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Opinião

COP ou Copa?

A COP30 acontecerá no final do ano e pode não ser um grande evento global de futebol, mas será uma das edições mais importantes dos últimos anos


13 de janeiro de 2025 - 6h00

No final de 2025, sediaremos em Belém a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, mais conhecida como COP. Apesar do nome parecido, não confunda com Copa. Não que alguém fosse confundir de verdade. Mas pense como seria maravilhoso se, por um momento, todo mundo visse a COP como vê a Copa.

Para começar, por duas semanas, Belém seria o centro do mundo – e não somente o assunto predileto das bolhas de ativistas climáticos.

Se achassem que a COP é a Copa, teríamos um evento amplamente televisionado, com mais de 3,5 bilhões de telespectadores acompanhando cada passo até o dia da decisão final. Todos eles torcendo para o Brasil levar a melhor e dar um grande exemplo para o mundo.

Cada nação colocaria seus melhores times e estratégias em campo de forma minuciosamente pensada. E em vez de eles competirem apenas uns com os outros, iriam colaborar para ganhar, juntos, de um oponente maior e mais difícil, que está colocando todos nós em risco: o aquecimento – ou ebulição – global.

E os apoios das marcas? Seriam pensados à altura do apoio que elas têm dado às demais Copas, obviamente. Pelos corredores dos maiores prédios de São Paulo, ouviríamos profissionais de marketing dizendo “precisamos priorizar isso, este é ano de COP”. E essa frase estaria refletida em grandes verbas, na criação ou atualização de compromissos e metas, na mobilização das comunidades interna e externa, no uso consciente dos influenciadores contratados para expandir a pauta e conscientizar mais os consumidores, na revisão dos processos de produção, patrocínios e parcerias do ano, na atualização do propósito de marca e sua tangibilização em campanhas mais inovadoras e profundas. Teríamos mais de US$ 1,4 bilhão em investimentos e um ROI – que talvez seja o tipo de retorno mais importante já conquistado por uma marca.

Se existisse uma chance, mesmo que ínfima, de que todo mundo confundisse as duas coisas, entenderíamos de uma vez por todas que é melhor não contar com acréscimos ou pênaltis para chegar a qualquer resolução ambiental.

Mas a maior verdade é que a COP não será vista dessa forma. Pelo menos não sem um grande aumento no nosso engajamento, tanto como pessoas físicas, quanto jurídicas.

Não é nada pessoal, é que o cenário é duro: até o presente momento, críticos argumentaram que os compromissos assumidos pelos países não são suficientes para atender às metas de redução de emissões necessárias para limitar o aquecimento global a 1,5° C. Além disso, há possibilidade de influência dos lobbies de combustíveis fósseis e indústrias poluentes nas discussões, prejudicando a eficácia das ações climáticas.

Organizações e ativistas destacaram a necessidade de atender às vozes dos países em desenvolvimento, que são mais vulneráveis às mudanças climáticas, mas que frequentemente não têm a mesma influência nas negociações. São muitas as barreiras ainda que nos impedem de seguir como deveríamos.

O lado bom é que temos alguns meses para correr atrás do atraso. A COP30 acontecerá no final do ano e pode não ser um grande evento global de futebol, mas está cotada para ser a COP da Floresta e uma das edições mais importantes dos últimos anos. O mundo estará de olho em Belém e o jornalismo não deixará a desejar. A Globo, por exemplo, já anunciou que fará uma cobertura intensa desde a preparação do evento. Com isso, é esperado que marcas saibam estar presentes com qualidade, profundidade e responsabilidade. Mas quantas estarão realmente prontas para isso?

A COP não é a Copa. Mas, no final deste ano, cada gol poderá ser celebrado como se o futuro dependesse dele. Dessa vez, será verdade.

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