Calma Gama, não desanime quem vem por aí
Marcas sempre precisarão se comunicar com seus consumidores, mas agora não mais exclusivamente através de mensagens unidirecionais
Marcas sempre precisarão se comunicar com seus consumidores, mas agora não mais exclusivamente através de mensagens unidirecionais
20 de dezembro de 2017 - 18h40
Causou grande repercussão e muita discussão a entrevista concedida por Alexandre Gama ao Meio & Mensagem, publicada em 18/12/2017. O destaque para a frase “Não vejo ninguém feliz em agências” surtiu efeito. Ouvi muitos comentários divergentes sobre o assunto e por isso, resolvi opinar.
É preciso admitir, o que ele diz é a mais pura verdade, mas para o leitor mais desatento, ou para quem é de outra área ou setor, pode soar como uma espécie de “anúncio do fim dos tempos” da publicidade; algo que, justo agora em dezembro, só traz desânimo para o próximo ano que virá.
Calma, não é bem assim. Ou melhor, não é nada disso.
É fato que o mercado publicitário passa por um processo de transição e reestruturação do seu modelo de negócios. Quem trabalha nas grandes agências tradicionais deve estar um tanto inseguro. O ambiente digital e a distribuição em rede já causou efeito semelhante no mercado gráfico, fonográfico e cinematográfico. Ou mesmo no jornalismo e no setor de transporte urbano privado. Agora é a vez da publicidade, do setor financeiro e da educação.
Mas a revolução na publicidade vai mais longe. Não se trata somente da implantação de novos modelos de negócios, mas também da revisão da sua própria linguagem. O discurso utópico e idealizado da publicidade não faz mais sentido para o consumidor de hoje. É preciso uma marca mais presente no cotidiano das pessoas e que saiba construir um relacionamento com seu consumidor a partir de um posicionamento claro e transparente.
Ou seja, não se trata da morte da publicidade. Marcas sempre precisarão se comunicar com seus consumidores, mas agora não mais exclusivamente através de mensagens unidirecionais. Agora o discurso da marca chega ao consumidor de diferentes formas.
Nesse sentido, vejo novos cenários emergindo:
– Fim do domínio exclusivo do mercado por grandes grupos de publicidade para abrir oportunidade para agências menores, com discursos e modelo de negócios inovadores. Já temos excelentes agências que nasceram “digitais” e hoje brigam diretamente com as agências tradicionais e de maior porte.
– Fortalecimento das consultorias e surgimento de novos negócios como as boutiques de conteúdo, agências de reputação, startups de comunicação, plataformas sociais enfim, uma ampla gama de oportunidades para o profissional multidisciplinar, que possua não só competências diretamente relacionadas à publicidade e ao marketing, mas também expertises oriundas do jornalismo, PR, análise de dados, entre outras.
– Uma espécie de “revival” das in-house agencies, abrindo espaço dentro da própria empresa para a atuação não só do profissional de marketing, mas para uma equipe inteira formada por profissionais de diferentes frentes da comunicação.
– Além, claro, da mudança completa de paradigma em que a publicidade deixa de ter formatos claros (anúncio de meia página ou filme de 30 segundos) e passa a estar presente na vida das pessoas a partir de uma simples interação nas redes ou proporcionando uma experiência inusitada. Esse novo cenários abre um campo enorme para a criatividade.
Ver 2017 passar e anunciar grandes nomes da publicidade se aposentando ou deixando o mercado, bem como agências renomadas como a Neogama desaparecerem, pode no princípio assustar. Porém não se trata do fim, e sim de uma transição que abre caminho para uma geração que domina o novo paradigma e tem nomes como Fabiano Coura, Flavia Spinelli, Eco Moliterno, Laura Chiavone, Gabriel Borges, Pedro Reiss, Igor Puga, Roberto Martini, Gabriel Vallejo, Renata D’Avila, entre muitos outros.
Eu estive presente na abertura da exposição que Alexandre Gama realizou no Museu de Arte Brasileira da Faap e, ao relembrar tudo aquilo, posso dizer com segurança que Gama está concluindo uma etapa profissional com louvor, para trilhar outros mares abertos por sua formação e experiência em publicidade, bem como sua visão empreendedora. Ele mesmo diz que não vê futuro no modelo das grandes holdings, mas que há muito espaço novo para conquistar.
Por fim, aplaudo de pé a reaproximação recente entre a ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) e a Abap (Associação Brasileira das Agências de Publicidade), promovida por João Branco e Mário D’Andrea para fortalecer o mercado. Se há muita gente infeliz nas agências é porque a angústia é grande, e precisamos de nomes fortes para desbravar as barreiras que ainda é necessário transpor até alcançar alcançarmos todas as oportunidades que apontei aqui.
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