Cinco decisões pós-férias
Mercado demanda uma reinvenção como profissional e a vida, mais tempo para coisas úteis e satisfatórias
Mercado demanda uma reinvenção como profissional e a vida, mais tempo para coisas úteis e satisfatórias
Foram quase três semanas de pleno detox digital, com exceção da publicação de algumas fotos da viagem no Instagram e muitas mensagens trocadas com a família e com amigos no WhatsApp contando nossas atividades de férias. Confesso que vi os e-mails de vez em quando por conta de alguma urgência ou assunto importante. Ahhh, foram dois livros de papel também lidos sem pressa (Perdido em Marte e a biografia de Elon Musk). Eu e minha esposa percorremos o interior de Santa Catarina e o topo do Rio Grande do Sul, conhecendo a região dos cânions, lugares lindíssimos, comida farta e gostosa, muito chão de cascalho e sempre cercados de pessoas afáveis e simpáticas.
As férias me permitiram desacelerar brutalmente. Eu precisava disso. No final, porém, quando a minha espaçonave reentrou em órbita, ainda nos últimos dias de férias, ao olhar a tonelada de e-mails e mensagens nas redes sociais, a tendência foi me incendiar tal qual as naves que atravessam a atmosfera ao reentrarem no planeta. Sabe aquela ansiedade e a sensação de que “não quero isso de volta”? Pois é, rolou!
Esse tempo “fora do ar” me incentivou a repensar o meu trabalho. Apesar de me considerar um cara que busca fazer as coisas de forma diferente e não ter medo de deixar cair alguns pratos, eu cheguei à conclusão de que ainda não faço o suficiente. Também refleti que sou consumido por muitas coisas que merecem um downgrade na escala de prioridades. Acho que a leitura da biografia de Elon Musk ajudou um pouco nisso, apesar de que tenho zero admiração pela sua excentricidade, arrogância e desprezo que demonstra na construção de boas relações humanas. Elon Musk é o cara por trás da Tesla, Space X e Solar City. Ou, falando de outra forma, é o cara que sonha em construir carros totalmente elétricos e autônomos, montar cidades habitáveis em Marte e chegar ao clímax da energia solar e renovável, com o fim dos combustíveis de origem fóssil.
A minha reflexão me levou a duas decisões pós-férias: preciso me reinventar como profissional e preciso salvar mais tempo da minha vida fazendo coisas úteis e que me satisfaçam. A minha área de atuação, que é marketing e comunicação, está de ponta cabeça. Muitos colegas meus, de diferentes segmentos e indústrias, estão numa encruzilhada, como contou o Pyr Marcondes em seu artigo semanas atrás. Adoro marketing e comunicação e quero continuar nisso, mas tudo que fiz até agora tem pouca serventia para o meu sucesso num futuro próximo trabalhando nessa área. Hoje, trabalho com profissionais formidáveis e estou cercado de gente competente, mas preciso também me aproximar de pessoas bem diferentes de mim, que tenham pensamento e conhecimento bem distintos dos meus. Para fazer isso é necessário salvar tempo, deixando mais pratos caírem, portanto, preciso ser mais sagaz nas escolhas dos pratos.
Tomei cinco decisões que pretendo perseguir nos próximos meses:
1- Falar com estranhos
Vou desobedecer radicalmente o conselho que minha mãe me deu quando criança: vou falar com estranhos!!! Vou falar com pessoas que eu não conheço, me aproximar delas intencionalmente e que vão me provocar a ver as coisas por outro prisma. Vou limpar os preconceitos que tenho sobre determinadas coisas e exercitar isso no dia a dia através do relacionamento com pessoas que pensam e detêm conhecimento bem diferente do meu.
2- Incorporar o espírito de cientista
Vou seguir o mantra do brilhante artigo “O marqueteiro cientista“, de Adriano Araújo: adotar regularmente a experimentação para acelerar o meu aprendizado e da organização. Preciso incorporar um perfil de cientista e criar um ambiente de trabalho de laboratório, onde possamos fazer mais experimentos, testar mais coisas novas e tomar mais riscos controlados em marketing e comunicação. Essa é uma forma básica para aprender e evoluir em tempos em que tudo muda o tempo todo.
3- Soltar as amarras da organização
Eu já não sou fã do controle obsessivo, mas pretendo me desapegar ainda mais do controle e dar mais autonomia, liberdade e poder para os times que trabalham comigo. Essa é uma forma de salvar tempo diário e criar um ambiente para as pessoas tomarem mais riscos. Ainda sob esse conceito de soltar as amarras, eu gostaria de ver as pessoas que me cercam fazendo mais do item anterior, ou seja, experimentando coisas novas, errando, aprendendo nos erros, evoluindo e obcecados por inovação e performance.
4- Dizer “não sei” sem culpa e várias vezes ao dia
O ambiente corporativo, em geral, tem muita dificuldade em lidar com executivos que são transparentes ao dizer que não conhecem ou não sabem determinada coisa. Esse é um ambiente que gosta de líderes assertivos e “senhores de si”. Num ambiente de transformação e experimentação em que vive o marketing hoje, essa inibição de mostrar desconhecimento passa a ser fundamental e até crucial para motivar a organização a buscar novos caminhos. Eu não sou um cara que tem vergonha de dizer “não sei”, mas vou passar a fazer mais isso ao longo dos dias.
5- Internet free de vez em quando
Queiramos ou não, mas o mundo hiperconectado é um sugador de tempo, além de ser um fator de distração e destruidor de foco. Pretendo reorganizar o meu tempo e a atenção que dedico às mídias sociais, e-mails e WhatsApps da vida. Infelizmente, isso representará uma menor prontidão em responder as mensagens que recebo no dia a dia, ou seja, esse será um dos pratos que vou deixar cair. Desculpe, não é nada pessoal. Uma das coisas que vou testar é um dia de internet free por semana. Vamos ver se funciona.
São cinco decisões simples, mas difíceis de realizar em função do ambiente em que vivo e trabalho. Mas vou tentar, quem sabe no final do ano eu divido aqui o que aprendi na minha jornada?
Compartilhe
Veja também
A consciência é sua
Como anda o pacto que as maiores agências do País firmaram para aumentar a contratação de profissionais negros e criar ambientes corporativos mais inclusivos?
Marcas: a tênue linha entre memória e esquecimento
Tudo o que esquecemos advém do fato de estarmos operando no modo automático da existência