32 e 33.
A Copa do Mundo é um evento tão poderoso e midiático que já nutre a expectativa de novos recordes em audiência e engajamento para a edição de 2026, que tem particularidades muito mais favoráveis que a atual, pois será realizada, pela primeira vez, em três países: Estados Unidos, Canadá e México. Com acesso mais fácil e atratividade turística maior, não será difícil superar o total de visitantes do Qatar, onde espera-se 1,5 milhão de pessoas. A expectativa é a de que o faturamento da Fifa salte dos US$ 7,5 bilhões do quadriênio encerrado em 2022 para US$ 10 bilhões de 2023 a 2026 — Adidas, Coca-Cola e Wanda são três dos partners principais já garantidos para o próximo ciclo. Uma das mudanças da Copa de 2026 será o maior número de seleções participantes, das 32 atuais para 48, o que aumenta o total de partidas de 64 para 80, e gera maior engajamento global. Outro ponto muito relevante é o dos Estados Unidos voltarem a ser uma das sedes, com o potencial de aumentar o interesse pelo futebol no maior mercado consumidor do mundo. Foi lá, em 1994, por exemplo, que as seleções deixaram de ter uma cidade fixa para seus jogos e começaram a viajar pelo país, dando outra dinâmica ao torneio. E, é importante lembrar, que os campos estadunidenses foram o palco do tetra do Brasil, portanto, devem ser vistos não só como fonte de boa lembrança, mas também de bom presságio.
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