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Nova jornada de aprendizagem remota aprofunda desigualdades do País e testa limites de escolas, professores, alunos e famílias


31 de agosto de 2020 - 10h14

(Crédito: Irina Strelnikova/istock)

Um dos assuntos campeões de memes durante a pandemia é o das aulas online. Normalmente, fazem piadas com pais irritados, filhos desatentos, conexões ruins. Enquanto os mais resilientes rezam para que as possibilidades de vida presencial sejam retomadas e a sala de aula saia de dentro de casa, os mais inconformados se envolvem em discussões acaloradas em grupos de mensagens e redes sociais, parte atacando a demora da volta às aulas e os efeitos maléficos sobre as crianças e outra parte acusando os apressados de irresponsáveis diante da grave crise sanitária.

A falta de jeito com as videoaulas impacta mais a educação básica e infantil, que exige mediação das famílias. E talvez seja na observação desta faixa etária que a gente possa se perguntar: o que o entretenimento ainda tem a ensinar à educação? Componentes lúdicos já foram incorporados aos processos educacionais há muito tempo, mas, para crianças e jovens, a concorrência pela motivação e engajamento é feroz — é uma disputa injusta para qualquer
professor e escola ter que rivalizar com a estreia da nova temporada do Fortnite com temática da Marvel, por exemplo, como aconteceu aqui na minha bolha privilegiada, na semana passada. O chamado “edutainment”, que usa elementos dos games e de storytelling, além de robôs inteligentes, para tornar o aprendizado menos regrado e burocratizado, ainda é uma utopia para a maioria da população brasileira, apesar de históricas tentativas louváveis, especialmente na televisão, da Vila Sésamo ao Cocoricó.

O assunto volta à agenda porque caminha lado a lado com a transformação digital, acelerada também no setor de educação, mas esbarra no fato deste ser um dos setores da economia mais fragmentados neste País gigante, onde há muitas escolas, professores e alunos sem acesso adequado à internet; muitos sem computadores e smartphones que viabilizem o aprendizado eficaz; além de investimento público insuficiente e mal administrado.

A pesquisa Global Learner Survey, feita pela inglesa Pearson, uma das gigantes internacionais deste mercado, entrevistou mil brasileiros, sendo que 67% deles disseram que as instituições de ensino não estão em sintonia com as necessidades dos estudantes; e 75% avaliaram que elas são menos eficazes no uso da tecnologia do que outros setores, como o de saúde e o bancário.

Os números mostram um enorme desafio para o setor, constantemente atualizado por tendências, como a atual do ensino self-service, no qual alunos moldam o currículo conforme suas necessidades, mesclando educação formal e iniciativas de formação curtas e pontuais. Ou a do ciclo de aprendizado perene, que abandona a ideia de que há uma idade escolar para que crianças e jovens se dediquem aos estudos, substituída pela constatação de que é preciso se manter estudante por toda a vida. Esses são temas abordados no quinto capítulo do projeto especial Business Transformation, publicado nas páginas 26 a 32 e complementado por episódio em podcast — tudo com acesso aberto e facilitado pela home page do site de Meio & Mensagem.

No alto da pirâmide, o segmento avança rápido, envolve multinacionais, grandes grupos locais e altos investimentos em marketing, que fazem desta a quarta categoria de produtos e serviços que mais investiu em compra de mídia no Brasil no ano passado. De acordo com dados da Kantar Ibope Media, publicados no especial Agências & Anunciantes, que circula na semana que vem, as empresas de ensino escolar e universitário aumentaram em 18% sua verba de comunicação em 2019, ultrapassando R$ 1,2 bilhão.

Da base ao topo, é a educação que está criando agora os líderes do futuro. Um enorme desafio para um País como o Brasil, onde o estudo formal, em vez de ajudar a amenizar as desigualdades sociais, geralmente, acaba reforçando privilégios.

*Crédito da foto no topo: Piranka/ iStock

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