Branding da simplexidade
A simplicidade e a complexidade de dar valor ao que realmente tem valor
A simplicidade e a complexidade de dar valor ao que realmente tem valor
Há um bom tempo ando intrigado com essa expressão. Sabe quando você se depara com uma coisa que te pega de um jeito e te faz incansavelmente pesquisar sobre o assunto? Corre para buscar referências, teorias, pensamentos mas, na verdade, o lugar que mais revira é dentro de você mesmo, sem perceber que está sendo revirado. Foi essa sensação que tive ao me deparar com a tal simplexidade. Não é um termo relativamente novo, mas tem caído como uma luva cada vez mais no dia a dia.
Como unir dois conceitos tão distintos e diametralmente opostos: simplicidade e complexidade? A confusão mental é instantânea, mas na verdade faz todo sentido. Simplicidade é uma das mais leves virtudes do ser humano. Ser o que se é, sem rodeios, sem duplicidades, sem pretensões. A pedra é a pedra. O mar é o mar. O vento é o vento. Tem coisa mais simples que o vento da praia no rosto no por do sol? É isso. Simples, sem exageros, sem frases prontas. Basicamente, simplicidade é o estado ou a qualidade de ser simples. Da Vinci muito sabiamente dizia que “a simplicidade é o último grau de sofisticação”. E sofisticação não só no sentido de requinte ou bom gosto, mas principalmente como um alto nível de aperfeiçoamento e complexidade.
A complexidade, como o próprio nome diz, sempre sugere algo difícil, com múltiplas variáveis que interagem entre si de diversas formas. Ou seja, a complexidade é uma ideia complexa em si mesma.
Nosso mundo nunca foi tão complexo, as pessoas estão cada vez mais ocupadas e o tempo, sinônimo de luxo. As relações humanas persistem como um grande desafio em todos os níveis. Não é à toa que uma interação como um simples gesto de um abraço ou a emoção da troca de olhares dura muito mais que uma eternidade. Parece que abre uma fenda no tempo e ficamos ali flutuando e dizendo para nós mesmos “vai, continua assim, por favor”.
Rapidamente essa sensação some. Mais um assunto e uma urgência e entramos numa espiral de pensamentos e informações de forma automática.
A simplexidade acontece justamente no meio desse caos. O caos de lidar diariamente com camadas e camadas de conteúdo, feeds infinitos de interações e pontos de vistas dos mais divergentes. Mas, ao mesmo tempo, a sensação de prazer, orgulho e dever cumprido de desatar esses nós no meio do circo pegando fogo.
Mas, apesar do caos, a simplexidade acontece também justamente no meio do silêncio. Não tem coisa mais barulhenta do que o silêncio. Essa ideia é meio paradoxal mas é a mais pura verdade. Escutar o turbilhão e a palpitação que passa nas nossas cabeças e corações é um ato de muita coragem e nos permitir a fazer isso é um presente não só para nós mesmos mas para quem está ao nosso redor. Conversar com esse silêncio nada mais é do que usar a nossa intuição e ao mesmo tempo a nossa inata habilidade vinda da capacidade de raciocínio, linguagem, introspecção e resolução de problemas.
Podemos dizer que a simplexidade é uma constante dança, da valsa ao tango dando contornos e ritmos à simplicidade e intensidade à complexidade. Goethe falava que “tudo é mais simples do que podemos imaginar e, ao mesmo tempo, mais intrincado do que poderíamos conceber”. É no meio desse jogo de luz e sombra da nossa intuição que reside uma das coisas mais complexas: o poder de síntese. Fazer a sinopse de um filme, contar um livro para alguém em dois minutos, transformar um filme publicitário de 60 para 15 segundos, desenhar uma marca ou os famosos “one-page” de planejamento estratégico.
Sempre tive fascínio por esse tipo de jornada. Ao mesmo tempo que instiga também assusta. Olha a simplexidade aí de novo. Outro dia visitei uma exposição sobre a história, jeito de ser e metodologia da Pixar e ali na parede estava um dos princípios de design que fazem dela ser o que é: “Simplexity — the art of simplifying an image down to its essence. But the complexity that you layer on top of it — in texture, design, or detail is masked by how simple the form is”. Simplificar uma imagem até a sua essência. Isso entendido deixa tudo com mais sentido e, consequentemente, com um peso maior ainda. Inclusive nosso desafio de construir marcas: a simplexidade de capturar a essência das coisas. A simplexidade de dar valor ao que realmente tem valor. A simplexidade de tornar evidente o que está na nossa frente e teimamos a enxergar. A simplexidade de conectar com verdade às pessoas. A simplexidade de olhar e sentir. A simplexidade de falar com a voz do coração.
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