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Bye, the book

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Opinião

Bye, the book

Fico impressionado como o mundo corporativo ainda não conseguiu entender o grande benefício que existe em ser mais humano


29 de janeiro de 2024 - 14h00

Este ano, o Retail’s Big Show da NRF – maior evento de varejo do mundo – contou com a presença de 40 mil participantes e seis mil marcas. Algumas empresas enviaram representantes para fazer grandes palestras, outras investiram em estandes na feira e algumas ainda organizaram seus próprios eventos complementares.

Estive lá e assisti a pelo menos 20 C-levels com o microfone na mão. “Presidents”, “VPs”, e outros “chiefs” mostraram que estão preparados para representar suas corporações em frente a multidões. Nenhum deles gaguejou, errou ou atrasou. Vi slides caprichados, discursos bem montados e vídeos corporativos bem-feitos. Com suaves diferenças nos estilos, cada um deixou sua contribuição. A CEO da Levi´s espertamente usou uma saia jeans. O CEO da Salesforce deu exemplos curiosos e criativos. A presidente da Under Armour levou uma atleta para entrevistá-la. E alguns usaram uma meia engraçadinha. Tudo seguindo conforme o script planejado por algum profissional muito experiente de comunicações daquela “senhora corporation” ali representada. Foram didáticos, informativos, concisos. 100% “by the book”.

No meio de uma programação com mais de 150 palestrantes, sobe ao palco um ex-jogador da NBA. Magic Johnson também é empresário em muitos negócios. Ele falou que é obcecado por números e que toma decisões ouvindo bons mentores. Deu algumas dicas de business, mas foi muito além disso. Johnson foi o ÚNICO apresentador que desceu do palco, abraçou pessoas, contou histórias da sua mãe, admitiu que odiava seu competidor, falou da sua fé, brincou com a dificuldade de lidar com a geração Z e deu largas risadas. Adivinha quem foi o mais aplaudido de todo o evento?

Fico impressionado como o mundo corporativo ainda não conseguiu entender o grande benefício que existe em ser mais humano. A comunicação fica muito mais impactante e a conexão mais profunda. E tenho certeza de que isso não aconteceu apenas porque ele era uma celebridade. Ao contrário, talvez seja justamente por isso que Magic Johnson consegue ir além das quadras.

Um dos palestrantes abriu a sua apresentação com um texto de 50 linhas de observações jurídicas para se proteger de eventuais processos. Uf!

“Nós da corporação XPTO nos preocupamos muito com a nossa missão e por isso criamos oito regras que ficam bonitas no PowerPoint”. Comparar os discursos dos executivos com as palavras do ex-jogador seria como colocar uma bula de remédio ao lado de uma carta de amor.

A mesma lógica vale para anúncios, notas de esclarecimento e releases. Propaganda existe para informar, mas funciona muito melhor se tocar no coração. Como diria Anthony Cafaro, designer do Google, no interessante livro Contágio: “Seja em um produto digital ou em um produto físico, você deve fazer alguma coisa que emocione as pessoas. Elas não querem sentir que estão sendo mandadas fazer alguma coisa – elas querem ser entretidas e se emocionar.”

Não sei dizer o quanto Magic Johnson é bem-sucedido no mundo dos negócios. Mas saí com a nítida convicção de que os CEOs que aprenderem a “desmarketizar” os seus discursos vão fazer mais cestas de três pontos no trabalho.

Bye, the book.

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