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Opinião

Construção estratégica de futuros exige combate ao imediatismo

Criar um amanhã mais justo, sustentável e abundante para todos exige pensamento a longo prazo, abordagens éticas e valorização de perspectivas diversas


20 de fevereiro de 2025 - 19h36

O artigo de Ian Black “Cartomantes são mais confiáveis do que futuristas”, trouxe uma provocação importante sobre o debate de futuros. De cara, cabe a pergunta: de que profissionais estamos falando quando mencionamos “futuristas”?

Para partimos de um ponto comum: os Estudos de Futuros e Foresight são essenciais para o século XXI, pois ampliam a capacidade de imaginar cenários alternativos e questionar suposições que moldam nossas decisões no presente. Iniciativas recentes como a Cátedra UNESCO em Bem-Estar Planetário e Antecipação Regenerativa e a alfabetização de futuros demonstram a importância desse campo ao promover a reflexão coletiva sobre futuros desejáveis e inclusivos, fortalecendo a imaginação e a capacidade de resposta às incertezas, preparando indivíduos e organizações para agir com mais responsabilidade e inovação diante das transformações globais.

Ao contrário do que muitos acreditam, Foresight não busca prever o futuro, mas sim moldar futuros preferíveis e/ou evitar riscos e cenários indesejados por meio de recomendações estratégicas, é um campo estruturado, utilizado por organizações públicas e privadas. Assim, serve como base para a tomada de decisões no presente. Por isso, como lembra Ian, o desafio real está “em treinar nossa percepção para captar os sinais do presente e transformá-los em ação”, algo que não se limite a especulações sem fundamento, narrativas preditivas e uma abordagem superficial do que realmente significa construir e atuar nesse campo.

Além disso, para que os futuros que estão sendo imaginados e construídos sejam sustentáveis e inclusivos, os processos de tomada de decisão devem considerar múltiplas vozes. No entanto, boa parte das metodologias e frameworks apresentados no ensino do campo de futuros (e praticadas por empresas), foi criada a partir da perspectiva do Norte Global, o que deixa de lado conhecimentos empíricos, culturais e não-ocidentais. Segundo o relatório colaborativo Culture Connectors, liderado por Amy Daroukakis e Arianna Marin  – com o qual a ALAF – Associação Latina de Futuros colabora trazendo a lente da América Latina – 90% dos relatórios de tendências publicados globalmente são baseados em percepções de apenas dez cidades do mundo.

Na ALAF entendemos que Futuros não são domínio exclusivo de futuristas profissionais ou especialistas de Foresight: eles abrangem diversas dimensões – pessoal e profissional, organizacional e governamental, planetária e universal – e são impactados por sinais vindos de diferentes áreas como política, cultura, tradições, economia, comunicação, meio ambiente, sociedade e educação. A construção do futuro exige a participação de todos e uma abordagem ética que reconheça e valorize diferentes formas de saber, incluindo perspectivas indígenas, afro-diaspóricas, comunitárias e locais.

No entanto, à medida que a área de futuros e Foresight se estabelece no Brasil e conquista credibilidade, paralelamente emerge o oportunismo e os tais “futuristas” praticantes deFuturewashing, conceito cunhado por Joice Preira, vice-presidente da ALAF, e pela pesquisadora italiana Arianna Mereu, cuja definição é  “o ato de transmitir uma falsa impressão ou fornecer informações enganosas sobre a real preparação e aptidão de uma empresa, instituição ou indivíduo em relação aos desafios de cenário(s) futuro(s). Diz respeito, inclusive, a alegações de preparação, adaptabilidade e/ou prospectiva e planejamento estratégico que são exageradas, superficiais ou totalmente falsas.” Sim Ian, concordamos com você: este tipo de “futurista charlatão” é a versão “neoliberal e cringe da astrologia”.

Existem Futuros e existem “futuristas”; existe também, infelizmente, futurewashing. Antes de ser um tempo, Futuro é um espaço, e como tal pode ser ocupado. Cabe a nós fazê-lo com novas formas de ação que sejam diferentes das promovidas pela ordem hegemônica do presente e que incorporem soluções autenticamente regenerativas.

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