Assinar

Ator e influenciador ou influenciador e ator?

Buscar

Ator e influenciador ou influenciador e ator?

Buscar
Publicidade
Opinião

Ator e influenciador ou influenciador e ator?

Redes sociais nos igualaram e a pessoa que interpreta precisa ser tão interessante quanto seu personagem


11 de setembro de 2024 - 14h00

A polêmica do momento envolvendo classe artística e influenciadores digitais não é nova, mas tem contornos diferentes e bem mais profundos do que fazem parecer os perfis de fofoca. Ela lembra a antiga discussão onde modelos famosos eram convidados para participar da teledramaturgia e causavam revolta. Luana Piovani, Ana Paula Arósio, Reynaldo Gianecchini e Grazi Massafera já foram alvo de críticas depois que trocaram as passarelas pela telinha.

Recentemente, participantes de reality shows passaram por isso e foram alvo da revolta de atores e atrizes. Do mesmo modo, a presença de influenciadores, como Jade Picon nas novelas, não é uma novidade isolada, mas sim uma continuação de tendências anteriores. Então, nada de novo não é? Errado.

A questão foi levantada pela atriz Alice Braga, ao criticar um cenário que leva atores a criar perfis sociais, para ter seguidores e, assim, conseguir papéis. A situação é mais complexa e profunda do que essa crítica.

Vivemos em um mundo onde a atenção tem ganhado proporções e contornos diferentes. As redes sociais deram espaço e voz para pessoas que talvez nunca aparecessem para o grande público ou mesmo pudessem passar pela “peneira” de quem é escolhido para novelas e filmes. Mas isso quer dizer que todos os atores devem ser influenciadores? Ou que todo influenciador pode virar ator? A questão vai além dessas perguntas.

Em resposta a entrevista de Alice Braga, a comediante, atriz e sucesso nas redes sociais, Miranda (do perfil @aquelamiranda), argumenta que as oportunidades que Alice teve, como sobrinha de Sônia Braga, não estariam disponíveis para outros atores. Miranda ainda argumenta que seu sucesso na internet possibilitou que ela existisse como atriz. Isso é um ponto interessante, porque sabemos que as escolhas de quem entra ou não num casting nunca foram muito claras, nem democráticas.

Mas se as redes sociais dão chance para tanta gente, por que não para novos artistas? A indignação de um coro de atrizes como Alice Wegmann, Paloma Bernardi e Cláudia Abreu, é a pressão para que atores e atrizes tenham que ter uma vida nas redes sociais e seguidores para que sejam relevantes e selecionados para os papéis. E aqui, entra o que eu considero a grande mudança em relação ao passado.

Gente que ficou famosa, por qualquer motivo, sempre participou de novelas e filmes sem ser ator ou atriz. O mundo das celebridades sempre fascinou as pessoas e o público de uma celebridade, seja da internet ou não, pode despertar interesse para uma obra. Mas qual o problema afinal, se sempre existiu espaço para todos?

O ponto é que a profissão de ator/atriz é pública e, hoje em dia, existe, sim, uma pressão para que as pessoas públicas estejam nas redes sociais. O público quer mais do que o personagem, quer saber da vida, o que pensam, o que comem… mas isso sempre existiu, não? As revistas e os jornais que falavam das vidas dos famosos não eram isso?

Hoje, essa narrativa está na mão da celebridade, que no passado podia até usar sua aversão a entrevistas e expor sua vida como estratégia da sua “persona” pública. Mas as redes sociais nos igualaram e a pessoa que interpreta precisa ser tão interessante quanto seu personagem.

E não é uma questão exclusiva dos atores e atrizes. Cantores foram descobertos pelas redes sociais (Justin Bieber foi o precursor disso). E em todas as profissões, ter um perfil público ajuda você a ter valor e a existir. Há uma febre de dermatologistas, corretores de imóveis, chefs de cozinha e até CEOs de empresas que descobriram como as redes sociais podem trazer mais valor para o que fazem. Mas todo chef de YouTube estudou culinária? Não, mas isso é outro sinal dos tempos, as novas gerações aprendem copiando e nem sempre trilhando os mesmos caminhos.

Pode ser que a gente esteja produzindo profissionais piores que são melhores criadores de conteúdo do que são nas profissões que exercem. Mas pode ser que outros talentos possam emergir (já é bem comum no mundo da música). Gostemos ou não, estar fora das redes sociais é uma escolha, mas também é um convite ao anonimato e ao ostracismo principalmente para pessoas públicas. Os artistas que conseguem dominar a linguagem das redes sociais ganham muito com isso e sim, a pressão para nos adaptarmos a esse novo mundo é real e não mostra sinais de que vai embora tão cedo.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Além do like

    O papel estratégico da área jurídica na relação entre marcas e influenciadores

  • A consciência é sua

    A consciência é sua

    Como anda o pacto que as maiores agências do País firmaram para aumentar a contratação de profissionais negros e criar ambientes corporativos mais inclusivos?