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Com afeto, de um eterno fã

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Opinião

Com afeto, de um eterno fã

Washington impactou praticamente a vida de todos os publicitários que decidiram entrar, se arriscar e percorrer essa carreira, diz Hugo Rodrigues


22 de outubro de 2024 - 6h00

Entrei nessa profissão porque conheci Washington Olivetto, mesmo sem ele ter me conhecido. Era 1988, e se a memória não me falha, foi numa entrevista que ele deu para o jornalista Juca Kfouri. Lembro de ler, reler, ler novamente e ficar encantado sobre como era fácil criar campanhas publicitárias inesquecíveis – isso para ele, para Washington Olivetto.

Washington impactou praticamente a vida de todos os publicitários que decidiram entrar, se arriscar e percorrer essa carreira. E foi além. Transcendeu a publicidade, virou tema de livro, de debates, de samba-enredo, de música popular brasileira. Minha relação com ele sempre foi de fã para ídolo, e meu grande sonho era poder trabalhar sob sua direção – aliás, quem não sonhava com isso? Eu colecionava campanhas históricas da sua W/ como fonte de inspiração, e quando passava em frente à agência, na Rua Novo Horizonte, 78, ou entrava para uma entrevista, rezava um pai nosso para meu anjo da guarda, pedindo para um dia ser contratado. Ou pelo menos cruzar com ele no elevador.

Estava sempre presente nos lançamentos dos seus livros, e num desses eventos, tive a oportunidade de dizer que meu sonho era trabalhar com ele. A fila era imensa, mas, com aquela sofisticação natural, aquele olhar perto e distante por trás dos óculos, ele me encarou, pegou o livro e escreveu: “Para o Hugo, nos vemos em breve”. Ele não disse nada, não prometeu nada, mas manteve meu sonho aceso, de forma simples e profunda ao mesmo tempo.

Em 2008, graças a outro grande nome do mercado publicitário, o Paulo Salles – a quem tive o orgulho de ter como chefe por quase 15 anos – eu tive o enorme prazer de ser apresentado ao Washington, pessoalmente. Na época, eu era vice-presidente de criação da Publicis, e passamos a tarde inteira juntos, na casa dele em Cap d’Antibes, no sul da França, falando sobre tudo. Na verdade, eu ouvindo sobre tudo, porque quando se tem uma chance dessas, o melhor a fazer é ouvir.

Muitos anos depois, em novembro de 2017, tive a maior honra e responsabilidade da minha vida profissional: fui convidado pelo grupo americano IPG (dono do McCann Worldgroup) para sucedê-lo na agência que tem seu nome na porta: WMcCann. Sempre faço questão de ressaltar a palavra sucessão, e de jamais usar substituição – como escrevi para ele numa conversa por zap – porque Washington é insubstituível. E continuará sendo. Assim como celebramos recentemente os 30 anos da partida de Ayrton Senna, tenho a certeza de que, daqui a 20, 30, 40 anos, continuaremos a reverenciar Washington Olivetto, afinal, o que ele fez em vida, a gente nunca esquece.

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