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Construindo pontes possíveis

Como a publicidade pode (e deve) promover a diversidade e a inclusão de pessoas pretas


21 de novembro de 2023 - 17h18

Trabalhar dentro da indústria da comunicação e da publicidade faz com que a gente consiga ver avanços (mas também retrocessos) diários quando os assuntos são diversidade e raça.

Esses dois pontos tiveram mais abertura a partir de 2012, onde de acordo com dados de busca do Google Trends, o termo “Diversidade nas empresas” começou a ser buscado. Foi nessa mesma época que conseguimos entender nossa potência dentro do mercado e o quanto as empresas precisavam e, ainda precisam entender que possuem papéis fundamentais no quesito reparação histórica.

Estar nesses espaços, que na maioria das vezes usam e abusam de discursos de diversidade e inclusão, nos faz perceber o quanto teoria e prática ainda são coisas distantes, e que muitas vezes cabe a nós, colocar o dedo na ferida e trazer à tona pautas que ainda são desconfortáveis para quem insiste em dizer que está tudo bem.

Conectado com a atenção que as empresas começaram a ter para esse movimento, o público preto entendeu e reproduziu o termo “não me vejo, não compro”. A representatividade começou a impactar os caixas de marcas e agências que ainda não visualizaram que a população preta é grande parte do seu público consumidor.

É a partir desse momento, que vieram as “campanhas representativas” que no intuito de impactar positivamente o público preto, foram muitas vezes veiculadas representando dor, sofrimento ou então estéticas que mostravam nossos corpos como algo excludente somente presentes em campanhas com narrativas populares e pouco estudadas.

Não demorou muito para que essas campanhas começassem a ter impactos negativos diante da população preta, que obviamente questiona quem está por trás das câmeras e das estratégias de veiculação. Aí entra o momento em que falamos de inclusão e especialização de profissionais pretos dentro do mercado de trabalho, aqui em específico, citamos o mercado publicitário, do entretenimento e da comunicação que é onde nos adentramos.

Foi aí que muitos profissionais viram oportunidades para criação de consultorias, mentorias e empresas especializadas em recrutamento, seleção, cultura e criação de projetos que incluem profissionais pretos como protagonistas e estratégicos, construindo narrativas verdadeiras e que possam impactar os mais diversos públicos pretos, afinal, ainda é preciso dizer que pessoas pretas não são necessariamente periféricas, pobres ou vivem em cenários populares, dentro do elenco de vilã da novela das 21h.

Será mesmo que é tão difícil encontrar profissionais pretos qualificados? Ou será que falta um verdadeiro engajamento de marcas e empresas para fazer jus a proposta de potencializar e abrir portas para essas pessoas?

Precisamos dizer, principalmente no mês da “paciência preta” que pertencemos a diversos núcleos, temos diferentes religiões, culturas, gostos, repertórios, enfim, ainda precisamos dizer que a nossa raça é um dos elementos que nos constrói e que não devemos ser estereotipados.

Agora, acrescentamos um tópico na nossa lista de luta diária e de reconhecimento, que é trazer o mercado negro dentro do calendário anual das corporações. É sobre nos ver ocupando cargos de direção, entendendo que representatividade é sim uma ferramenta de impulsionar outros de nós e mostrar que é possível chegar lá quando existe uma responsabilidade real de aplicar diversidade e oferecer iniciativas reais de capacitação e desenvolvimento.

Somos pertencentes a agências, empresas, soluções e marcas que produzem projetos de altíssima qualidade o ano inteiro, estudamos e nos especializamos sobre muitos assuntos e falar sobre nossas dores, sobre racismo não é o nosso foco.

Nesse último ano, trabalhando com foco em mídia e comunicação para as periferias que é um outro recorte além de raça, nós já enfrentamos essa exclusão no mercado e de diversas formas.
Muitas empresas nos colocam em contato com áreas de diversidade e inclusão que muitas vezes não possuem nem um investimento financeiro. A periferia tem um potencial de consumo de 167bi ao ano. Você tem ideia do quanto esse número pode impactar a sua organização?

Hoje, vemos projetos como o da Preta Hub, fundado pela Adriana Barbosa, a agência GANA fundada por Felipe Silva e Ary Nogueira e hoje também comandado por Tatiana Marinho, vemos a Nhaí! fundada pela Raquel Virgínia que além de trabalhar com foco racial, também protagoniza o recorte LGBTQIAPN+, entre muitos outros e pensamos que se grandes empresas se aliarem 100% com essas entregas, o Brasil será milhares de vezes mais representado, com um consumo mais saudável, estratégico, diverso e eficiente.

Não basta falar sobre diversidade e não a aplicar de fato, é uma construção diária, que envolve diálogo, escuta ativa, diferentes times e áreas, mas principalmente cuidado, de verdadeiramente vestir essa camisa e transformar todas aquelas coisas lindas que vemos nas redes sociais em realidade.

É necessário abrir oportunidades, dar acesso, fazer parte da mudança exige coragem.

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