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Opinião

Bom senso, conexão e conteúdo

O momento pede verdade, empatia, mãos dadas, ainda que apenas metaforicamente


13 de abril de 2020 - 10h35

(Crédito: Reprodução)

Houve um tempo em que se usava muito a expressão “ética profissional”. Como se ética pudesse ser catalogada ou limitada a determinado ambiente ou esfera de nossa vida. Ética sempre foi ética, sem limites entre o pessoal e o profissional. Hoje, diante da crise que o coronavírus impôs a todos, essa lembrança me veio à cabeça enquanto pensava sobre como o bom senso, mais do que nunca, se faz necessário em cada passo que damos (ou deixamos de dar) no nosso trabalho com marcas e em outros âmbitos de nossas vidas.

Muito provavelmente, este é o momento de nossas carreiras em que mais precisamos humanizar a comunicação que fazemos. Sim, as redes sociais já haviam mostrado a quem ainda não sabia a importância da transparência e da autenticidade. Mas, em uma situação tão dramática como a que o mundo inteiro vive hoje, a imposição é ainda maior. O momento pede verdade, empatia, mãos dadas, ainda que apenas metaforicamente.

Em meio ao afã de ajudar, porém, é preciso ter cautela, bom senso. Porque uma característica do altruísmo é que ele é gratuito, não se exibe nem pede nada em troca. Mas, ao mesmo tempo, a sociedade exige que as marcas tomem atitudes e as exponham, especialmente quando as pessoas se sentem desamparadas e inseguras. Como assumir o papel social que cabe a cada empresa e comunicá-lo com a assertividade que é igualmente demandada, sem resvalar no oportunismo, é um dos grandes dilemas que encaramos hoje.

Um bom exercício nesse contexto é olhar para dentro, para os valores que cada marca representa e firmar aí o território seguro para se trabalhar, garantindo que o discurso esteja sempre alinhado à prática. Sabemos que são tempos de urgência, mas uma palavra ou ação mal interpretada não vale a pressa. Esse equilíbrio entre o ágil, mas não precipitado, e o verdadeiro, mas não forçado, parece fácil, mas não é.

Afinal, marcas representam empresas e agências, que são feitas por pessoas e nós, pessoas, eventualmente erramos, ainda mais sob forte pressão. Os erros das pessoas jurídicas, porém, tendem a ganhar uma repercussão maior. Mesmo diante da cultura do real time, ou especialmente por causa dela, vale repetir: muita calma e bom senso nesta hora.

E aqui chegamos a outro fator que ganha novas dimensões e contornos diante do cenário de quarentena que vivemos: a conexão imediata que a tecnologia nos permite ter neste momento nos aproxima, ainda que estejamos fisicamente distantes. A ameaça do coronavírus fez com que a nossa cultura digital desse um salto de uma hora para outra.

De repente, baixamos novas opções de aplicativos de videoconferências, demos uma chance à telemedicina, experimentamos de novas aulas a happy hours e visitações a museus virtuais. Sem resistências porque essas são as nossas únicas opções no momento. Sairemos da crise mais conectados pela tecnologia, mas também mais conscientes do valor insubstituível das experiências off-line. E isso tem um impacto direto na forma como a indústria da comunicação irá atuar daqui para a frente.

Por fim, para fechar um pensamento estruturado sobre as lições que esta crise traz para a nossa indústria, não posso deixar de citar a reafirmação do conteúdo e do jornalismo sério como pilar fundamental da nossa sociedade. Os veículos de comunicação derrubaram paywalls e mostraram novamente porque o que eles oferecem a todos nós, diariamente, em termos de informação e reflexão, não tem preço. Que possamos, todos, seguir aprendendo com eles.

*Crédito da foto no topo: iStock

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